Ouso parafrasear o tema de uma exposição artística do baiano Chico Liberato: o lixo é da cor que pintamos.
O lixo identifica-se com as mais autênticas referências do ser humano, pulsa por justiça e dignidade social, por integração com a natureza e sentimentos humanos. Traduz o olhar da paisagem impregnada de desigualdade e de sentidos perdidos na desesperança. Porém, num conceito eclético e diversificado pode transbordar-se em arte e economia que hoje compõem o universo da criação.
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No Brasil, geramos mais de 80 milhões de toneladas de lixo por ano, segundo a ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais). Desse total, grande parte da coleta do lixo reciclável é feita por pessoas que andam ou perambulam pelas ruas da cidade coletando resíduos sólidos, conhecidas como catadores. É lugar comum se deparar com eles transportando lixo em carrinhos que são empurrados ao longo das ruas, avenidas e becos, porém, isso pode causá-los sérios problemas de saúde, além de ser um modal de transporte muito lento.
Uma oportunidade é investir em negócios com o DNA na ecologística [termo aqui inspirado do ICLEI – Local Governments for Sustainability], promovendo benefícios sociais e ambientais positivos. Tais investimentos são dirigidos ao transporte de mercadorias dando prioridade à saúde, segurança, baixa emissão e desenvolvimento urbano centrado nas pessoas. Encorajam as economias circulares e regionais, ao mesmo tempo que limita o impacto do transporte de mercadorias. Finalmente, tem-se uma oportunidade singular de prosperidade aos catadores e cooperativas de resíduos sólidos.
A troca dos carros de lixo puxados à mão por triciclos pode trazer benefícios para a saúde, inclusão social e aumento de renda para os catadores, pois a capacidade de transporte de carga é maior, bem como aumentam as distâncias que os catadores podem percorrer em um dia.
Por meio da iniciativa Roda, primeiro delivery de reciclagem, a Solos está criando em Salvador, Bahia, um novo modelo de logística urbana baseado em triciclos de carga para coleta e transporte de recicláveis, testando a tecnologia como uma solução sustentável. O Roda alinha logística urbana, promoção de reciclagem e inclusão social.
A Solos é um negócio de impacto que apoia marcas na superação de seus desafios de negócios relacionados à economia circular, por meio de soluções que facilitam o descarte sustentável das embalagens pós-consumo. Isso torna melhor a vida de todos: das tartarugas marinhas aos catadores de recicláveis.
É importante perceber que o delivery da reciclagem – RODA, surgiu do aumento dos resíduos gerados em casa com a pandemia e da ausência de soluções para amplificar a coleta e o reuso do lixo domiciliar.
A coleta se dá no porta a porta, ou “coleta na última milha”, de estabelecimentos comerciais e residenciais previamente referenciados, atendendo a demanda de coleta com comodidade e eficiência.
O projeto em andamento no bairro Rio Vermelho, em Salvador, visa:
1. Inclusão social e empoderamento econômico dos catadores. Ou seja, valorizá-los, dando mais dignidade, visibilidade, conforto e melhores condições de trabalho. Além de ressignificar a atitude dos catadores quanto a sua importância para a reciclagem.
2. Aumento da reciclagem do território por meio de um modo de transporte mais rápido e seguro, com grande potencial de engajamento de empresas e condomínios para incentivar a prática de reciclagem.
3. Mobilidade sustentável. Introduzir os triciclos como uma opção sustentável de logística e mobilidade urbana.
4. Coleta de dados e métricas para subsidiar a expansão de soluções similares para outros segmentos da logística urbana do território.
A Solos é liderada por mulheres com mentalidade de mudança. Elas movem as iniciativas compartilhando visões inspiradoras, focando em resultados, sendo abertas e inclusivas. O RODA é uma realização com investimento em rede, com participação de Casa Mar Art, Map Brasil e Afro Impacto.
A liderança colaborativa da Solos não representa um conjunto específico de atividades. Significa atitudes necessárias para gerar mudanças reais e impactos mais duradouros. Na Solos há um ambiente catalisador e propulsor de energias das pessoas para um objetivo comum. Lá, o lixo é da cor que pintamos.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
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