O momento presente vem desafiando a zona de conforto dos investidores. Os fundos internacionais que querem alocar recursos no Brasil começam a exigir análises e evidências das empresas nacionais comprometidas com fatores sociais e ambientais, além das boas práticas de seus modelos de governança.
Não se pretende aqui tratar de uma questão até então circunscrita em bolhas povoadas por militantes, pesquisadores, doutrinadores e intelectuais de nicho, mas sim de uma prática essencial em consolidação e requisito básico para qualquer empresa se manter relevante no longo prazo, em outras palavras, o impacto da sustentabilidade nos seus negócios.
Nada mais recorrente no vocabulário de hoje dos grandes investidores e executivos do mundo do que a sigla em inglês ESG ou ASG, em português: ambiental, social e governança. As letras representam muito bem o conceito de sustentabilidade, onde há uma intrínseca conexão dos valores dos negócios com as relações humanas e seus territórios, e ainda sendo mais direto: é a sociedade percebendo no seu entorno uma forma distinta de prosperar, que vai além do lucro.
É preciso deixar evidenciado, como bem explicitado pelo Daniel Izzo, da Vox Capital, que ESG é o meio e impacto é o fim.
Investir em negócio de impacto, via recursos ESG, tende a ser mais sustentável até porque valoriza questões ambientais, sociais e de governança corporativa. É importante evitar distorções numa análise superficial: nesse tipo de investimento não se abstrai do lucro. Pelo contrário, o lucro continua sendo a meta, porém muda-se a forma de efetivá-lo, realocando o capital para negócios justos, igualitários, equitativos, com maior responsabilidade no uso de recursos naturais e preservação do meio ambiente, por exemplo.
Outro importante fator de aceleração dos investimentos ESG é a grande demanda e preferência por parte do consumidor. Para se ter impacto é preciso ter consumo! Há uma tendência global de usuários dispostos a pagar mais para contribuir com o meio ambiente ou causas sociais. Os usuários e os seus desejos, sobretudo os millenials, começam a ter consciência, olhar para as diferenças, e prestar atenção na diversidade e na inclusão. Tal propensão é percebida em grandes negócios tradicionais, preocupados com a captação de recursos, começam a se ajustar, criando internamente ambientes de sustentabilidade para acessar novos bolsos, e externamente, contratam agências para uma nova estratégia de branding e blindagem do seu risco reputacional.
É preciso entender o tempo na percepção de um modelo de negócio que cresce em exponencial onde o foco é a tomada de decisão instantânea do consumidor. É o tempo com dimensões humanas. Negócios que geram impacto positivos devem traduzir experiências memoráveis para o consumidor.
A sustentabilidade tem o DNA humano, por isso é o novo padrão de investimento. Está na hora de dar novo significado ao seu código genético. A ferramenta que tem se encarregado dessa mudança é a tecnologia, é a precisão das plataformas digitais. Ao longo dos últimos anos, tem-se aumentado a integração da sustentabilidade na tecnologia. Nada melhor que a máxima do Peter Diamandis, da Universidade da Singularidade, quando lhe perguntam como ser bilionário atualmente: “O melhor jeito de ser bilionário é investir em negócios que impactam positivamente um bilhão de pessoas!”
O futuro é um problema social, investimento ESG é o futuro investido no presente. Arregaçar as mangas da camisa para colocar o papel do investidor privado no centro desse compromisso é o grande pacto a ser celebrado. Essa conta não será fechada somente com investimento público.
Por outro lado, tão desafiador quanto acessar investimento de longo prazo, é identificar negócios sustentáveis, resilientes e bem estruturados. Modelos de negócios transparentes e integrados com a sustentabilidade podem proporcionar melhores retornos ajustados ao risco para os investidores.
A rota do investimento sustentável é fundamental para que negócios avancem nessa direção. A jornada é longa, mas há um senso global que grita a urgência da agenda.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo a Pesquisa do Ceará.
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