O Brasil é repleto de espaços de arte independente e também artistas com os seus diversos coletivos e projetos estimulantes. Eu adoro isso, sempre tem algo a ser explorado e conhecido. Logo no começo da quarentena os jovens artistas me vinham muito a cabeça: “Como eu poderia incentivá-los em suas produções diante de um momento adverso?”, foi então que uma amiga e colecionadora me chamou para apoiar um novo projeto que estava sendo desenvolvido: o Pivô Satélite, que compreende propostas artísticas em formatos variados, pensadas especialmente para os meios digitais. Me animei e lógico que embarquei junto com um grupo de entusiastas da arte.
Para quem não conhece, o Pivô é um espaço de arte autônomo em São Paulo, que oferece uma plataforma para a experimentação artística e o pensamento crítico de artistas, curadores, pesquisadores e público. O programa é composto por exposições, residências, palestras públicas e publicações de artistas locais e internacionais. Para mim, o Pivô é aquele lugar que nos convida para a liberdade, a troca e a experimentação. Estimula a criatividade não apenas daqueles que estão diretamente inseridos no projetos, mas os que também passam por ali – o icônico Edifício Copan, no centro de São Paulo.
Agora o que é o Pivô Satélite? É uma plataforma de comissionamento online com o objetivo de reunir um grupo consistente e plural com colaboradores convidados, seguindo critérios que levam em conta a relevância e qualidade de suas pesquisas artísticas, além da diversidade de identidades presentes no Brasil – de gênero, étnico-racial, regionalidade, contexto social e cultural. Serão 3 jovens curadores que indicarão quatro jovens artistas de diferentes regiões do Brasil para ocupar esta “sala” de projeto digital com propostas individuais, durante um mês.
A primeira curadora convidada é a Diane Lima, crítica e pesquisadora, destaco dois projetos idealizados por ela: o programa de arte-educação AfroTranscendence e a curadoria de Diálogos Ausentes do Itaú Cultural. A proposta de Diane é intitulada “O dia antes da quebra”, exposição que sugere um movimento de retorno para o que estava sendo previsto, especulado e denunciado antes da pandemia, por um grupo de artistas racializados e dissidentes.
Na semana passada tivéssemos a primeira reunião geral em que a Diane nos apresentou uma seleção fantásticas de artistas ao redor do Brasil, muitos eu não conhecia e fiquei bem surpresa. Entre eles existe uma poética transdisciplinar, uma vontade de expressão muito forte através do corpo, da música, da performance e da tecnologia.
A primeira artista é a baiana Rebeca Carapiá. Fiquei contente, pois é uma artista que eu venho acompanhando há algum tempo. Rebeca se interessa pelas relações produzidas entre a linguagem, o conflito, o corpo e o território.
No dia 24 de julho, será apresentado o projeto “Para-raios para energias confusas”, instalação composta por esculturas, vídeo e arquivo PDF. Relacionando modelagem 3D, ferro e cobre, a instalação simula em sua performance um guia de montagem como estratégia de emancipação coletiva e espiritualidade. Explorando os limites do objeto físico, Carapiá insere certa dose de humor e ironia para expor as contradições presentes entre a materialidade, a virtualidade e suas opacidades. “Para-raio para energias confusas” é uma performance em si mesmo.
Estou bastante animada e curiosa para ver o resultado de cada projeto, pois todos terão um caráter experimental. E para encerrar respondo ao título deste texto: Como ser local e global? É através de projetos assim que podemos cada vez mais disseminar a arte do Brasil para o mundo. A ideia do Pivô Satélite é ser, literalmente, um satélite e fazer com que estas exposições viagem para outras instituições fora do Brasil também.
Camila Yunes é formada em arquitetura pelo Mackenzie e pela Ecole Nationale d’Architecture Paris Val de Seine. Cursou Sotheby’s em Contemporary Art and Its Market, How the Art World Works e Foundations in History of Art. Trabalhou com sales & liaisons nas Galerias Continua e Nara Roesler e na equipe de produção da Galeria Aveline. Hoje é VIP Representative das feiras Armory Show e ARCO. Foi cofundadora do GoART Art Advising de 2015 a 2018. É a fundadora da KURA.
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