Desde a adolescência, você ouviu das suas professoras de português: “O verbo haver, no sentido de existir, não vai para o plural”. Entretanto, ainda que essa bendita regra tenha ecoado na sua cabeça por anos, talvez hoje, depois de velho, ela não passe de uma reminiscência para você. Mas eis que aqui estou eu, para desengavetar os recônditos da sua memória gramatical.
A maior parte das pessoas erra no que diz respeito ao verbo haver por uma simples razão: elas não sabem o motivo pelo qual ele não pode ser flexionado. E a explicação é muuuuuuito (com vogal de insistência sim) simples. O verbo em questão não vai para o plural simplesmente porque não há sujeito que “force” a concordância. Trata-se de uma oração sem sujeito, filho de Deus.
Vixe… Ainda não entendeu? Bem, se a sua ficha não caiu, é sinal de que lhe falta um conceito gramatical básico: apenas o sujeito é capaz de modificar (passar do singular para o plural e vice-versa) um verbo. Por exemplo, na frase “Os executivos saíram cedo.”, o verbo está no plural porque o sujeito também está. Mas, se este viesse no singular, o verbo também passaria para o singular. Simples assim.
Agora pergunto-lhe: onde está o sujeito em “Havia motivos para comemorar”? Não achou? Pois é… Ele não existe. E, não ocorrendo sujeito, não ocorre flexão. O verbo fica ali, quietinho, no singular, que é a forma natural, primária dele. Logo, “Havia muitas pessoas na palestra.”, “Há trezentos funcionários na empresa.”, “Houve problemas na reunião”. Pegou o fio da meada, leitor? Espero que sim, afinal, haverá muitas regras ainda para desengavetarmos.
Até semana que vem!
Cíntia Chagas é uma professora que sempre leva humor e conhecimento ao público. Escritora de dois best-sellers da editora HarperCollins, ela coleciona milhares de alunos nos cursos virtuais que ministra. Palestrante e instagrammer, provou que irreverência, humor e educação podem e devem andar juntos.
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