Dedicar-me-ei hoje (não sou o Temer, mas adoro uma mesóclise) a um conteúdo que passa a perna até nos mais estudados falantes da nossa inculta e bela língua, o pleonasmo. Mas não tratarei aqui do óbvio ululante, como dizia o saudoso Nelson Rodrigues. O que me interessa, leitor, é aquilo que ninguém percebe, que poucos veem.
Comecemos com a expressão certeza absoluta. Fico imaginando qual certeza não seria absoluta… Ora, lê-se no Pai dos Burros: “Qualidade do que é certo, conhecimento exato”. Logo, se é certeza, é absoluta. Não se tem mais ou menos certeza. Esse mesmo caso ocorre com pilar de sustentação. “Ela é o pilar de sustentação da família.” Que lindo… Só que todo pilar sustenta, leitor. Todo. Deve-se dizer apenas que ela é o pilar da família. E ponto.
Um seguidor chegou a questionar no meu Instagram: “Na arquitetura, usamos pilares decorativos, que não sustentam nadica de nada.” O.k., mas o incauto seguidor deveria saber que sustentar é fator determinante para que se chame algo de pilar, afinal, este faz parte da estrutura de uma obra, ou seja, ele sustenta. Detalhes linguísticos, leitor. Detalhes linguísticos.
Falando em detalhes, Roberto Carlos que me perdoe, mas detalhes pequenos também é pleonasmo. Ou alguém aí já viu um detalhe grande? Nessa mesma família, está o vergonhoso elo de ligação. Há, por acaso, nesta vida, elo que não ligue, meu Deus? Leitor, você há de concordar comigo: já passou da hora de nos atentarmos para a nossa língua, que tanto nos faz passar vergonha por aí. Encaremos, pois, essa realidade de frente. Ops! Encarar de frente? Mais um pleonasmo para a sua lista.
Até semana que vem.
Cíntia Chagas é uma professora que sempre leva humor e conhecimento ao público. Escritora de dois best-sellers da editora HarperCollins, ela coleciona milhares de alunos nos cursos virtuais que ministra. Palestrante e instagrammer, provou que irreverência, humor e educação podem e devem andar juntos.
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