“Na segunda-feira de Carnaval, 24 de fevereiro, eu estava na fazenda com minha família quando recebi a ligação de um dos meus diretores. Ele estava, naquele momento, na Itália e me relatou que a situação causada pelo novo coronavírus por lá estava se agravando. Dizia que seria necessário cancelar o próximo evento que teríamos no país.
Passados três meses desde então, considero que aquele telefonema marcou a virada de chave dentro de minha cabeça com relação à pandemia de Covid-19 no mundo. Desde o início estive atento à doença, monitorando, com preocupação, as notícias que chegavam da Ásia. Por ter noção de que o setor de eventos poderia ser fortemente impactado, logo comecei a desenhar cenários de reação à crise junto com minha equipe, dado que a pandemia se aproximava cada vez mais de nós, no Brasil.
Neste primeiro momento, quando compartilhava minha preocupação a respeito da situação com outros empresários, eu era taxado de pessimista e até de exagerado. Havia a impressão de que talvez, por aqui, o problema fosse diferente. Até entre nossos gestores faltava consenso sobre a seriedade da crise que estava por vir.
Tivemos reuniões desafiadoras. Analisamos os fatos e as conjecturas com antecedência. Também ouvi muito minha intuição e, assim, logo nos primeiros dias de março já tínhamos um plano sólido em mãos.
Mergulhei na operação com dois objetivos: reestruturar o business financeiramente para enfrentar uma recessão sem precedentes e reorganizar nosso modelo de negócios de modo a não apenas sobreviver à crise, mas criar condições de reinventá-lo em um curto espaço de tempo.
Do dia para a noite, nossa rotina mudou drasticamente. Elaboramos projetos novos e nos aprofundamos em um processo que, se por um lado mantinha a essência de nossa empresa, por outro questionava todo nosso trabalho anterior. Tinha consciência de que o maior erro que poderíamos cometer era fazer uma passagem meramente formal de serviços offline para o ambiente online, sem estabelecer novas diretrizes. Era preciso pensar diferente.
Assim, cheguei a Londres no dia 9 de março, pronto para reestruturar a equipe e lançar nosso primeiro evento online na sequência. Mas, apenas três dias depois de a situação de contaminação local ter se agravado, decidi retornar para São Paulo junto a meu sócio – ele já apresentava alguns sintomas e, mais tarde, foi diagnosticado com Covid-19.
Para não colocar minha família em risco, tomei a difícil decisão de me isolar em um hotel por uma semana. Conforme eu havia previsto, a doença chegaria mais perto de nós do que pensávamos. Naquele momento, passei a me dedicar 100% à nova estratégia do GRI Group. Trabalhei mais de 18 horas por dia e, hoje, vejo que esse período foi essencial para consolidar com força um novo momento da empresa, que tem se fortalecido a cada dia.
Após menos de uma semana, lançamos um conjunto de eventos online, mas que, conceitualmente, distinguiam-se das inúmeras lives e webinars que estavam começando a surgir e que, atualmente, seguem em alta. Pela essência do GRI Club, de realizar encontros exclusivos para tomadores de decisões, optamos por promover o que batizamos de eMeetings: reuniões nas quais até 100 CEOs de empresas do setor imobiliário e de infraestrutura dialogam e buscam soluções práticas para os problemas em comum que têm enfrentado.
Esses diálogos, sempre moderados e estruturados, ganharam relevância no atual contexto, uma vez que os desafios enfrentados por investidores de diversos países eram semelhantes. A verdade é que a troca de experiência num nível global nunca foi tão importante. Talvez isso explique o fato de termos praticamente duplicado o número de membros desde o início da crise.
Com o isolamento, a necessidade de diálogo aumentou. Relacionamento sempre foi algo fundamental para o sucesso dos grandes líderes no mundo anterior à Covid-19 e, em tempos de restrições sociais, ele se faz ainda mais necessário. Ao testemunhar a mudança de tudo e todos para o ambiente online, o mundo atual democratizou o networking, potencializou a troca de experiências e acelerou processos de transformações que, do contrário, talvez levassem décadas para acontecer.
Nada vai substituir o ‘cara a cara’, mas não restam dúvidas de que o mundo nunca mais será o mesmo.”
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