Até a abertura da ArtBasel, na Suíça, no último dia 17, eu gostava da ideia de feiras online, mas ao nos aproximarmos desta semana, senti uma falta imensa da presença, não apenas de ver as obras ao vivo, mas também de toda a troca mágica que o mundo da arte proporciona. As pessoas, exposições paralelas, descobrir um novo artista, os sussurros e comentários sobre tudo o que acontece, as negociações, o encontro com uma obra inesperada, o reencontro com aquele amigo que você não via há tempos, sem esquecer das surpresas apresentadas na Unlimited de Basel.
A ArtBasel na Suíça é um dos eventos mais esperados do ano para os apreciadores de arte – os trabalhos exibidos tem uma qualidade excepcional. Nas últimas semanas, quando eu me vi navegando apenas pela internet e “andando” online com os meus clientes pelos viewing rooms, desejei enormemente voltar um ano atrás e estar ali, percorrendo todos os stands, questionando e conversando sobre o trabalho, vendo as suas reais texturas e a sensação que ele te traz – muita vezes até mesmo um cheiro, som e as suas particularidades.
Como podemos recriar a experiência da arte na tela de dispositivos tecnológicos, a qual estamos conectados 24/7?
Acredito que a experiência da arte no mundo digital veio para ficar e complementar o que já conhecíamos. O virtual é capaz de abrir caminhos, atrair novas pessoas e aprofundar conhecimentos. Conversei com muitos galeristas amigos, que me disseram que o dia de maior tráfego e demanda sobre valores das obras foi o seguinte à abertura da feira, uma vez que o primeiro dia é apenas para convidados. Isso é um termômetro que mostra o interesse de pessoas que ainda não eram próximas desse universo.
Porém, precisamos recriar a nossa experiência para além do que já conhecíamos antes.
No último dia 25, a Galeria Jaqueline Martins lançou a exposição “Que Vão Que Vem” , que exibe obras recentes do artista Pedro França (Rio de Janeiro, 1984) em diálogo com obras produzidas entre as décadas 1960 e 1980 por Victor Gerhard (Santa Cruz do Sul, 1936).
Quando entrei no link fui surpreendida com o que eles criaram – uma exposição desenvolvida e instalada de forma virtual, com o auxílio de software de programação de videogames e outros recursos atuais. O espaço físico da galeria foi fielmente recriado virtualmente, permitindo aos artistas desenvolverem a exposição como se estivessem fisicamente na galeria. É uma exposição alinhada ao momento que estamos vivendo. Isso na arte me emociona!
Emoção, quer dizer, uma moção, algo que nos transporta para fora de nós mesmos e ao mesmo tempo nos conecta com o nosso eu interior. A arte possibilita que esta membrana permeável exista e, como diz Maurice Merleau-Ponty: a emoção é uma abertura efetiva.
O que virá depois? Não sabemos. Mas será que isso importa? Pensar no futuro nos tira o privilégio de contemplar o instante. Nos encontraremos por aqui todas as semanas e juntos vamos desvendando e nos surpreendendo com este labirinto. Bem-vindos!
Camila Yunes é formada em arquitetura pelo Mackenzie e pela Ecole Nationale d’Architecture Paris Val de Seine. Cursou Sotheby’s em Contemporary Art and Its Market, How the Art World Works e Foundations in History of Art. Trabalhou com sales & liaisons nas Galerias Continua e Nara Roesler e na equipe de produção da Galeria Aveline. Hoje é VIP Representative das feiras Armory Show e ARCO. Foi cofundadora do GoART Art Advising de 2015 a 2018. É a fundadora da KURA.
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