No Brasil, quando se fala sobre os TEDx, eventos TED que buscam descobrir e espalhar ideias que despertam a imaginação, abraçam possibilidades e geram impacto, o nome Caetano Tona logo vem à mente.
Articulador e curador de eventos independentes da TED (que em inglês significa Tecnologia, Entretenimento e Design), organização sem fins lucrativos dedicada a disseminar ideias que merecem ser espalhadas, Tona atuou na organização ou coordenação de 23 eventos TEDx de norte a sul do país nos últimos seis anos. Além disso, o ex-executivo, que encontrou seu propósito no movimento TED e na preparação de palestrantes, já ajudou mais de 300 pessoas a expor suas ideias no palco.
A entrega mais recente de Tona aconteceu no último sábado, no TEDxGuarulhos, anteriormente conhecido como TEDx Macedo, que teve o conceito de Aurora como tema. A metáfora utilizada em várias culturas representa a esperança e a promessa de um novo dia, e é sinônimo de início de algo – e a ideia para a conferência foi usar o conceito para convidar a audiência a pensar futuros desejáveis.
A conferência, que recebeu cerca de 700 pessoas no Teatro Adamastor em Guarulhos (SP), teve palestrantes que incluíram desde o pároco Júlio Lancellotti e a estilista Isa Isaac, até o vice-presidente do Rock in Rio Zé Ricardo e Paula Dall’Stella, médica referência em canabinoides. Vários personagens que estão fazendo a diferença na cidade também palestraram, como Sanderson Pajeú, indígena e fundador e CEO da naPorta, serviço de transporte para áreas restritas, e Larissa Napoli, arquiteta comprometida com o desenvolvimento sustentável, membro do coletivo guarulhense Quebrada Ecológica. A conferência também teve várias apresentações artísticas de talentos locais, como Rue La Companhia, coletivo de teatro de rua e Tunuka, cantore e compositore.
Para os próximos meses, Tona tem uma agenda agitada: além do TEDx Women, que deve acontecer em novembro também em Guarulhos, o organizador vai trabalhar em edições da conferência em Brasília, Maringá, Salvador e Moçambique.
Em meio aos preparativos para o evento que aconteceu no sábado, Tona atendeu Rumo Futuro para falar sobre a vida no movimento TEDx, compartilhamento de ideias e refletir sobre o que vem por aí. Veja os melhores momentos da conversa a seguir:
Rumo Futuro: De onde veio a ideia de abordar o futuro no TEDxGuarulhos?
Caetano Tona: A ideia veio de uma conversa com o grupo de voluntários do TEDx Guarulhos, onde chegamos a conclusão de que estamos vivendo um momento de transição, onde as coisas estão mudando, e estamos percebendo essas mudanças. Surgiu também um sentimento de responsabilidade, de fazer coisas agora para construir um futuro diferente. A ideia de [batizar o evento de “Aurora”] veio a partir disso, de um olhar para as coisas que a gente gostaria que fossem diferentes no futuro.
RF: Qual foi o motivo por trás da mudança do nome do evento, de TEDxMacedo para TEDxGuarulhos?
CT: Esta é uma regra do TED que estabelece que, quando um evento chega numa cidade grande como Guarulhos, é preciso iniciar por um bairro e não pelo nome da cidade. Enquanto organizador e curador, preciso passar por um processo de qualificação interna dentro do TED para poder assumir o nome de uma cidade grande. Agora, passei para este outro nível.
RF: Além da organização do evento de Guarulhos, você está envolvido em várias outras conferências TEDx. Como tem sido esta trajetória?
CT: Meu trabalho hoje, tanto dentro quanto fora do TEDx, está relacionado à curadoria de conteúdo e preparação de palestrantes. Nem todos os organizadores [de eventos TEDx] assumem o papel de curadores e preparadores de palestrantes, então tenho apoiado outros organizadores de TEDx nestas tarefas no Brasil e internacionalmente.
Tenho visto um aumento no interesse em organizar eventos TEDx. Durante a pandemia, houve uma queda porque [as conferências] migraram para o online e alguns organizadores que estavam habituados com o presencial optaram por não organizarem eventos. No pós-pandemia, [as conferências] estão voltando a acontecer e no Brasil tem surgido novas cidades e novos eventos tem surgido.
RF: O que move você a realizar estes eventos e atuar nesta área?
CT: Estou há seis anos envolvido nessa comunidade e, ao longo desses seis anos, vi a vida de pessoas que subiram no palco serem transformadas, assim como a de pessoas que estavam na plateia. Inclusive, estamos organizando um minidocumentário para compartilhar estas experiências no Brasil, que deve sair no primeiro semestre do ano que vem.
Eu acredito no impacto que um evento TEDx tem, na comunidade e além. Meu trabalho é uma forma de gerar impacto e de transformar o mundo.
RF: O que define um TEDx de sucesso?
CT: Diversidade. Eu acho que não focar num perfil específico e trazer pessoas diversas, representatividade é a grande receita de sucesso. É falar para muitos, ao invés de somente alguns.
No TEDxGuarulhos, os pontos sobre os quais as pessoas mais comentaram foram a energia do evento e a diversidade e representatividade que trouxemos. Isso mostra que a atingimos nosso objetivo ao falar sobre o futuro, porque a gente precisa construir um futuro mais inclusivo e mais diverso. Estou muito feliz e orgulhoso com o resultado.
RF: Qual é o principal desafio em organizar eventos deste tipo?
CT: A complexidade do evento é o maior desafio. Existem muitos fatores que influenciam a construção de um TEDx que vão desde o cumprimento das regras do TED, até a tropicalização da realidade local onde o evento acontece.
Além disso, há o aspecto de conseguir apoios. Os eventos são organizados com trabalho voluntário, e isso envolve gerir toda a equipe, o tempo, as demandas, dar feedbacks, fazer follow-ups. Também precisamos apoiar os palestrantes, que passam por uma preparação muito intensa – e convidamos pessoas que estão habituadas a palestrar, e outras que não estão acostumadas a fazer isso.
RF: Qual é a pergunta mais frequente que te fazem?
CT: Com certeza, é “como faço para ser um palestrante do TEDx?”
RF: E qual é a sua resposta a esta pergunta?
CT: De uma forma simplista, ter uma boa ideia, e fazer com que essa ideia chegue a um curador do TEDx. Mas para que o curador escolha esta ideia, ela precisa estar madura. Também é preciso que a ideia tenha generosidade, e que gere mais impacto em quem vai ouvi-la, do que para quem a compartilha.
RF: Quais são as principais qualidades que você precisa desenvolver para fazer bem o seu trabalho?
CT: A escuta. Eu preciso me conectar bem com as pessoas. A conexão acontece mais através do escutar e perceber qual é a necessidade do outro, do que a minha necessidade de querer falar. Tanto no meu trabalho como curador, quanto como preparador de palestrantes, a escuta é fundamental. É sobre ouvir a pessoa que está contando uma história com qualidade. Às vezes, no meio daquela narrativa, você encontra algo que nem a própria pessoa percebeu.
Tento sempre olhar as pessoas de uma forma empática. Não deixo de falar com quem me procura, porque acho que sempre há um fator importante naquilo que as pessoas me trazem. Há a abertura para novas ideias, que podem surgir em um evento, numa conversa de corredor, a partir de um papo na mesa ao lado em um café: tudo isso me inspira. Outra coisa é o networking, pois preciso de muitas pessoas para construir esse projeto e para isso, é importante criar conexões, me movimentar. Também não tenho dificuldade de pedir ajuda, pois tenho a consciência de que não faço nada sozinho.
*A Rumo Futuro discute os movimentos e ideias de pessoas que protagonizam a inovação e o pensar de futuros no Brasil e além. Para sugerir histórias e dar seu feedback, entre em contato.
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