Este é um dos anos mais desafiadores da história. Os líderes, além de estarem encarando de frente várias incógnitas e indefinições, ainda precisam urgentemente encontrar respostas nos mais diversos aspectos da crise. Este momento escancara que há uma incompatibilidade entre a forma como os líderes são moldados e o que o mundo exige deles.
Roselinde Torres, consultora do The Boston Consulting Group, afirmava já em 2013 que o século XXI demanda líderes adaptáveis e que a maioria das empresas peca na hora de desenvolver este perfil. Trata-se de um perfil aberto a tendências e forças externas que podem influenciar a empresa, que possua empatia para se colocar no lugar do outro e influenciá-lo por meio de reputação e autenticidade, e não pela autoridade do cargo.
Este tipo de profissional se faz ainda mais necessário diante da crise no mundo. A liderança adaptável envolve principalmente quatro fatores:
• Antecipação de prováveis necessidades futuras, tendências e opções;
• Articulação dessas necessidades para construir compreensão coletiva e apoio para a ação;
• Adaptação para que haja aprendizado contínuo e o ajuste de respostas conforme necessário;
• Responsabilidade, incluindo máxima transparência nos processos de tomada de decisão e abertura para desafios e feedback.
Estes quatro fatores são facilmente identificados entre as empresas que mais se destacaram positivamente durante a pandemia. Ao analisar estes casos, podemos identificar cinco princípios comuns para orientar esse tipo de liderança adaptativa como resposta à crise da Covid-19.
1. Garantir aprendizagem e adaptação baseadas em evidências
Liderança adaptável significa que equipes e organizações precisam avaliar constantemente suas ações, reconhecendo que terão que repetir e adaptar continuamente suas intervenções à medida que aprendem mais sobre os resultados das decisões. Isso requer processos claros para determinar as melhores opções de ação; coletar, interpretar e agir com base nas evidências, incluindo a definição de um conjunto de medidas para determinar o sucesso ou o fracasso; assegurar a coleta contínua de dados operacionais relevantes; e estabelecendo um processo claro de como as mudanças nos dados e tendências irão desencadear mudanças na ação.
2. Teste de resistência as teorias, suposições e indefinições
Testes de estresse devem ser frequentes para lidar com crises futuras e hipóteses que orientem uma resposta adaptativa. O Boston Consulting Group, baseando-se em abordagens militares ao aprendizado estratégico, defende que as empresas estabeleçam um modelo integrado de “antecipação, inteligência e resposta” que pode sustentar a tomada de decisões de negócios. Usando essa abordagem, diferentes cenários foram desenvolvidos para uso dos setores automotivo, de moda e de bens de luxo. Esses cenários levam em consideração as incertezas críticas na situação da saúde pública, o impacto das medidas governamentais, o ambiente econômico mais amplo e as previsões de demanda específicas dos negócios, e fazem uso do monitoramento em tempo real como base para a tomada de decisões.
3. Tomada de decisão deve ser simplificada
Como os dados da Covid-19 mudam constantemente, os tomadores de decisão se sentem ameaçados. Desta forma há a tendência de fugir dos riscos para garantir um grau de segurança resultante de metas estreitamente definidas. Em geral, tomadores de decisão em diferentes níveis precisam explicar o que está sendo feito e como uma decisão foi tomada, para que, se forem identificados erros, a confiança ainda possa ser mantida no processo. Acontece que em muitos casos, menos é mais, e optar pela simplicidade garante rapidez, dinamismo e agilidade.
4. Fortalecer a transparência, inclusão e responsabilidade
Os melhores líderes adaptativos reconhecem que erros provavelmente serão cometidos neste período e que serão usados para identificar oportunidades de aprendizagem compartilhadas. A pandemia está cada vez mais sendo vista como uma maratona e não uma corrida. É vital avaliar o que aconteceu até agora, identificar prioridades estratégicas e trocar lições aprendidas. Ao reconhecer sua possibilidade de falha, os líderes criam um ambiente de franqueza, segurança psicológica e confiança mútua, vital para uma resposta eficaz à crise.
5. Mobilizar ações coletivas
A crise da Covid-19 é um problema de todos e requer mudanças nos comportamentos e incentivos e nas relações entre diferentes grupos e organizações. A liderança adaptável tem um papel crucial a desempenhar para ajudar na identificação do alinhamento compartilhado de objetivos para ação coletiva em diferentes níveis de resposta. Essas interações enriquecem o debate, são inclusivas e melhoram a apropriação das decisões.
Camila Farani é um dos “tubarões” do “Shark Tank Brasil”. É Top Voice no LinekdIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.
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