O Google acaba de lançar cursos de capacitação, com duração de seis meses, em diversas áreas tecnológicas. Não há pré-requisito de entrada, nem mesmo formação em uma universidade, e os certificados serão emitidos pela própria empresa. O objetivo da gigante de tecnologia é contratar os futuros formados em pouco tempo.
Talvez este seja o primeiro grande movimento da nova economia rumo à recriação das universidades corporativas. Lançadas no decorrer da Segunda Revolução Industrial, quando a fábrica se intensificou a partir do uso do aço, eletricidade e petróleo, esses polos educacionais visaram suprir a falta de formações mais rápidas e técnicas para operação das novas máquinas e tecnologias da época.
De lá para cá, as universidade corporativas tiveram o papel de educar e capacitar os funcionários sobre os mais diversos temas, que vão de técnicas de vendas ao uso de determinados sistemas. No Brasil, este investimento privado é historicamente baixo. De acordo com a Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD), as empresas nacionais investem cerca de 22 horas em treinamentos dos colaboradores por ano, número 38% inferior aos países mais ricos.
Todos sabemos, mesmo que intuitivamente, que o mundo está em transformação cada vez mais acelerada. Em um curto espaço de tempo, saltamos da locadora de vídeos para o filme sob demanda, da máquina fotográfica para o registro no celular, do trabalho presencial para o home office. E as novidades não param de aparecer. Se as empresas não se atentarem para a necessidade de atualização constante, há grandes riscos de serem deixadas para trás por companhias mais antenadas às inovações.
O leitor pode fazer o seguinte exercício. Entre no LinkedIn e procure vagas para desenvolvedores. As qualificações exigidas são inúmeras. Não basta ter conhecimento sobre uma ou duas linguagens de programação. Os domínios exigidos vão de SQL, Java e Phyton à HTML e MySQL. É uma verdadeira cartela de bingo que o candidato deve preencher para ser competitivo.
Agora, imagine uma graduação em Sistemas de Informação ou Ciência da Computação. Se no segundo ano o aluno aprende determinada programação, ao final do curso de quatro anos há grandes chances desse conhecimento já ter sido ultrapassado para algo mais novo.
O quadro ainda é mais grave quando olhamos para o déficit de profissionais qualificados para essas funções no Brasil. Segundo relatório da OCDE, o Brasil tem apenas 17% dos graduados formados nos cursos de ciências, tecnologia, engenharia e matemática, enquanto a média dos países mais ricos é de 24%. Em outro estudo, a Brasscom divulgou que o mercado de tecnologia nacional precisará de aproximadamente 70 mil profissionais ao ano até 2024.
A universidade corporativa deve ser repensada a partir desses novos ditames. Se há décadas ela foi importante instrumento para capacitação dos colaboradores que, muitas vezes, realizavam trabalhos repetitivos, atualmente essa educação deve ser instantânea, constante e com alto grau de inteligência.
O ressurgimento dessas escolas tem o potencial de frear a demissão de milhares de pessoas e, ao mesmo tempo, oferecer às empresas uma porta de entrada rápida às novas qualificações de um mundo mais volátil, incerto, complexo e ambíguo.
* Vitor Magnani é presidente da Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O) e do Conselho de Comércio Eletrônico da Fecomercio/SP. Professor da FIA e especialista em Relações Institucionais e Governamentais.
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