A explosão de IPOs e de exits no Brasil tem chamado a sua atenção nos últimos meses? O aquecimento do mercado é uma realidade contundente, resultado do cenário macroeconômico, pandêmico e também do amadurecimento do nosso ecossistema de inovação. Vamos olhar para os volumes de financiamento de startups na América Latina: US$ 7,2 bilhões no segundo trimestre de 2021. E um crescimento de 107% nas saídas totais. No Brasil, os aportes praticamente triplicaram no período, alcançando US$ 4,6 bilhões, como podemos ver acompanhando os dados da CB Insights.
Quem achou que a Covid-19 iria frear o apetite dos capitalistas de risco, errou feio. Depois de alguns meses em 2020 observando o mercado, e um pouco retraídos, os investidores logo retomaram, e com força. O resultado? Um dos anos mais difíceis da nossa história recente acabou sendo também o segundo maior ano para o capital de risco da história, com um total de US$ 141,9 bilhões investidos, segundo os dados da Crunchbase da EY. Só perdeu para 2018.
Os volumes de IPO globais do primeiro trimestre de 2021 tiveram um incremento de 85%, com as receitas crescendo 271% na comparação com o ano passado. Os primeiros três meses de 2021 foram os melhores em 20 anos. A liquidez do mercado e as oportunidades que surgiram com a pandemia, definitivamente, atraíram os investidores. No Brasil, levantamento da EY evidencia que a atividade de IPO do Brasil segue crescendo. No primeiro trimestre de 2021, foram 15 IPOs, levantando US$ 3,5 bilhões.
A verdade é que o mercado de investimento de risco tem mudado muito nos últimos anos. Quando eu comecei como investidora, conseguir um exit (quando o capital investido retorna, multiplicado, para quem fez a aposta) com uma startup era algo almejado, mas ainda muito pouco comum no mercado brasileiro. Enquanto em outros ambientes mais avançados, como dos Estados Unidos, a roda já girava, por aqui ainda buscávamos esse momento de amadurecimento. Já tínhamos startups surgindo, incubadoras e aceleradoras, mas faltava acontecer a evolução e o fortalecimento destes negócios. Hoje, esse momento chegou.
O mundo respira inovação. A pandemia exigiu um movimento rápido e consistente de todos os segmentos do mercado para o que eu chamo de novo oceano, o figital, que é essa integração do mundo digital e físico. Educação, finanças, saúde, varejo, indústria. Todas as verticais estão nessa jornada de incorporar estratégias aderentes às demandas dos novos consumidores. Essa escalada é algo que acontece globalmente.
Os volumes deste ecossistema são cada vez mais impressionantes. Só no segundo trimestre de 2021 foram 136 novos unicórnios em todo o mundo. Esse número é quase seis vezes superior ao que vimos acontecer no mesmo período de 2020, quando surgiram 23 unicórnios – nos 12 meses do ano passado foram 128.
As empresas entraram neste rol com uma avaliação média de US$ 1,6 bilhão nos primeiros seis meses de 2021, índice 33% maior que em 2016. Os dados da CB Insights evidenciam muito claramente a efervescência do mercado de capital de risco no mundo.
A pergunta clássica que vem em seguida a estes números em aceleração e que tenho ouvido com cada vez mais frequência é: estamos vivendo tempos de supervalorização do mercado de startups? Sim, existe uma supervalorização. Nós investidores estamos pagando cheques cada vez mais altos, entretanto, por outro lado, os ganhos das empresas que forem bem-sucedidas também serão cada vez mais expressivos.
Encontrar uma startup que vencerá é o grande desafio de todo investidor de risco. E neste momento mais do que nunca.
Se agora temos que pagar muito, precisamos estar certos da aposta. Não há espaço para erros e, cada vez menos tempo para esperar a maturação do negócio, dependendo do tipo de investidor que você é.
Isso leva a outra questão. Para qual direção, nós, investidores de risco, estamos olhando na próxima década? Iniciativas voltadas ao mundo ESG, segurança, educação e mercado financeiro são algumas das áreas que devem estar cada vez mais no centro da transformação.
Apenas como exemplo, o mercado financeiro vive uma das maiores disrupções no mundo, e tudo indica que seguirá assim por muitos anos ainda. Não por acaso, as fintechs recebem 22% dos aportes globais hoje em dia dos investidores, US$ 33,7 bilhões no segundo trimestre de 2021. A cada US$ 5, US$ 1 vai para essas startups. É o caminho para vencer as demandas pela reinvenção deste mercado.
Sem falar no potencial do fascinante mundo da saúde. A evolução da ciência e da tecnologia potencializa o surgimento de soluções de biotecnologia sem precedentes do ponto de vista da inovação. Projeções da Singularity University apontam para um aumento de dez anos da expectativa de vida das pessoas a partir de evoluções que estão começando a acontecer em vacinas, suplementação e testes mais ágeis de medicamentos, consequência da convergência dos avanços em sequenciamento de genoma, inteligência artificial, computação quântica e medicina celular.
Com a democratização da tecnologia, temos acompanhado o surgimento de novas empresas. Existe capital de risco à disposição de bons empreendedores, com times complementares e ideias que endereçam dores latentes de mercados grandes suficientes para permitir escala. Vivemos uma evolução sem precedentes e as oportunidades estão aí para quem souber fazer uma boa leitura do mercado e tiver coragem de avançar.
Camila Farani é um dos “tubarões” do “Shark Tank Brasil”. É Top Voice no LinkedIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.
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