Eu poderia ter usado o termo diversidade no lugar de pluralidade, mas não gosto do termo diversidade, porque ele parte do princípio de que para existir o “diverso”, existe o “padrão”. A pluralidade não leva em consideração um padrão, mas sim todas as maneiras de ser; ou melhor: a pluralidade valida o que você é, o que você conquistou e o que você acredita. Essa pluralidade vem sendo “o assunto” dentro do RH das corporações e precisa ser motivo de atenção no seu negócio também, caríssima, seja ele pequeno, micro, médio, grande ou imenso. Cada etapa do seu caminho é digna dessa responsabilidade e eu estou aqui para desmistificar essa atitude, trazendo os inúmeros pontos positivos. Então, vamos lá: cinco etapas para trazer pluralidade à sua vida.
1- Faça o teste da foto do Zoom – aproveite que a pandemia instaurou o Zoom (ou qualquer outro app de reunião) na sua vida, tire uma foto e analise a sua equipe: são pessoas iguais a você? Mesma origem? Mesmas instituições de ensino? Mesmo estilo familiar, peso, idade, raça, gênero? Se a resposta for sim, você está com um problema grave! Vamos resolver?
2- Autoavaliação gentil – neste momento, é importante que você seja muito gentil com as limitações que a estrutura social te colocou, afinal você é uma privilegiada e isso hoje é xingamento! Mas, se você para, pensa e enumera seus privilégios e decide que vai usá-los para mexer nas estruturas injustas da sociedade, aí, sim, você chegou ao século 21. Importante você ler diversos livros que falem sobre privilégio de classe, mas aqui eu já vou te dar material para reflexão. Se a população negra sofre com o racismo estrutural, nós é que os colocamos nesse lugar; sofremos a naturalização de uma perversidade imensa com relação ao outro que não ocupa o mesmo lugar social que nós. Não diga que você não tem a ver com seu tataravô escravocrata. Você tem, sim. É a sua linhagem e o que eu te proponho é quebrar o padrão e construir uma nova atitude para seus descendentes herdarem.
A boa notícia é que você pode implodir tudo isso. Primeiro se livre do termo “lugar social”, se liberte da crença de que no Brasil “somos todos iguais” e faça uma análise real, verdadeira e honesta de onde estão posicionadas as pessoas pretas na sua vida. Onde estão as pessoas trans? Onde estão as pessoas gordas? E aspessoas mais velhas? E os PCDs? Vai ser um baque, eu sei, você constatar que seu recorte de mundo é o mesmo de uma comanda de bar, marcada com a bebida que você mais gosta. Você não dá espaço e nem olha para o que é distinto do que você aprendeu como certo. Até agora, no seu inconsciente, o lugar das pessoas pretas é te servindo, as gordas recebem apelidos e são tidas como preguiçosas, as mais velhas são as chatas, as trans são perigosas e as PCDs deveriam ficar em casa, já que não tem mobilidade. Perdoe-se diante de uma verdade tão aterradora. Entenda o mundo perverso que te engloba e faça a sua escolha: você vai quebrar essa estrutura ou não?
3- Quebrando a estrutura – uma vez escolhendo quebrar a estrutura, você será obrigada a analisar, profundamente, suas amizades, lugares que frequenta e equipe que trabalha. Seu incômodo será imenso quando perceber, de maneira consciente, que o mundo em que habitas é branco, heterossexual, cis e com mobilidade. Isso não é padrão. Isso é exclusão. Você jamais se sentirá confortável em lugares onde os negros servem e os brancos se divertem; em lugares onde as trans são tratadas como eventos e não com humanidade; em lugares que as pessoas PCDs não conseguem acessar ou lugares que não tenham mulheres com poder de voz. Você não terá desconforto, mas pavor. Você vai tocar, concretamente, na hipocrisia mediana. Uma vez consciente, você jamais vai se libertar desse incômodo e a sua cegueira será passado. Tolerar viver neste “pequeno mundo” de poder será impossível. Não quer dizer romper com esse mundo, mas identificá-lo, mapeá-lo e entender que é necessário que você crie suas pontes. E assim também será com a sua equipe. Os próximos lugares profissionais que você for escolher, você já vai procurar dentro do recorte de raça, escolha própria de gênero e mobilidade.
4- Recebendo o talento – ao selecionar os novos talentos, compreenda que talvez o nível de inglês ou a universidade tida como melhor não estarão nos currículos, mas é fundamental que você analise de onde a pessoa partiu, onde ela chegou e quais são suas habilidades. Baixe o “sarrafo colonizador” que te disseram que era o correto, faça a sua regra para selecionar suas novas parcerias de equipe e busque frequentar e conhecer novas pessoas. Siga pessoas plurais nas suas redes sociais. Busque a construção do seu próprio algoritmo, não permitindo que sua mente e visão sejam encarceradas num mundo que passou, já foi e não voltará mais.
5- Um mundo plural – para construir um mundo com pluralidade é importante que você não dê voz a uma pessoa só. Se tem uma mulher negra, tem que ter outra; trans, PCD e assim por diante. É uma construção. O caldo só engrossa quando seus novos pares se sentirem fortes e com um mínimo de conforto para se colocarem, somarem e trazerem suas experiências, inteligências e visões de mundo. É aí que a pluralidade te trará não só um mundo mais justo, mas também divertido e original.
Se eu não te convenci com esses cinco pontos, lá vai o último e derradeiro argumento: a pluralidade te trará um lucro maior; o que num mundo capitalista é o suficiente para que machistas, racistas e transfóbicos busquem suas “desconstruções”. Pode até ser carregado de hipocrisia, mas que tenham como consequência a democratização dos espaços de poder. O grande senhor do mercado, fechado na sua sala de reuniões, com seus pares iguais, é passado e está mofado.
Sororidade sempre.
Suzana Pires.
Primeira atriz também autora de novelas do Brasil, a empresária e empreendedora social Suzana Pires é formada em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ), em showrunner na MediaXchange, em Los Angeles, e em empreendedorismo pelo Empretec Sebrae SP. Depois que começou a escrever a coluna Dona De Si, em 2017, surgiu a ideia de criar o Instituto Dona De Si, com o principal objetivo de acelerar talentos femininos. Atualmente, segue como atriz na Rede Globo de Televisão e como autora cria projetos para players nacionais e internacionais através da marca Dona De Si Conteúdos.
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