Em 2008, o português João Aguiar, aos 25 anos, trabalhava como engenheiro de produção. Em um certo momento, inspirado pelos livros de viagem que devorava há muito tempo, percebeu que era hora de realizar o sonho de conhecer o mundo com seus próprios olhos. “Ao considerar o trajeto profissional que eu seguia, vi que não teria muitas oportunidades de fazer isso se continuasse na minha carreira. Ou eu fazia a viagem naquele momento, ou não faria mais”, conta.
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Além dos livros de viagem, a vontade de ver o mundo como ele é e de expandir os horizontes alimentavam o sonho de Aguiar. O português também queria expandir sua rede de contatos profissionais. “A gente conhece muita gente em viagens, principalmente, quando nos permitimos que isso ocorra. Em uma viagem sozinho, creio que isso é ainda mais fácil”, explica.
Hoje, os 19 meses que João passou em 25 países dos cinco continentes estão relatados no livro “Os Meus Descobrimentos”. A vontade de escrever a obra, conta o português, veio em primeiro lugar da necessidade de contar e partilhar tudo o que conheceu e viveu. “Queria deixar um testemunho de como foi a viagem, das pessoas que conheci, descrever um pouco as sociedades e, claro, contar os muitos momentos de aventura que vivi.”
Aguiar diz que uma das experiências que mais o marcaram foi sua estadia em Dakar, capital do Senegal. “Fiquei na casa de alguém que sequer conheci. Enviei alguns emails para um morador local, por meio de uma rede de ‘coachsurfing’ [em que pessoas oferecem hospedagem gratuita a turistas], e perguntei se ele poderia me receber. Ele respondeu que não estaria em casa, mas que deixaria a chave com sua vizinha. Fiquei lá por cerca de duas semanas e não o vi”, lembra.
Mas nem todos os momentos marcantes foram positivos. “Um deles foi quando quebrei a perna na África do Sul. Estava em um lugar muito remoto, e um helicóptero precisou me resgatar. Precisei passar por uma cirurgia e por fisioterapia. Ficar sem andar, para alguém que estava no meio de um mochilão, foi uma grande dificuldade.”
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Segundo Aguiar, além da aventura e de conhecer novos horizontes, há outro motivo para apostar em uma viagem dos sonhos: tornar-se um profissional melhor. “No fundo, uma viagem, assim como uma empresa, é um empreendimento, pois ela permite aprender uma série de coisas que podem ser usadas na vida profissional.”
Veja, na galeria de fotos abaixo, 8 lições de viagens para aplicar nos negócios:
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iStock Gerir orçamentos
“Em qualquer negócio, é fundamental fazer um orçamento, que deve ser administrado para o ano inteiro. Na viagem, foi mais ou menos igual. Ela durou um ano e meio e eu tinha 10 mil euros. Acho que poupar é um aprendizado que pode ser utilizado no mundo dos negócios. Na viagem, poupava dinheiro com transporte, ao pedir carona e evitar o avião. Também poupava com comida e, principalmente, com hospedagem, porque ficava em casas de moradores locais que me hospedavam de graça.”
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iStock Saber se adaptar
“Conseguir se adaptar e improvisar é muito interessante para o mundo dos negócios. Na viagem, eu estava em um lugar em um dia, depois estava em outro, e cada lugar é diferente. A gente tem de se adaptar, um pouco como o camaleão, respeitar os lugares e, ao mesmo tempo, entender como a população vive. Além disso, há muitas situações em que é preciso improvisar, encontrar soluções. Isso também se aplica no mundo dos negócios, em que os mercados são voláteis, imprevisíveis e diversos.”
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iStock Saber para onde ir
“É preciso se adaptar, mas também saber para onde quer ir para não ficar à deriva. Um pensamento que eu tinha durante a viagem era que, se a gente souber para onde vai, todos nos darão passagem. Em uma situação de viagem, é simples pensar em exemplos, como na hora de pedir informações. É importante ter um senso de direção forte e saber para onde vai. Se você souber qual é a posição do seu negócio, o mercado e os clientes vão respeitá-lo.”
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iStock Arriscar
“Outra dica muito válida para a viagem e para o mundo dos negócios é arriscar. No mundo dos negócios, risco é lucro. Primeiro, é importante arriscar para conseguir ter um produto diferente. Em uma viagem dessas, na qual eu queria viver histórias, coisas novas, só iria atingir meu objetivo se arriscasse. Isso também é verdade no mundo dos negócios: é preciso arriscar, inovar, pensar em uma coisa que mais ninguém fez.”
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iStock Gerir o risco
“Por outro lado, é preciso gerir os riscos. Essa foi a primeira vez em que eu fiz uma viagem grande sozinho e, se estamos sozinho, estamos mais vulneráveis. A gente tem de saber gerir o risco. Por exemplo, se você for pegar uma carona, é bom ver em que carro vai, entender quem é o motorista. Se você for ficar na casa de alguém, em um esquema de ‘coachsurfing’, é uma boa ideia marcar um café em um lugar público para conhecer a pessoa. Uma empresa também funciona assim, principalmente, se for uma empresa que está no começo. Se o negócio tem uma ideia inovadora, que vem do risco, é preciso ter cuidados, como fazer o registro da patente, para evitar problemas.”
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iStock Estar em harmonia com o ambiente
“É sempre importante estar em harmonia com aquilo que está à nossa volta, pois só temos a ganhar. Se não respeitarmos isso, em troca, seremos desrespeitados. Em uma viagem, é bom tentar falar algumas palavras da língua local, provar a comida local e mostrar respeito. Estar em harmonia também é válido para as empresas. Por exemplo, uma multinacional que chega a um novo mercado e não se adapta, não respeita o ecossistema local e não pesquisa quais são seus concorrentes, vai se dar mal.”
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iStock Ser humilde
“É muito importante ser humilde, pois aprendemos sempre. Em uma viagem, vemos coisas novas todos os dias. Isso também vale para uma empresa que vai abrir um negócio fora ou vai conquistar novos clientes. É preciso ser humilde para entender o que cada público quer e buscar aprender com todos.”
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iStock Fazer pausas para reflexão
“Outra dica muito importante, e que a gente se permite fazer em viagens, é a reflexão. Isso porque, no fundo, em uma viagem, a gente fez uma pausa na carreira e no trabalho. Em empresas, também existem pausas, por exemplo, para fazer inventários. É bacana, durante esses intervalos, fazer uma reflexão. Quando estamos mais distantes da realidade em que operamos, conseguimos enxergar as coisas de outra forma, relativizar.”
Gerir orçamentos
“Em qualquer negócio, é fundamental fazer um orçamento, que deve ser administrado para o ano inteiro. Na viagem, foi mais ou menos igual. Ela durou um ano e meio e eu tinha 10 mil euros. Acho que poupar é um aprendizado que pode ser utilizado no mundo dos negócios. Na viagem, poupava dinheiro com transporte, ao pedir carona e evitar o avião. Também poupava com comida e, principalmente, com hospedagem, porque ficava em casas de moradores locais que me hospedavam de graça.”