Os números são expressivos, sim, mas o que eu quero trazer para vocês aqui é a visão de que, mais do que estar em franca expansão, o pipeline do capital de risco tradicional segue avançando para atender as tendências que chegam junto com esse amadurecimento. E isso acontece, justamente, pela aceleração que estamos vivenciando, impulsionada pela necessidade de rápida digitalização de setores importantes como indústria, saúde, educação, finanças e varejo, especialmente a partir da aproximação com as startups.
Se olharmos atentamente para essa oferta, veremos que as opções de acesso ao capital estão se diversificando e, assim, se tornando mais acessíveis para os empreendedores. Tradicionalmente, as startups que buscavam crescimento acelerado focavam nas estratégias de atração de recursos via rodadas de venture capital. Era captar e, ao final do processo, tentar uma saída via comprador estratégico em rodadas acima da Serie C ou, em casos mais excepcionais, fazendo uma Oferta Pública Inicial (IPO).
Há uma expansão dessas rotas, como aponta uma análise da CB Insights. Antes, as early stage olhavam para Seed VC e as growth stage para rodadas VC e, ambas, com opção de saída por IPO. Com essa ampliação, as startups em estágio inicial passaram a ter a opção de captar recursos via investimento-anjo ou crowdfunding, por exemplo. Sem falar no Corporate Venture. E agora, além do IPO, vemos a consolidação das SPAC – Special Purpose Acquisition Companies, ou companhias de propósito específico de aquisição.
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A estimativa é que o mercado de investimento-anjo movimente um volume global de US$ 250 bilhões até 2023, segundo o World Business Angels Investment Forum (WBAF) – hoje é de cerca de US$ 50 bilhões. No Brasil, com a pandemia, esta modalidade retrocedeu 20%, voltando aos níveis de 2016. Foram R$ 856 milhões investidos em 2020. Mas a expectativa é de uma recuperação rápida. Sem falar que o investimento-anjo não está apenas crescendo, mas se tornou mais formalizado e organizado. No passado, os investidores-anjos eram principalmente familiares ou amigos do fundador. De alguns anos para cá, os empreendedores passaram a poder acessar uma rede mais ampla de indivíduos, muitas vezes do próprio mundo das startups, que estão dispostos a apostar em projetos de risco extremo.
Outra opção, especialmente para as early stage, é o financiamento coletivo, o crowdfunding, que permite arrecadar dinheiro de muitas pessoas para financiar um projeto. Os fundos arrecadados desta forma cresceram quase 34% em 2020.
O novo mundo está sendo construído por empresas inovadoras que aceleram a oferta de soluções digitais para o mercado e, no mesmo ritmo, os investidores de risco apuram o faro para detectar a melhor oportunidade de aporte – que não está mais em um único lugar.
Esse é mais um aspecto que quero considerar nessa mudança no pipeline do venture capital. Empresas extraordinárias podem surgir em qualquer localidade do mundo, portanto, essa indústria também se tornou mais global. Não é mais apenas no Vale do Silício, nos Estados Unidos, que os investidores estão mirando, mas na Europa, Israel, Japão e, claro, Brasil.
Aliás, se quisermos que as empresas brasileiras se fortaleçam, precisamos fazer com que esses recursos do capital de risco cheguem a todas as regiões. Afinal, estamos falando de um país de dimensão continental. A tendência, então, é a criação de fundos regionais, capazes de olhar mais atentamente para startups inovadoras surgindo em diferentes estados.
Lembrando o que sempre gosto de destacar. É importante que nós, investidores, estejamos olhando com atenção para o impacto que queremos gerar no mundo. Neste sentido, podemos esperar para os próximos anos uma maior diversificação dos aportes, e neste sentido, o crescimento dos fundos de investimentos temáticos, como os voltados para o Environmental, Social and Corporate Governance (ESG).
O empreendedorismo inovador é uma resposta urgente para a transformação da nossa matriz produtiva, ampliação da nossa capacidade de competitividade como país e, claro, uma resposta esperada para a resolução de gargalos sociais que ainda enfrentamos, como as questões ambientais e de inclusão e diversidade.
Camila Farani é um dos “tubarões” do “Shark Tank Brasil”. É Top Voice no LinkedIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.
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