A série sobre profissionais negros na inovação que Forbes Insider começou na sexta-feira passada (24) – com 10 colaboradores das grandes empresas de tecnologia – continua hoje (31) com representantes que atuam nos unicórnios, as startups avaliadas em mais de R$ 1 bilhão.
Para chegar aos seis nomes apresentados na galeria de fotos a seguir, falamos com todos os 12 unicórnios brasileiros. Mas, a exemplo do que acontece nos demais países, a representatividade ainda está muito longe de ser expressiva. Enquanto lá fora há um único fundador negro de um unicórnio na lista da CB Insights – Robert Reffkin, CEO da proptech Compass –, o Brasil ainda não estreou nesta categoria.
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Mesmo em outros cargos, não é tarefa fácil encontrar protagonistas negros, embora a maioria dos especialistas em recursos humanos seja unânime em afirmar que a diversidade é condição essencial para o crescimento da empresa, inclusive financeiro. Segundo um estudo de 2017 da McKinsey, a diversidade étnica e cultural da equipe de liderança está correlacionada com a lucratividade. Ao analisar seis países em que a definição de diversidade étnica era consistente, a consultoria descobriu que as empresas com as equipes executivas de maior diversidade étnica – não só em termos de representação absoluta, mas também de variedade ou mistura de etnias – têm probabilidade 33% maior de superar seus pares em termos de lucratividade.
Outro estudo, desta vez da Accenture, revelou que colaboradores de companhias que contam com diversidade e inclusão enxergam menos barreiras para inovar e são seis vezes mais criativos do que os concorrentes. Ou seja, a diversidade contribui também para performance das empresas no que diz respeito à inovação.
Conheça, na galeria de fotos a seguir, 6 profissionais que estão promovendo inovações nos unicórnios brasileiros:
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Divulgação Ana Esperança Rodrigues da Silva, EBANX
Graduada em Jornalismo e em Cinema e, agora começando uma pós-graduação em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global, Ana Esperança Rodrigues da Silva entrou no EBANX, no time de customer services, em 2015. O período anterior ao ingresso da curitibana de 32 anos na fintech tinha sido desafiador, já que Esperança não conseguia encontrar um trabalho na área audiovisual, que era seu foco até então, ou mesmo em outras funções.
“Eu precisava de um emprego e assumi o fato de ter de começar um novo ciclo, com recomeços”, relembra. Desde seu ingresso no EBANX, Esperança passou pelas equipes de todos os canais de atendimento disponibilizados na época dentro da equipe de customer services.
“Isso me fez aprender muito sobre a empresa, a dinâmica que envolve estar em um ambiente de start up e o que isso exige”, aponta Esperança, que depois foi para a equipe de end user, que pensa em novos produtos da empresa.
“[A equipe de end user] tinha um formato de squad, e eu tinha contato com diversas áreas em um time só. Isso me fez acessar muitos conteúdos e conceitos que, na minha jornada, por vir de onde venho, não eram algo comum para mim”, ressalta.
Esperança hoje é analista sênior da equipe de compliance da startup. Focada em governança, seu objetivo é apoiar a sustentabilidade das operações e a proteção dos valores da empresa através da disseminação de uma cultura de integridade. Ela conta que sua função atual é motivo de orgulho, pois vai contra crenças estabelecidas sobre o perfil predominante na área de compliance:
“Integro uma área que, de forma geral, muitos acreditam que apenas advogados podem compor mas que, na verdade, fica muito mais rica e completa com a colaboração de diferentes visões, de profissionais com diferentes formações”, ressalta.
Quando Esperança pensa em inovação, logo vêm à mente todas as coisas que já se passaram em sua vida, sendo uma pessoa negra e da periferia.
“Por todos os ambientes que transito hoje, pensando em carreira e lazer, há o protagonismo branco com base em uma jornada muito bem pensada e mentorada”, diz a analista do EBANX. Ela se refere à mentoria para além da simples figura de um mentor, em particular sobre a família estruturada, com posses, contatos e rede de apoio diária: Esperança aponta que esse ambiente de apoio doméstico inegavelmente influencia e acelera o desenvolvimento de uma pessoa, de forma natural.
Esperança frisa que sua função atual lhe traz muito orgulho, não só pelo fato de estar aprendendo algo novo, mas pelo fato de que anteriormente, não se sentia pertencente a espaços como o que atualmente ocupa, em uma das maiores startups do país.
“Anos atrás, eu acharia que seria uma coisa impossível e sequer me entenderia como merecedora de estar aqui. Mesmo minha mãe – que me criou sendo auxiliar de limpeza, com a ajuda da minha tia – talvez não acreditasse,” conta Esperança. “Eu não acreditava em mim, porque não me enxergava nestes lugares, atingindo certos protagonismos, e isso está diretamente relacionado à representatividade.”
A especialista em compliance associa inovação a diversidade. Ela ressalta que, sem diversidade, a inovação é apenas mais um dos contos de fadas branco – e não há método ágil que preencha essa lacuna.
“Eu estar aqui hoje pode ser o incentivo para que outra pessoa negra e da periferia esteja também aqui amanhã. E, com isso, todos os lados ganham”, aponta, acrescentando observações sobre a necessidade de garantir a representatividade de negros nos negócios:
“O Brasil é um país extremamente diverso e é necessário trabalhar para que isso se reflita em todos os espaços, pois a bagagem cultural que cada um de nós carrega constrói nossos talentos e impacta diretamente em projetos e tomadas de decisão.”
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Divulgação Bárbara Lima, Loft
Paulistana da Vila Prudente, Bárbara Lima é coordenadora comercial na Loft desde maio de 2019. Aos 26 anos, tem oito anos de experiência em prospecção, negociação e relacionamentos com clientes e é apaixonada por temas relacionados à liderança e desenvolvimento de equipes de alta performance.
Formada em publicidade e propaganda pela PUC-SP, Bárbara morou em Nova York, em 2016, e antes disso atuou em áreas de trade marketing de empresas como Pfizer e JTI. Trabalhou ainda como analista de negócios da Câmara Americana. Ela também é a mãe da pequena Ágatha, de 2 anos.
Poucos meses depois de se juntar à Loft, fundou o Colors, um dos grupos de diversidade da startup. Desde então, está à frente dos projetos desta célula e é responsável por apresentá-la formalmente aos novos funcionários da startup durante o processo de onboarding.
Desde que começou a trabalhar na proptech, Bárbara foi promovida a gerente de contas, com a bagagem adquirida em gestão de resultados e desenvolvimento de processos para tornar a área mais humanizada. Galgou mais um degrau ao tornar-se coordenadora da equipe. Neste posto, criou a divisão de gestão de contas, responsável pelo contato e consultoria de corretores e clientes. Atualmente, lidera um time de dez pessoas.
Segundo Bárbara, inovação “não é necessariamente a construção de algo que nunca foi visto. Inovar é pensar que resultados podem ser extraídos de uma situação, desafio ou hipótese.”
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Divulgação Érica Candido, 99
Filha de uma professora e um técnico químico vindos de Minas Gerais para construir a vida em São Bernardo do Campo, Érica Candido é gerente sênior de compras para a América Latina na 99. Aos 33 anos de idade, lidera a equipe responsável pelas categorias de marketing, operações, comunicação, B2B, segurança, tecnologia de informação e experiência do consumidor (CX) – esta última sendo uma das áreas que mais exige inovação no unicórnio de mobilidade, o primeiro do Brasil, que foi vendido para a chinesa DiDi Chuxing em 2018.
Amante dos esportes, praticante de corrida de rua e de meditação, Érica atuou em multinacionais como a GE, Avon e Mary Kay antes de chegar na 99. Desde que chegou na startup em 2018, atuou em diversos grandes projetos, como a implementação e gestão de centros de atendimento ao cliente no Brasil e em outros países da América Latina, bem como o lançamento da operação da empresa no Chile e a criação de diversos em novos negócios.
Além de sua função atual, Érica também atua no grupo 99 Afro e incentiva constantemente a inovação. Para ela, o conceito está ligado à “expansão de território das possibilidades habituais em qualquer situação, criar o novo dentro do já existente.”
As práticas aplicadas para evolução na função de CX da 99 fazem parte da caixa de ferramentas usadas por Érica para aplicar inovação no desempenho de suas funções na startup, onde busca questionar “como fazer melhor, como entregar a experiência de forma diferenciada, como revolucionar o último melhor resultado.”
Segundo Érica, que é graduada em administração com ênfase em comércio exterior com MBA em logística e Supply chain management pela FGV, inovar passa por acreditar que nada está em estado final, e que sempre é possível revolucionar, habilidades que considera fundamentais para os profissionais do futuro.
“Busco aplicar inovação em tudo que faço, não somente no ponto técnico, mas também no desenvolvimento psicológico e emocional. Lidero minha equipe buscando aplicar um mix das boas técnicas de gestão, desenvolvendo uma estratégia para cada colaborador, com foco no crescimento profissional e intelectual”, frisa.
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Divulgação Rodrigo Freitas Gaião, Nubank
O mineiro de Governador Valadares (MG) e recifense de corpo e alma Rodrigo Gaião é o líder global de sourcing e recrutamento de tecnologia no Nubank. Formado em psicologia, teve suas primeiras experiências profissionais em saúde mental e no sistema penitenciário até chegar ao universo do recrutamento e da tecnologia.
No banco digital desde 2017, Rodrigo é responsável pela definição das estratégias e planos táticos de recrutamento do Nubank. Também cuida da elaboração de ferramentas que auxiliem na identificação de profissionais das áreas de engenharia de software, produto, data science, design e business.
Desde que se juntou à fintech, faz parte do grupo de profissionais negros da empresa, o Nublacks, e já participou da criação de eventos de recrutamento focados em diversidade. Em 2019, foi um dos responsáveis pela estratégia da contratação de mais de 300 engenheiros e engenheiras que atuaram diretamente no crescimento da empresa, no lançamento de produtos e funcionalidades para os mais de 26 milhões de clientes do banco digital.
Antes do Nubank, Rodrigo passou por empresas como a Randstad, Allis, Asap, Linx e Thoughtworks, onde atuou em vários subsistemas de recursos humanos. Porém, mas foi na área de recrutamento que descobriu sua paixão em encontrar, engajar e contratar grupos de talentos específicos ao redor do mundo.
Para ele, inovação é a execução com propósito. “É importante, antes de tudo, perceber, analisar e entender que inovação é oportunidade direta de transformar profundamente a vida de várias pessoas. Com isso em mente, podemos viabilizar projetos e produtos que sejam inclusivos e desafiem o status-quo enquanto promovem acessibilidade e equidade”.
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Divulgação Priscila Theodoro, Loggi
O início da vida profissional em tecnologia de Priscila Theodoro, que se deu aos 38 anos de idade na Loggi, está bem distante das rotas de carreira tradicionais. Nascida na Cidade Tiradentes, no extremo leste da cidade de São Paulo, Priscila passou a adolescência movida pelo objetivo de não engravidar e encontrou no estudo o caminho para mudar sua vida.
Priscila trabalhou e estudou dos 15 aos 23 anos, quando se formou em administração de empresas. “Com a minha auto-estima totalmente acabada, tinha em mente que a única coisa que poderia fazer da minha vida profissional seria me tornar funcionária pública concursada”, conta. Um período de cinco anos trabalhando em um órgão público culminaram em sérios problemas de saúde física e mental.
Em 2017, através do trabalho do marido em uma grande empresa de tecnologia, Priscila teve seu primeiro contato com o setor de tecnologia e, a partir daí, iniciou sua grande virada profissional. Trabalhou na Diaspora.Black, startup de turismo e valorização da cultura negra e logo depois na Reprograma, organização sem fins lucrativos que ensina programação para mulheres e as insere no mercado de trabalho. Na Reprograma, teve seu primeiro contato com a programação: “foi amor à primeira vista”, lembra.
Com muitos medos e se aproximando dos 40 anos de idade, Priscila começou sua transição de carreira, passou no processo seletivo da Laboratoria, startup social que, assim como a Reprograma, ensina programação para mulheres e as reinsere no mercado de trabalho. A Laboratoria faz parcerias com empresas e 11 de suas alunas hoje trabalham na Loggi – e Priscila é uma delas.
Exatamente um ano depois desta grande mudança de carreira, Priscila se tornou professora na Reprograma e atual como desenvolvedora de software front end na Loggi. A programadora atua na equipe de gestão de base, que é responsável pela Leve, plataforma que possibilita que associados da Loggi montem uma base de distribuição e façam sua gestão de entregas. Para ela, a inovação é a “habilidade de se reinventar, estar disponível para o aprendizado e utilizar habilidades anteriormente adquiridas.”
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Divulgação Tairik Pio, Wildlife
Aos 27 anos, Tairik Pio já tinha vivido muita coisa antes de se juntar à Wildlife em abril deste ano como people experience partner, onde é responsável pela experiência de novos colaboradores que ingressam na empresa, o chamado processo de onboarding.
Natural de Suzano (SP), Tairik conta que vem de uma família muito simples e que estudou em escola pública integralmente. Em 2011, ao concluir o ensino médio e técnico em química no Centro Paula Souza, Tairik foi selecionado por um concurso nacional para representar o Brasil no programa Jovens Embaixadores, que o levou aos Estados Unidos para fazer várias apresentações sobre o Brasil e vivenciar a cultura americana, experiência que incluiu um encontro com [a ex-senadora e secretária de Estado norte-americana] Hillary Clinton.
Se formou em relações internacionais na PUC-SP por meio do Prouni e, desde o primeiro mês da faculdade, focou em estágios e passou por grandes empresas do setor de tecnologia como IBM, Samsung e Mastercard. Quando se formou, em 2014, ganhou uma bolsa de estudos e estagiou como pesquisador assistente na National Defense University, em Washington DC. “Minha trajetória de vida e carreira são marcadas pelo potencial transformador que a educação pode ter na vida de alguém”, conta.
Nos últimos anos, passou por startups como o Nubank e Skore, sempre atuando em programas de onboarding e cultura. Para Tairik, inovação é “a capacidade de desenvolver soluções e criações que possam transformar o modo como fazemos e percebemos o mundo.”
“Seja com a aplicação de alta tecnologia e ideias inovadoras, ou a simples revisão crítica do modo como percebemos a realidade, inovar é rever e modificar nossa própria percepção dos problemas e desafios atuais”, aponta.
Ana Esperança Rodrigues da Silva, EBANX
Graduada em Jornalismo e em Cinema e, agora começando uma pós-graduação em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global, Ana Esperança Rodrigues da Silva entrou no EBANX, no time de customer services, em 2015. O período anterior ao ingresso da curitibana de 32 anos na fintech tinha sido desafiador, já que Esperança não conseguia encontrar um trabalho na área audiovisual, que era seu foco até então, ou mesmo em outras funções.
“Eu precisava de um emprego e assumi o fato de ter de começar um novo ciclo, com recomeços”, relembra. Desde seu ingresso no EBANX, Esperança passou pelas equipes de todos os canais de atendimento disponibilizados na época dentro da equipe de customer services.
“Isso me fez aprender muito sobre a empresa, a dinâmica que envolve estar em um ambiente de start up e o que isso exige”, aponta Esperança, que depois foi para a equipe de end user, que pensa em novos produtos da empresa.
“[A equipe de end user] tinha um formato de squad, e eu tinha contato com diversas áreas em um time só. Isso me fez acessar muitos conteúdos e conceitos que, na minha jornada, por vir de onde venho, não eram algo comum para mim”, ressalta.
Esperança hoje é analista sênior da equipe de compliance da startup. Focada em governança, seu objetivo é apoiar a sustentabilidade das operações e a proteção dos valores da empresa através da disseminação de uma cultura de integridade. Ela conta que sua função atual é motivo de orgulho, pois vai contra crenças estabelecidas sobre o perfil predominante na área de compliance:
“Integro uma área que, de forma geral, muitos acreditam que apenas advogados podem compor mas que, na verdade, fica muito mais rica e completa com a colaboração de diferentes visões, de profissionais com diferentes formações”, ressalta.
Quando Esperança pensa em inovação, logo vêm à mente todas as coisas que já se passaram em sua vida, sendo uma pessoa negra e da periferia.
“Por todos os ambientes que transito hoje, pensando em carreira e lazer, há o protagonismo branco com base em uma jornada muito bem pensada e mentorada”, diz a analista do EBANX. Ela se refere à mentoria para além da simples figura de um mentor, em particular sobre a família estruturada, com posses, contatos e rede de apoio diária: Esperança aponta que esse ambiente de apoio doméstico inegavelmente influencia e acelera o desenvolvimento de uma pessoa, de forma natural.
Esperança frisa que sua função atual lhe traz muito orgulho, não só pelo fato de estar aprendendo algo novo, mas pelo fato de que anteriormente, não se sentia pertencente a espaços como o que atualmente ocupa, em uma das maiores startups do país.
“Anos atrás, eu acharia que seria uma coisa impossível e sequer me entenderia como merecedora de estar aqui. Mesmo minha mãe – que me criou sendo auxiliar de limpeza, com a ajuda da minha tia – talvez não acreditasse,” conta Esperança. “Eu não acreditava em mim, porque não me enxergava nestes lugares, atingindo certos protagonismos, e isso está diretamente relacionado à representatividade.”
A especialista em compliance associa inovação a diversidade. Ela ressalta que, sem diversidade, a inovação é apenas mais um dos contos de fadas branco – e não há método ágil que preencha essa lacuna.
“Eu estar aqui hoje pode ser o incentivo para que outra pessoa negra e da periferia esteja também aqui amanhã. E, com isso, todos os lados ganham”, aponta, acrescentando observações sobre a necessidade de garantir a representatividade de negros nos negócios:
“O Brasil é um país extremamente diverso e é necessário trabalhar para que isso se reflita em todos os espaços, pois a bagagem cultural que cada um de nós carrega constrói nossos talentos e impacta diretamente em projetos e tomadas de decisão.”
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