Uma das maiores produtoras e empacotadoras de frutas dos Estados Unidos é a Stemilt, fundada há 60 anos por Tom Mathison em Wenatchee, Washington. Atualmente, ela é administrada pelos netos de Mathison, West e Tate Mathison, e por seu filho, Kyle Mathison.
A agroindústria de frutas, em particular a de maçãs, passou por grandes mudanças e inovações ao longo de seis décadas. Hoje, as frutas frescas ofertadas pela Stemilt e por empresas semelhantes representam uma das opções mais saudáveis e acessíveis da cadeia alimentar do norte-americano.
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De acordo com a Statista, plataforma de estatísticas, dados de mercado e análises sobre setores, o consumo per capita de maçãs frescas nos Estados Unidos variou entre 6,8 e 9,1 kg desde 2000, enquanto o de peras caiu de 1,36 kg para 1,18 kg. A família Mathison não divulga dados financeiros, mas as estimativas de mercado é que a empresa tenha faturado cerca de US$ 630 milhões em 2023.
A história da Stemilt remonta a 1893, quando a família Mathison começou a se estabelecer em Washington. Em 1914, eles plantaram um pomar de 4 hectares com maçãs, peras e cerejas. Tom Mathison, da terceira geração, assumiu a fazenda aos 21 anos, logo após retornar da Segunda Guerra Mundial, depois da morte trágica de seu pai em um acidente na fazenda.
Na época, a propriedade enfrentava dificuldades financeiras porque o sistema cooperativo de armazenamento, marketing e logística não conseguia manter a qualidade das frutas ao consumidor, resultando em retornos insuficientes para sustentar a fazenda.
Após uma decepção com uma safra de cerejas em 1958, Mathison começou a cuidar pessoalmente do manuseio pós-colheita e do empacotamento, entregando frutas de qualidade diretamente ao varejo, o que aumentou significativamente a demanda. Em 1964, Tom fundou a Stemilt Growers para ter controle total sobre o armazenamento, envio e marketing de suas frutas.
Como empacotadora e transportadora independente, a Stemilt rapidamente construiu uma forte reputação pela qualidade. Hoje, a empresa administra a produção de frutas em 8 mil hectares em Washington e Oregon, combinando terras próprias, de outros proprietários gerenciadas por uma empresa agrícola e pomares operados por outros produtores locais. A Stemilt trabalha com maçãs, cerejas, peras e entre outras frutas de caroço.
Maçãs Disponíveis o Ano Todo
Com a introdução da tecnologia de armazenamento em atmosfera controlada nos anos 1960, as maçãs deixaram de ser um produto sazonal e passaram a estar disponíveis o ano todo.
Além disso, a qualidade do armazenamento melhorou significativamente há 20 anos com a introdução da tecnologia SmartFresh, um sistema desenvolvido pela AgroFresh, empresa norte-americana especializada em tecnologias e soluções para a preservação da qualidade, frescor e vida útil de produtos agrícolas durante o armazenamento e transporte.
A inovação utiliza um composto chamado 1-MCP (1-Metilciclopropeno), que regula a maturação e envelhecimento das frutas, agindo sobre o gás etileno, um hormônio natural que controla esses processos.
Essa mudança para um fornecimento constante colocou as maçãs em concorrência direta com cultivos tropicais, como as bananas. Para competir, a indústria focou em algumas variedades, especialmente a Red Delicious, como a variedade arquetípica.
O “Alar Scare”
Em 1989, a indústria de maçãs foi gravemente impactada pelo escândalo do “Alar Scare”, quando o grupo ambientalista Natural Resources Defense Council (NRDC), uma das organizações ambientalistas mais influentes dos Estados Unidos, alegou que um regulador de crescimento usado em maçãs e outras culturas gerava um subproduto altamente cancerígeno, representando um grande risco aos consumidores.
Essas declarações foram amplificadas pela mídia, e, embora posteriormente desmentidas, a indústria sofreu perdas estimadas em US$ 100 milhões (R$ 613 milhões na cotação atual). Muitas propriedades foram à falência, e a Stemilt enfrentou um período desafiador.
Inúmeras Variedades de Maçãs
Um efeito colateral da crise causada pelo Alar foi que os participantes remanescentes da indústria abandonaram a estratégia de variedades limitadas e começaram a cultivar outras adicionais, promovendo uma saudável concorrência.
Os varejistas descobriram que valia a pena dedicar espaço para diferentes tipos de maçãs, pois os consumidores tinham preferências distintas e eram mais propensos a comprar quando suas variedades favoritas estavam disponíveis.
A Stemilt possui direitos exclusivos sobre a variedade Rave e marcas como Lil Snappers, Happi Pear e cerejas Half Mile Closer to the Moon. A empresa também tem licença para cultivar e empacotar a Cosmic Crisp, junto com outros transportadores de Washington.
Transformações na Arquitetura dos Pomares
Outra grande mudança na indústria de frutas foi a adoção de pomares de “alta densidade” ou de “baixa estatura”. Antes, as árvores frutíferas, como as macieiras, eram grandes e espaçadas entre 3 e 6 metros em fileiras separadas por até 7,5 metros.
Com o desenvolvimento de porta-enxertos anões na Europa nos anos 1950, as árvores passaram a ter de 1,5 metros a 2,4 metros de altura, permitindo plantios mais próximos e fileiras mais estreitas.
Esses pomares modernos oferecem maior segurança e eficiência na colheita, eliminando a necessidade de escadas. Além disso, em vez de esperar pelo menos cinco anos para que um novo plantio comece a produzir frutos, os agricultores podem começar a colher no terceiro ano após o plantio.
Desafios com a Mão de Obra
As colheitas de frutas exigem muita mão de obra, e as controvérsias políticas em torno das políticas de imigração prejudicaram o funcionamento do sistema H2A, necessário para fornecer essa mão de obra. O H2A é um programa do governo dos Estados Unidos que permite que empregadores agrícolas tragam trabalhadores estrangeiros temporários para suprir a demanda de mão de obra sazonal em atividades agrícolas. Ele é regulamentado pelo Departamento de Trabalho dos EUA (DOL), pelo Serviço de Cidadania e Imigração (USCIS) e pelo Departamento de Estado.
Para lidar com esse desafio, a Stemilt faz parte da Cierto Global, uma organização que oferece treinamento, habitação e um salário garantido de US$ 20/hora (R$ 122,60/hora) para os trabalhadores.
Essa relação é valorizada pelos trabalhadores temporários, e a empresa possui uma taxa de retorno de 95% dos trabalhadores que escolhem voltar aos pomares a cada temporada.
* Steven Savage é colaborador da Forbes EUA e escreve sobre tecnologias relacionadas à alimentação e agropecuária. É biólogo formado na Stanford, mestre e Ph. D em fitopatologia.
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