Disrupção é a senha da inovação com impacto em largo espectro. Isso o mercado brasileiro já assimilou e vivencia com a proliferação das startups na nossa cena empreendedora.
Mas, antes de chegar a US$ 1 bilhão e se tornar um unicórnio, por exemplo, qualquer negócio com crescimento acelerado e capacidade de transformar a sociedade precisa ser capaz de acessar capital intelectual e financeiro – e quando falamos em dinheiro, também vemos um caminho de transformação acontecendo aí.
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A disrupção aqui começa a se popularizar com as Spacs, da sigla em inglês Special Purpose Acquisition Companies, que viraram febre nos Estados Unidos. São as chamadas ‘cheques em branco’, empresas de sociedade anônima criadas para abrir o capital de outras empresas sem passar pelo processo tradicional de oferta pública inicial (IPO). Essas companhias não têm produto nem funcionários e, sim, a confiança dos investidores de que os seus gestores terão condições de apostar em operações com potencial de gerar lucro via IPO.
No site da Nasdaq, a bolsa de ações de tecnologia, o lançamento das Spacs é festejado como os IPOs tradicionais. Em 2021, até julho, o segmento representou 59% do total. Foram 548 Spacs de 2010 a 2021, que somaram US$ 121 bilhões. O número de fusões nesta modalidade esse ano mais do que dobrou os totais anuais de 2020, segundo dados do CB Insights.
No mercado norte-americano, startups de saúde são as campeãs no destino das Spacs. O motivo é a pandemia, a demanda por cuidados, a pressão sobre o sistema de saúde, os custos e a busca de mais e mais potenciais clientes. Também segmentos de ESG ganham lugar no radar dos gestores dos fundos.
Estes fundos estão literalmente voando nos EUA. Porém, não são instrumentos novos. A consultoria PwC se debruçou no percurso dos ‘blank check’. Nos anos de 1980 e 1990, o que se via ainda era muita fragilidade no uso por falta de regulação, o que gerava incerteza. Ocorreram ajustes nos anos 2000 para gerar mais proteção aos investidores, mas o brilho dos IPOs convencionais ainda ofuscava as Spacs.
Até que, desde 2017, a onda virou, com média anual de US$ 2 bilhões de 2017 a 2019. Veio 2020, a pandemia, e um aumento significativo nas Spacs. No ano passado, o volume ultrapassou US$ 80 bilhões. Este ano, até julho, foram 345 operações de Spacs na Nasdaq, movimentando mais de US$ 100 bilhões.
As Spacs ganharam força desde que iniciou a pandemia, já que muitas companhias tiveram que buscar novos caminhos para sair da crise gerada pela Covid-19. Entre as vantagens deste instrumento está o fato de a empresa poder abrir rapidamente seu capital, e sem grande parte da volatilidade associada a um IPO tradicional. Já os investidores têm acesso a investimentos e retornos com risco mais limitado.
O prazo de oferta pública de ações também é mais curto que nos IPOs convencionais. Mas, até mesmo por isso, é importante preparação para atuar como empresa pública em poucos meses, pois o ritmo é acelerado depois da assinatura da carta de intenções. Também é fundamental ter atenção constante para o desempenho das Spacs e, no caso dos investidores, para a qualidade dos gestores de entregarem os resultados pretendidos.
A verdade é que os empreendedores de negócios disruptivos também precisam ter acesso a modelos de acesso à capital diferenciado. E as Spacs surgem como uma alternativa, inclusive, de aumentar a capilaridade, trazendo mais pessoas para o mundo de venture capital.
O Brasil ainda não tem regulamentação para as Spacs, mas devemos caminhar nessa direção, buscando regras que aportem segurança, mas sem abrir mão de características que impulsionam esse instrumento.
Camila Farani é um dos “tubarões” do “Shark Tank Brasil”. É Top Voice no LinkedIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.
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