Quando investimos dinheiro em uma empresa, esperamos que os benefícios resultantes do investimento sejam maiores do que o valor do investimento, isso é facilmente medido usando a metodologia contábil convencional.
Em outras palavras, quase sempre, a motivação do investidor em uma empresa é o ganho financeiro. Como resultado, os benefícios sociais decorrentes de um investimento na empresa não são mensurados.
Mas, e se a principal motivação do investidor for aumentar o bem-estar das pessoas que se beneficiam do negócio? Como um investidor pode determinar se o aumento do bem-estar é suficiente para justificar o investimento? Certamente esta é uma pergunta desafiadora e bem razoável para uma tomada de decisão.
Há mais valor numa empresa do que é mostrado em sua demonstração financeira. Devemos levar em consideração a forma como os colaboradores recebem valor: salários e benefícios, e se há aumento da autoestima e camaradagem com outros funcionários. Além disso, é importante conhecer se os clientes recebem e percebem valor dos bens e serviços fornecidos pela empresa.
E, como avaliamos esse retorno? À primeira vista, uma maneira comum é definir os propósitos do investimento, vis-à-vis aos objetivos da empresa e comparar os resultados com esses objetivos. Caso os objetivos sejam obtidos ou superados, os investidores podem entender que a empresa está cumprindo com o que foi pretendido.
No entanto, podemos aferir uma medida do valor criado por investimentos e o benefício total gerado? Sim. Para fazer isso, é preciso identificar a natureza dos benefícios e como seu valor pode ser quantificado. Classicamente, os benefícios de um investimento podem ser classificados da seguinte forma:
- Benefícios econômicos da empresa, que resultam em melhor desempenho econômico para o negócio.
- Benefícios socioeconômicos, que resultam em benefícios econômicos mensuráveis para a sociedade.
- Benefícios sociais, que proporcionam melhorias que não podem ser medidas.
Se o objetivo de um investimento é criar uma sociedade melhor, como é o caso dos negócios comprometidos com as boas práticas ESG, uma forma de avaliar o investimento é comparar o investimento com o valor dos benefícios resultantes, gerando um retorno social do investimento.
De acordo com Paula Fabiani, o SROI – Social Return on Investment, ou Retorno Social sobre Investimento, é um protocolo de avaliação que propõe uma análise comparativa entre o valor dos recursos investidos em um negócio e o valor social gerado para a sociedade com esse recurso. Para isso, aplica diversas técnicas para estimar o valor intangível de ativos que não podem ser comprados ou vendidos. Dessa forma, nos permite concluir que a cada R$ 1 investido, foram gerados R$ X em benefícios sociais, por exemplo.
Assim, fundos que investem para criar valor social usam o SROI como uma ferramenta de decisão de investimento, e, posteriormente, para avaliar o desempenho e mensurar o progresso através do tempo.
Um bom exemplo vem da Cogna Educação. Mas, antes é bom que se registre que em 2021, a empresa se tornou a primeira companhia do setor de Educação no Brasil a divulgar trimestralmente a evolução de 19 indicadores ESG, que seguem os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da ONU) e critérios de materialidade.
A empresa educacional ampliou seus compromissos voluntários e certificações com a adesão ao Fórum de Direitos e Empresas LGBTI+, ao Instituto Ethos – passando a fazer parte do Grupo de Trabalho em Direitos Humanos & Integridade – e aos Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs).
Porém, em 2020, de acordo com o Relatório de Sustentabilidade, a Cogna realizou, em conjunto com a consultoria Ernst & Young, o cálculo do seu SROI. O resultado divulgado expressa que de cada um R$ 1,00 investido, a Cogna gerou R$ 7,00 de retorno para a sociedade, ou seja, uma relação de 1:7.
Do SROI de 2020, alguns dados ainda relevantes para os investidores:
- R$ 10,40 bilhões de impacto econômico anual na sociedade;
- R$ 12,60 bilhões em ativos socioeconômicos; e,
- 5 milhões de pessoas beneficiadas pelos ativos sociais da Cogna.
Outro ponto destaque da medição do SROI foi a valoração das frentes de contribuição social da Cogna. Foram classificadas em cinco grupos:
- Acesso à Educação: Programas e/ou projetos que têm como objetivo promover e/ou facilitar o acesso da comunidade à Educação. Total de pessoas beneficiárias: 3.000.172.
- Gestão da educação pública: Atividades sociais que têm como objetivo aprimorar a educação pública brasileira. Total de pessoas beneficiárias: 1.500.470.
- Comunitária: atividades sociais que têm como objetivo promover a transformação social do entorno das unidades. Total de pessoas beneficiárias: 488.650.
- Inserção profissional: Programa que tem como objetivo beneficiar a sociedade promovendo o acesso ao mercado de trabalho. Total de pessoas beneficiárias: 44.710.
- Curricular: Atividades e projetos que têm como objetivo promover a transformação social por meio da disseminação de informações. Total de pessoas beneficiárias: 1.500.470.
Nada melhor do que definir o SROI como uma ferramenta estratégica ao negócio. Ainda que a relação custo-benefício seja o que geralmente atrai a atenção dos investidores, cada uma de suas etapas de mensuração é capaz de revelar dados potencialmente geradores de “estalos” que favorecem a tomada de decisão e a busca por impactos cada vez maiores e mais consistentes.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.