Se você é homem e está lendo a Forbes, eu imagino que você seja um cara bem-sucedido ou esteja construindo uma trajetória para alcançar o sucesso. É com você mesmo que queria falar. Tudo bem? Meu nome é Suzana Pires, sou feminista, mas, antes, humanista. Você, como ser humano, me interessa, porque para esse mundo melhorar a sua justiça, é necessário que você entenda a construção rígida da sua persona.
A sua distância das questões afetivas da sua vida é uma prova viva, a maneira que você lida com seus problemas – permanecendo caladão e socando um saco de boxe – podem te levar a um ataque cardíaco cedo, fora de hora, inesperado. A organização patriarcal do mundo não alienou somente as mulheres e pessoas pretas do poder, mas você também, te levando a se comportar de uma maneira que fragiliza não só seu físico, mas sua capacidade de relacionamento com todos os tipos de gente. Seus preconceitos também colaboram para as suas veias entupidas, não só a churrascaria do almoço com seus brothers. Com esse comportamento e crença você se tornou um homem refém de si.
Mas estou aqui para te colocar uma pulga atrás da orelha, para que você possa começar a questionar o lugar robótico da sua masculinidade e o quanto isso vem te fazendo mal. Existe uma nova maneira de você ser e que vai te fazer ter, com mais satisfação. Poder e status não serão abalados, mas como você consome isso, sim. Quer se tornar um homem dono de si? É bem prático e abaixo eu listo os cinco passos:
Consciência da sua origem: lembrando da sua infância, você vai identificar os momentos, as ações e crenças que moldaram todos os seus preconceitos, porque você não nasceu se sentindo superior a ninguém, não nasceu odiando nenhum outro ser humano. Você nasceu você. O meio te moldou. E não, seu pai não é o vilão dessa história. Talvez seu pentatataravô, há mais de mil anos, que tenha começado tudo isso quando chamava mulheres de bruxas e as queimava em fogueiras ou quando escravizava pessoas. A história está aí. Ela é a nossa origem e precisamos ter consciência disso. Mas, por favor, não leve para o lado pessoal, do seu pai, seus tios, seus avôs e também da sua mãe. Todos eles estavam dentro de uma caixa de regras e crenças limitantes. Você, que é um homem adulto agora, pode mudar o andamento das suas crenças familiares e construir um novo futuro para seus filhos, netos e netas. Você não estará sozinho neste exercício, já que milhares de homens se dizem traumatizados por terem sofrido pressão na infância para fazer algum tipo de demonstração de sua masculinidade, como ignorar as próprias emoções e menosprezar mulheres. Agora que você entendeu sua origem, vamos identificar seus padrões.
Identificação dos padrões impostos: Todas, absolutamente, todas as crenças que você tem sobre o que é ser homem estão abaladas, porque não se sustentam mais no mundo de hoje. E que crenças são essas? A de que para ser homem com H maiúsculo você deve: diminuir a inteligência das mulheres, lidar com as mulheres como se elas existissem somente para te dar prazer, jamais chorar, prender toda emoção que te fragilize dentro de você, só demonstrar emoções de força, raiva e determinação; ser o macho provedor, não aceitar ser parceiro da sua esposa, mas chamá-la de “polícia”; acreditar que serviços domésticos são muito pequenos para serem feitos por você; trabalhar muito e não prestar atenção aos seus filhos; humilhar e subalternizar pessoas negras; atacar transexuais e não respeitar pessoas PCDs. Lendo assim parece que você é um monstro, né? Pois, é. Eu sei que não. Eu sei que dentro desse macho que conta euros, rico e fálico, existe uma pessoa que não quer viver no passado no seu próprio presente. E como você muda? Questionando os padrões acima.
Questionar os padrões: a psicologia tem um ótimo exercício para quebra de padrões emocionais. Trata-se de identificar quando o padrão te pega, mas reagir de modo contrário, tornando-se assim um homem dono de si, dos seus próprios instintos. Exemplo: não quero saber desse negócio de diversidade na minha empresa, isso é um saco! E se você reagir diferente, questionando o antigo padrão: por que na minha empresa só tem homem, branco, heterossexual, sem tatuagem aparente, cabelo bem cortado e aparência de macho alpha? Será que só essas pessoas são talentosas? Pode ser interessante conhecer novos talentos, pessoalmente: uma mulher competente, uma mulher negra das finanças e da tecnologia, uma trans gestora, uma PCD brilhante. Conheça-as e lembre-se de também mudar seu olhar para cada uma delas: não as imagine sem roupa e, por favor, não analise seus corpos. Depois dessa vivência, você estará pronto para a nova colocação na vida.
Recolocação: você começará a ver valor em pessoas que você jamais percebeu a existência; aliás, você vai se sentir mais leve porque seu ego não estará tão inflado quanto antes. Sua vaidade não será ganha por migalhas, mas por grandes feitos, fazendo você e todos ao seu redor te respeitarem de maneira que nunca aconteceu: verdadeira, sem medo. Seu casamento vai ficar mais feliz se você escutar mais sua esposa e entender que a escolheu como companheira de vida. Vai por mim: o tesão voltará com força total. Seus filhos terão um pai que dá suas lições na sua maneira de ver o mundo e cria seres humanos de valor; sejam eles gays, trans, héteros, gordos, magros, etc. Será nítida a mudança, você estará se salvando do sequestro que a misoginia, o machismo e o racismo estrutural fizeram com você. Veja o dia ao sair desse cubículo escuro e limitado. E curta muito o novo homem que você é.
Um novo homem: lucrando muito mais, dentro do Zeitgeist do tempo, sendo muito mais admirado pela equipe, com uma liderança poderosa, uma paternidade amorosa e um casamento feliz, porque assim você escolheu. Seja bem-vindo a sua nova vida: a vida de um verdadeiro dono de si!
Com todo meu carinho,
Suzana Pires.
Primeira atriz também autora de novelas do Brasil, a empresária e empreendedora social Suzana Pires é formada em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ), em showrunner na MediaXchange, em Los Angeles, e em empreendedorismo pelo Empretec Sebrae SP. Depois que começou a escrever a coluna Dona De Si, em 2017, surgiu a ideia de criar o Instituto Dona De Si, com o principal objetivo de acelerar talentos femininos. Atualmente, segue como atriz na Rede Globo de Televisão e como autora cria projetos para players nacionais e internacionais através da marca Dona De Si Conteúdos.
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