No começo da pandemia da Covid-19 um dos muitos setores que entrou em crise foi o dos eventos esportivos. Foram meses sem jogos de futebol ou de qualquer natureza, e com o automobilismo não foi diferente. A primeira corrida da temporada 2020 da Fórmula 1 foi suspensa quando o GP da Austrália já estava pronto para acontecer, em março do ano passado. Já a segunda etapa do WRC (World Rally Championship) aconteceu mas teve que ser encerrada um dia antes, no sábado, já que a organização decidiu evitar que pilotos, navegadores e equipes tivessem problemas para voltar do México para seus respectivos países.
Da mesma maneira, o cenário automobilístico no Brasil foi impactado. A Stock Car, principal categoria nacional e a mais importante da América do Sul, só conseguiu dar início à temporada no dia 25 de julho. No entanto, ainda em 2020, uma série de mudanças importantes, começando pela contratação de um novo vice-presidente comercial e de marketing, Fernando Julianelli, que meses depois viria se tornar o CEO da Vicar, organizadora da Stock Car, causaram uma reviravolta na categoria.
E 2021 já começou com a volta das transmissões de corridas na televisão aberta, na TV Bandeirantes, além da abertura de sinal internacional pelo mototorsport.com, com equipes de comentaristas transmitindo em inglês e russo, algo inédito nos 43 anos de história na Stock Car. O anúncio do aumento de visibilidade foi um incentivo importante para que grandes marcas investissem ou ampliassem seus investimentos na categoria nacional que, consequentemente, não só conseguiu passar pela crise como também evoluiu de forma importante em um ano cheio de incertezas, não só no cenário político e econômico do país, mas com um detalhe muito importante, sem ninguém saber precisar ao certo quando o público poderá voltar às arquibancadas de estádios e autódromos.
Entretanto, mesmo sem o público presente, o clima durante as corridas é muito mais positivo que em 2020, com um calendário que está podendo ser cumprido, marcas recebendo o retorno esperado dos seus investimentos e um grid praticamente lotado, com 32 carros, oito a mais que no ano anterior. Contudo, o número de pilotos e a vinda de grandes nomes de peso como Felipe Massa e Tony Kanaan, não são as únicas novidades positivas na Stock Car, mas, sim, a chegada de novas marcas. Em 2020, 13 eram as empresas que patrocinavam a categoria, e atualmente, o total já é de 22. A Claro, o banco BRB, Motorola, Qualcomm, Prevent Senior, Axalta, SKF, Mangels são alguns dos novos nomes que têm estampado as placas nos circuitos Brasil afora em 2021, durante as seis etapas que já foram realizadas com êxito até agora.
Mas, se por um lado algumas marcas decidiram investir no automobilismo brasileiro, outras que já estavam presentes no grid de investimentos, tiveram um papel importantíssimo para a maior categoria nacional se manter de pé. Isso porque continuaram injetando capital mesmo enfrentando grandes desafios em seus respectivos setores, como é o caso das petrolíferas, que sofreram um grande impacto como consequência do confinamento da população, diminuindo significantemente o consumo de combustíveis e derivados.
A BR Distribuidora, que está na Stock Car desde 2005 e fornece os lubrificantes e gasolina da competição até hoje, é um desses exemplos. “A conexão com a categoria ocorreu de forma orgânica pela sinergia que os nossos negócios têm”, explicou Leonardo Burgos, diretor de desenvolvimento de negócios e marketing da BR Distribuidora. A empresa entrou em um primeiro momento como patrocinadora da categoria e em 2020 decidiu abrir outras frentes no automobilismo, patrocinando o piloto Júlio Campos.
“A parceria com o Júlio foi tão boa que decidimos que ainda era pouco e pensamos em patrocinar uma equipe, ter os naming rights e tudo mais”, comentou Burgos. E em 2021 o projeto se concretizou e surgiu uma nova equipe na Stock, a Lubrax Podium Stock Car Team, com um novo companheiro para Júlio, o ex-piloto de Fórmula 1 Felipe Massa, e dois carros levando as cores da empresa, o verde e amarelo, pelos circuitos Brasil afora.
E, apesar de não contar ainda com nenhum título, a BR Distribuidora celebra a parceria com a categoria, com a certeza de que os objetivos comerciais, como exposição de marca, relacionamento com clientes e funcionários, e ampliação de vendas, principalmente do mix de aditivados, que tem um público-alvo específico e que coincide com o da Stock Car, estão sendo alcançados. “Os investimentos na categoria aumentaram de forma significativa”, arrematou Leonardo ao lembrar que além de patrocinar a competição e ter uma equipe, a empresa ainda é patrocinadora das transmissões da SporTV e da TV Bandeirantes atualmente.
Outra marca que decidiu investir no automobilismo em meio à pandemia foi a Universal, empresa que atua com after market de peças de reposição para veículos leves e pesados, há 45 anos no Brasil. “Em 2020, decidimos investir pela primeira vez em uma estratégia de marketing e escolhemos a Copa Truck por ter tudo a ver com a Universal”, disse André Belfort, CEO da empresa desde 2019. André explicou ainda que a empresa investiu um valor aproximado de R$ 500 mil no patrocínio do piloto Beto Monteiro na competição nacional de caminhões na temporada passada.
Os resultados foram muito satisfatórios, o que levou a marca a antecipar os planos que originalmente eram para 2022, de entrar na Stock Car, através do patrocínio da equipe Crown Racing, da qual fazem parte Beto Monteiro e Cacá Bueno. “Chegamos em 2021 com um pacote de investimento na casa dos R$ 3 milhões que envolve além dos investimentos nas equipes, também todos os projetos de ativação de marca”, contou Andre, explicando que a Universal também contratou três lendas do automobilismo, Ingo Hoffman, Paulo Gomes e Chico Serra que, juntos, somam 19 títulos da Stock Car, para serem embaixadores da empresa durante a temporada 2021.
Mesmo com um futuro incerto, muitas empresas estão optando por viver o presente, investindo em projetos e, muitas vezes, colhendo bons frutos. E o automobilismo nacional agradece.
Letícia Datena é jornalista de esportes há oito anos, e atua no setor do automobilismo desde 2016. Já foi correspondente internacional dos canais Fox Sports e cobriu alguns dos campeonatos mais importantes do mundo, como o Rally Dakar, Rally dos Sertões, o WRC (World Rally Championship), Fórmula E e hoje é uma das responsáveis pelo departamento de criação de conteúdo da Stock Car.
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