Em 2016, quando começou a pensar no Movimento Black Money, o carioca Alan Soares, nascido em Pilares, na zona norte do Rio de Janeiro, perto do Morro do Urubu, tinha um objetivo muito claro na cabeça: combater, por meio do empreendedorismo e da geração de negócios entre a comunidade negra, os efeitos do racismo estrutural do país. Uma realidade responsável por estatísticas alarmantes, que passam por uma massa carcerária composta por 70% de negros, desníveis salariais que apontam para uma diferença de 44% entre os vencimentos de um homem branco e uma mulher negra e recusa de crédito três vezes maior para os afro empreendedores.
“Essa é uma comunidade desprovida de poder, tanto institucional quanto financeiro. Não há interesse em financiar programas e políticas públicas específicas para os negros. Qualquer que seja o contexto político do país, os negros saem perdendo”, diz Soares. “O MBM foi uma reação a tudo isso, uma tentativa de construir uma outra narrativa para uma minoria oprimida.”
Mas, se o movimento já tinha um pai, ele precisava também de uma mãe, papel exercido por Nina Silva – eleita uma das Mulheres Mais Poderosas do Brasil pela FORBES no ano passado –, que aproveitou sua sólida carreira na área de tecnologia para perseguir algo maior, que realmente resultasse em impacto social. “Não adiantava eu estar dentro de grandes corporações e não conseguir trazer para as empresas a diversidade. A prática seria ter as nossas próprias instituições dentro dessa luta antirracista”, disse em 2019, época da publicação da lista das eleitas.
ECOSSISTEMA PRÓPRIO
E é exatamente isso que a dupla está construindo: um ecossistema próprio, capaz de suportar as mais variadas necessidades de um negócio. O primeiro passo passou pela comunicação, usando a internet tanto para democratizar o acesso à informação quanto para localizar pessoas que tivessem o pensamento alinhado com a causa. “Passamos a trabalhar em rede, com objetivos mais claros e definidos, a combater as falácias sobre a inclusão da comunidade negra e a contar histórias reais de sucesso”, lembra Soares.
Essa narrativa tem nos números o embasamento necessário. Atualmente, o país possui 112 milhões de negros, responsáveis por um consumo de R$ 1,7 trilhão em 2019 segundo o Estudo do Empreendedorismo Negro no Brasil, realizado pela PretaHub em parceria com Plano CDE e JP Morgan. “Por que deixar isso na mão de outro grupo racial?”, pergunta Soares. “É mais lógico negros consumindo de outros negros”, diz ele, que tem como objetivo fazer com que 30% desse volume total permaneça na comunidade negra. “Essa é uma mudança de mindset da própria comunidade, um trabalho contínuo que não pode parar nunca.”
Para seguir essa lógica, no entanto, era preciso muito mais. Como, por exemplo, gerar oferta, uma vez que a demanda já existia. Começaram, então, a surgir ideias de empreendedorismo, mas que não tinham condições de competir em pé de igualdade com as empresas da nova economia, aceleradas e financiadas por grandes grupos. “Além disso, era preciso educar a comunidade sobre essa nova forma de fazer negócios e a usar a tecnologia, que é a base dela”, diz Soares. Dessa necessidade surgiu a Afreektech, braço educacional do MBM que oferece, entre outros, cursos de modelagem de negócios, vendarketing (vendas e marketing) e programação para não programadores que, até agora, já capacitou cerca de 1.000 pessoas, entre iniciativas próprias e parcerias com instituições terceirizadas como a Gama Academy – todas gratuitas.
PRÓXIMOS PASSOS
O objetivo agora é aproximar os compradores dos vendedores negros. Depois de um MVP (produto viável mínimo, em português) feito no Instagram, o Movimento Black Money vai estrear, em março, um marketplace específico para empreendedores negros. Isso significa que só eles podem vender, mas pessoas de qualquer etnia podem comprar um produto ou serviço. Batizado de Mercado Black Money, a plataforma já conta com 20 cadastrados, que vão vender de roupas e acessórios a produtos de beleza e serviços médicos.
“Sabemos que esse negócio vai demorar mais para decolar do que os outros do mesmo tipo, que contam com grandes investimentos”, diz Soares. No entanto, ele adianta que, no segundo semestre, a plataforma vai ganhar outra funcionalidade: o acesso ao crédito. “Como não têm histórico, os empreendedores negros não conseguem dinheiro emprestado. A solução para isso é criar uma instituição financeira exclusiva para eles, que empreste o dinheiro e crie um score.” O D’Black bank, como foi batizado, vai buscar recursos em fundings internacionais e investimentos P2P, entre outras formas de captação. “Dinheiro não falta, o que acontece é que a régua que existe hoje exclui a população negra.”
Por enquanto, o banco do MBM possui apenas a funcionalidade de antecipação de crédito, modalidade viabilizada pela maquininha PoS – a Pretinha – que aceita as principais bandeiras do mercado. Cerca de uma centena de comércios e empreendedores já utilizam o recurso. “Tem casos de gente que já fatura cerca de R$ 50 mil só em vendas feitas na Pretinha.”
Ainda no primeiro semestre deste ano, no entanto, a meta é criar a conta digital, para pessoas físicas e jurídicas. Tudo integrado ao marketplace. E, até o final do ano, a liberação de crédito. “Nesse caso, nossa meta é reduzir as taxas de juros em até 50% frente a concorrência”, diz Soares.
Quando perguntado sobre onde imagina estar em cinco anos, o neto de um estivador e de uma costureira diz, sem pestanejar: “Quero que o MBM tenha tomado o Brasil todo e que seu modelo seja exportado para os vizinhos, como Colômbia e Caribe, até chegar à África”.
LEIA TAMBÉM: Nina Silva: “Times complexos requerem cada vez mais diversidade”
****
Microsoft entra na luta pela acessibilidade da IA na saúde
Ao que tudo indica, a Microsoft está se movendo na mesma direção de seu cofundador, Bill Gates, e da Fundação Bill & Melinda Gates. A gigante de software anunciou recentemente uma iniciativa de assistência médica conhecida como AI for Health, um programa de US$ 40 milhões que é uma evolução do AI for Good Program, que oferece ajuda aos menos afortunados em todo o mundo.
A novidade se concentrará principalmente em problemas relacionados à saúde e na integração de soluções de inteligência artificial e tecnologia. O principal objetivo é pesquisar diretamente o impacto da IA na área médica, bem como desenvolver algoritmos para a detecção automática de doenças. Além de criar novas soluções, o programa também trabalhará para tornar essas tecnologias mais disponíveis em todo o mundo.
Atualmente, os países subdesenvolvidos estão muito longe de poder pagar e implementar a tecnologia da IA em tratamentos médicos. Não há dúvida de que as soluções modernas de saúde são distribuídas de maneira desigual, deixando a população de alguns países morrer por doenças que nem existem mais nos países modernos. E, embora a IA não possa ajudar diretamente na distribuição uniforme da assistência médica, pesquisas nesse campo podem fornecer soluções mais acessíveis. A inteligência artificial pode ser usada, por exemplo, para a detecção de doenças como a retinopatia diabética, que leva à cegueira se não for tratada a tempo. Os sistemas baseados em IA serviriam como processos de diagnóstico mais baratos e fáceis para pacientes em todo o mundo.
****
Liquid Death levanta US$ 9 milhões em Série A
A startup norte-americana Liquid Death acaba de levantar US$ 9 milhões em uma rodada de financiamento da série A. A empresa comercializa água em latas de alumínio e está expandindo a linha com uma versão com gás que deve começar a ser vendida em março. Atualmente, a embalagem com 12 unidades de qualquer uma das opções custa US$ 18,99 (cerca de R$ 85).
O cofundador e CEO da startup, Mike Cessario, diz que o objetivo é criar uma marca que seja, ao mesmo tempo, saudável e sustentável, livrando o planeta das garrafas de plástico. As latas usadas são produzidas com mais de 70% de material reciclado. Além disso, o alumínio é muito mais fácil de reciclar do que o plástico, tornando a embalagem muito mais ecológica. A Liquid Death também doa US$ 0,05 por cada lata vendida a organizações sem fins lucrativos como a 5 Gyres (que combate a poluição plástica) e o Thirst Project (que trabalha para fornecer acesso a água potável em todo o mundo).
Para chamar a atenção, a empresa está focando em campanhas de marketing agressivas, com o slogan “Murder Your Thirst” (mate sua sede, em português). “Quando você lança uma nova marca, se você não tem milhões e milhões de dólares para divulgá-la com publicidade, sua única chance de sobrevivência é que o produto em si seja insanamente compartilhado”, diz o executivo. “Você não terá dinheiro para competir com a Coca-Cola e a Pepsi, então a única maneira de divulgação é se as pessoas compartilharem organicamente por causa do marketing irreverente e engraçado.”
A Liquid Death já arrecadou, até hoje, US$ 11,25 milhões. Segundo o fundador da empresa, a maioria das vendas é proveniente do site ou da Amazon, mas um dos principais objetivos do financiamento é levar as latas para as lojas físicas. A previsão é chegar à Whole Foods já em março.
****
Startup cria programa que troca cursos e serviços por material reciclável
A SO+MA, fintech que une benefícios financeiros a atitudes que geram impacto social positivo, anunciou que está expandindo seu programa para o Rio de Janeiro e que deu início a uma parceria com a prefeitura da capital paulista para abordar a importância da reciclagem do plástico nas escolas da rede municipal de ensino.
A startup, que foi acelerada pela plataforma Braskem Labs, surgiu com a missão de transformar materiais recicláveis em cursos profissionalizantes ou serviços médicos. Atualmente, já são mais de 4.500 famílias cadastradas em um programa de vantagens que incentiva a reciclagem em Curitiba (PR), Salvador (BA) e São Paulo (SP).
As pessoas cadastradas pontuam de acordo com a quantidade de material reciclado doado. Os pontos, que funcionam da mesma forma que programas de milhagem, são trocados por diversos serviços, como cursos profissionalizantes, alimentação básica e produtos de higiene oferecidos atualmente por cerca de 20 parceiros. Nas escolas municipais de São Paulo, os pontos acumulados por alunos também podem ser trocados por brinquedos e materiais escolares.
A empreendedora Claudia Pires, idealizadora da iniciativa, diz que a startup já coletou cerca de 300 toneladas de materiais recicláveis. Para fechar o ciclo, os materiais coletados são doados para cooperativas de reciclagem dos municípios atendidos pelo programa. “Queremos vencer o desafio de mudar a relação das pessoas com os resíduos recicláveis e mostrar que, se descartados corretamente e reciclados, eles podem ser transformados em calçados, roupas, brinquedos e embalagens, entre outros itens”, ressalta.
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.