Os anos de 2020 e 2021 estão causando sérios danos ao tecido social do Brasil e um retrocesso nas conquistas alcançadas no combate à pobreza nas últimas décadas.
O desafio a ser enfrentado é assegurar que se tenha uma recuperação do mercado verdadeiramente sustentável. O investimento público deve assumir a liderança nessa área, porém não haverá cobertor suficiente para se alcançar o desafio. O investimento privado será estratégico e funcionará como mola propulsora de projetos de capital, por um lado, facilitando e acelerando uma recuperação produtiva e inclusiva, por outro, contribuindo com um desenvolvimento sustentável.
A construção dessa agenda está na ordem do dia. Nada como o investimento que equilibra impacto social e ambiental positivos com retorno financeiro [ou ESG, como queira] para assumir o pilar da estratégia na prática.
Esta prática nasceu uma década atrás, mas está crescendo fortemente (atualmente, há cerca de US$ 715 bilhões em ativos gerenciado globalmente, dados da OCDE, 2020).
É preciso entender que nem todos os desafios sociais do Brasil podem ser resolvidos por meio de modelos de negócios que a principio colocam os lucros como seus principais ativos. Além disso, a grande maioria dos negócios que geram impacto social e ambiental positivos têm dificuldade em acessar o financiamento, uma vez que trabalham em problemas complexos ou usando modelos que ainda não foram verificados e que atendam às taxas de risco / retorno exigidas pelos investidores.
Assim, há uma grande oportunidade e necessidade de investimentos mais inovadores e sujeitos a riscos, a fim de:
• dar suporte na fase inicial de negócios com propósitos e habilidades sociais e ambientais de alto potencial; e,
• catalisar soluções com potencial e capacidade de transformação sistêmica.
As empresas são agentes criativos de alto impacto, com capacidade única de inovar, mobilizar recursos e soluções de escala. Para a recuperação do mercado, de modo mais inclusivo e produtivo, é necessário que as empresas adotem novos comportamentos e atitudes muito além das práticas tradicionais de responsabilidade social corporativa.
A experiência internacional mostra que as empresas podem ser agentes eficazes de transformação por meio de diversos posicionamentos entre seus investimentos e os seus negócios.
Neste contexto, a Latimpacto – rede latino-americana de investidores que conecta e mobiliza capital (humano, intelectual e financeiro), comprometida em promover impacto socioambiental positivo – lança o estudo: INVESTIMENTO SOCIAL E IMPACTO: casos e tendências na América Latina.
O estudo documenta como fundos de investimentos de impacto, fundações, universidades, empresas, family offices e intermediários implementam seus investimentos. São apresentados 37 casos selecionados [sendo 10 do Brasil] entre 120 identificados pelos consultores que realizaram a pesquisa, com o apoio de 12 especialistas internacionais. Sustentabilidade financeira, inovação, e potencial foram alguns dos critérios levados em consideração para a seleção.
A Plataforma Parceiros Pela Amazônia – PPA é um dos casos selecionados.Trata-se de uma aceleradora e investidora em negócios de impacto, que busca solucionar os principais desafios socioambientais da floresta. O programa fornece uma combinação inovadora de investimentos híbridos com recursos filantrópicos e capital privado (blended finance).
A PPA foi criada em 2017, reunindo diversos atores regionais e internacionais que acreditam no protagonismo do setor privado para soluções na Amazônia. A principal diferença em relação a outras organizações locais passa pelo objetivo de se buscar oportunidades de investimento em negócios com fins lucrativos, não o financiamento de ONGs ou projetos de advocacy.
A cereja do bolo é o impacto gerado pela PPA, basta anotar:
• US$ 1,6 milhão investidos em 12 negócios;
• US$ 24 mil em prêmios para 8 negócios;
• 30 negócios locais acelerados;
• 837 mil hectares de floresta preservados ou restaurados.
O caso PPA retrata bem o cenário atual onde o investir em negócios de impacto requer uma mudança de mentalidade que exige comprometimento e paciência. É uma oportunidade de usar práticas e mecanismos com uma abordagem de também gerar benefícios social e ambiental positivos. Por isso, é fundamental manter o foco no objetivo e estar convicto da relevância do propósito que se pretende atingir no longo prazo.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S. A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo a Pesquisa do Ceará.
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