O que você faz quando uma emoção negativa bate na sua porta?
Você é do time que abre a porta, convida a dor para entrar, oferece cafezinho, pão de queijo e bolo, e prepara para ela um cantinho aconchegante na sua sala de estar? Ou pertence ao grupo que, para nem escutar a campainha, liga o som, a TV e promove logo uma festa para se distrair?
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Certo é quem consegue nem se apegar nem rejeitar. Fixar-se numa emoção negativa é tão tóxico quanto fugir dela. Se erramos a dose ao sentir uma dor, podemos nos identificar com ela de forma tão simbiótica que, em pouco tempo, ela parece se tornar uma parte de nós. E, no outro extremo, se ignoramos nossos desconfortos, perdemos a oportunidade de reconhecer (e curar) a parte de nós que deu origem a eles.
O caminho do meio, quase sempre, é a sugestão mais eficiente.
Gestão emocional não é matéria que compõe o conteúdo escolar. Deveria, mas ainda não acontece. Talvez se aprendêssemos a gerir toda variedade de emoções que brotam em nós, não teríamos que recorrer às estratégias extremas de nos apegarmos à dor ou de simplesmente não conseguirmos olhar para ela. Mas nos ensinaram que o importante é ser feliz sem contar que, para isso, é fundamental saber não se assustar diante da tristeza.
A cada vez que uma emoção negativa toca a campainha, traz consigo um envelope importante, contendo informações preciosas sobre nós mesmos. Cada desconforto que nos invade só o faz para nos comunicar algo. São sempre consequências de alguma crença, hábito ou comportamento nosso que precisa de revisão.
Se soubermos aproveitar a visita do desconforto, ele sempre tem algo precioso a nos contar. Traz consigo, necessariamente, uma denúncia e um convite: deixa escancarada alguma parte em nós que precisa de revisão e, ao mesmo tempo, nos convida para a transformação. E pode, portanto ser considerado um aliado, e não um inimigo.
Contudo, desconfortos são aliados passageiros. Não são hóspedes que vamos receber para morar na nossa casa, mas apenas amigos que podemos convidar para nos acompanhar numa xícara de chá – sem muita intimidade, e de preferência sem pão de queijo.
É importante que a presença da dor não nos cause medo ou estranheza. É importante aprender a escutar o que ela diz. É importante observá-la com presença, e sem racionalização. É importante sentir.
O envelope que os desconforto traz é sempre criptografado, e o conteúdo só é liberado quando o destinatário se propõe a sentir as emoções sem racionalizá-las, e sem justificá-las. A mente não consegue ler a mensagem porque essa é redigida numa linguagem apenas conhecida pelo coração.
Parece piegas, mas é real. As emoções desafiadoras podem se tornar grandes aliadas do nosso processo de crescimento se olharmos para elas como mensageiras, e se nos propusermos a simplesmente senti-las com a curiosidade de questionar: “O que vieram informar?”
É um equilíbrio entre saber convidá-las para entrar e saber informar que precisam ir.
É sentir sem ignorar, mas sem se permitir afogar.
Da próxima vez que o desconforto tocar sua campainha, não arrume a cama do quarto de hóspedes, nem aumente o som para não escutar. Sinta, sem dramatizar e sem evitar. Depois, com o envelope aberto, investigue as entrelinhas da mensagem. O que dizem sobre você? Qual movimento te sugerem? Abre a porta, sinta, investigue e deixe ir.
Porque não é sobre evitar aquilo que nos incomoda, mas sobre usar o incômodo como impulso para nos transformar.
*Carol Rache é empresária, fundadora do grupo Namah Wellness de inteligência emocional e bem-estar. Há 10 anos ela se dedica ao estudo do comportamento humano usando neurociência, metafísica, meditação, yoga e coaching.
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