“Não conheci nenhum empreendedor que começou seu negócio porque é apaixonado por DRE ou porque sonhava administrar o fluxo de caixa”. Dei risada quando ouvi a frase do Guilherme Esteves, sócio da Real Ventures, uma empresa que acabou de virar nossa parceira.
Me identifico com o que ele disse. Não fundei minha empresa porque amo finanças ou processos. No meu caso, estou um passo atrás – não entendo tecnicamente de cálculos e não estudei administração. Sou jornalista, e o que me trouxe até aqui, o que me mantém diariamente motivada e animada com o potencial de crescimento do meu negócio são as relações com outras pessoas. Tudo mais é consequência disso.
E é aí que mora uma das principais dores do empreendedorismo. A partir do momento que alguém cria um negócio em função de uma paixão ou de uma habilidade específica, se depara com a necessidade de desenvolver uma série de outras competências para seguir em frente e construir uma empresa saudável.
Claro que não precisamos nos tornar especialistas em tudo – os times multidisciplinares já se provaram mais eficazes do que a tentativa de reunir todas as qualidades em uma só pessoa. Mas nem sempre é possível contratar ou se associar a outros no estágio inicial de uma empresa. Leva-se tempo para aprender a traçar caminhos e identificar do que se precisa para pavimentá-lo. Para saber o que não se sabe. Para reconhecer as características que se busca no time. Quando tudo ainda é mato e a visão do futuro está apenas na cabeça de poucas pessoas, é necessário primeiro começar a fazer do jeito que dá e, só depois, dividir responsabilidades e estruturar papéis.
SAIBA MAIS: A única certeza é que vai dar errado
Com o crescimento da empresa que fundei, o Atelier de Conteúdo, uma equipe reunindo cerca de 20 pessoas (o dobro de um ano atrás) e desafios administrativos cada vez mais robustos, me dediquei a dar um passo na minha carreira: me desenvolver como gestora.
Na prática, desde que fundei o negócio, me tornei gestora, e já faz um tempo que conto com um time que não troco por nenhum outro. Para lidar com temas mais complexos, fora da caixa ou emergenciais, recorria até agora principalmente à intuição e aos mentores que tenho a sorte de acompanharem o Atelier desde o seu nascimento.
Mas até este ano meu foco pessoal no dia a dia estava principalmente no que é nosso core – da prospecção à entrega, eu falava mais sobre ou desempenhava tarefas ligadas à minha especialidade. Entrevistas, redação, edição, produção de conteúdo, comunicação interna e externa.
Neste ano, em meio ao crescimento que continua intenso, foi preciso estruturar melhor a empresa. Consolidar processos até então informais e criar outros. Tomar decisões mais difíceis. Recorrer a soluções mais parrudas e sofisticadas para encontrar apoio especializado, ir além do básico e construir estratégias, planejar o futuro.
2021 foi o ano em que me reconheci no papel de gestora, além de jornalista e empreendedora. Que me dei conta do quanto preciso e quero me desenvolver para desempenhar cada vez melhor esta função, formando a equipe, difundindo a cultura e oferecendo condições para a empresa ir muito além de mim.
Outro dia, a Gabriella Lopes, do nosso time, comentou em uma reunião: “Tem uma coisa que a gente que trabalha no Atelier sente – e não dá para explicar, mas quem trabalha aqui sabe como é”. Essa declaração resume o que é para mim o maior indicador de sucesso, a confirmação de que estou exatamente onde deveria estar. Que venha 2022.