A Tentei Voar, startup que busca compensação por problemas causados pelas companhias aéreas com antecipação de recebíveis aos passageiros, acaba de ser adquirida por um fundo de investimentos. Por questões contratuais, Gabriel Khawali, fundador e CEO da empresa, não pode revelar o nome do comprador, nem o valor envolvido, mas diz que permanecerá como executivo da operação por, pelo menos, 12 meses.
Com a negociação, a Tentei Voar vai fazer parte de um negócio que vai muito além das indenizações do setor aéreo, mas que contempla o mesmo modelo de atuação em outras áreas – como trabalhista, cível, consumerista e precatórios, responsabilizando-se por todo o processo e assumindo os riscos. Os valores, nestes casos, tendem a ser bem maiores. “A ideia é simplificar a vida de quem tem direitos, mas não sabe nem por onde começar a pleiteá-los, ou daqueles que, por qualquer motivo, não podem esperar a resolução judicial.”
Ao contrário da maior parte dos empreendedores do ecossistema das startups, Khawali não cursou uma universidade de ponta – ele nem sequer se formou – ou tirou um período sabático para se especializar no exterior. “Como não parava em faculdade nenhuma, comecei trabalhar muito cedo”, conta. Sua primeira experiência foi no mercado de consórcios. Aos 21 anos, gerenciava uma equipe de 35 pessoas. Depois disso, atuou em marketing no setor de incorporação e foi representante comercial de matéria-prima para o segmento de construção, onde ganhou dinheiro suficiente para começar a construir e vender imóveis no interior de São Paulo, principalmente dentro das especificações do programa governamental Minha Casa Minha Vida.
“Em 2014, o mercado ficou muito ruim, com falta de investimentos de empresas estrangeiras e uma queda brusca nos financiamentos imobiliários. Por sorte, eu já tinha vendido quase tudo que tinha construído e estava capitalizado”, diz. “Essa situação me permitiu arriscar.” E foi isso que ele fez, desta vez com vistas ao setor de tecnologia. “Quebrei três startups”, lembra, rindo. “Perdi dinheiro, tive que devolver recursos captados aos investidores, desisti de uma ideia pela qual era apaixonado. Mas aprendi muito sobre negócios e evolui como pessoa.”
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Esse MBA da vida levou Khawali a se sentir pronto para lançar no Brasil uma ideia que tinha conhecido em Portugal. “Eu estudei o modelo de negócio e falei com alguns consultores e advogados para saber se ele se adaptaria ao mercado brasileiro.” Assim surgiu, em 2019, a Tentei Voar, que antecipa uma indenização para passageiros prejudicados por atrasos ou cancelamentos de voos e extravios de bagagem. “Muita gente não procura seus direitos por falta de tempo ou de vontade de recorrer às vias legais. O que fazemos é adiantar um valor que consideramos justo, e que varia dependendo do problema, em troca da cessão dos direitos. “Todos os custos envolvidos são nossos, assim como os valores das indenizações quando os processos chegarem ao fim.”
O empreendedor de 32 anos diz que apenas cerca de 10% das pessoas que enfrentam imbróglios causados pelas companhias aéreas tomam providências e exercem seus direitos de consumidor. “Meu objetivo é justamente captar esses 90% que deixam o assunto pra lá”, diz ele, explicando que o adiantamento do dinheiro sai em até 24 horas. “O primeiro caso foi em março do ano passado, contra a Latam. Conseguimos um acordo com a companhia aérea em um tempo menor do que eu imaginava, com uma rentabilidade também superior à minha previsão.”
A partir daí, Khawali passou a investir em marketing de influência para aumentar a escala do negócio. “O Instagram foi fundamental para o negócio”, revela. Da porta para dentro, o processo foi automatizado, mas o contato com os clientes continuou sendo humanizado. “Nem todo mundo tem a facilidade de usar uma plataforma”, conta. “Esse atendimento personalizado acabou formando uma legião de promotores que, espontaneamente, nos promovem nas redes sociais.”
Desde sua criação, a Tentei Voar atendeu 1.700 clientes. No ano passado, faturou R$ 2 milhões, com margens que giram em torno de 70%. Sobre o futuro, Khawali diz que, ao final de um ano, terá a chance de decidir entre continuar e ser sócio do fundo ou sair. “Neste momento, o negócio está muito alinhado com o meu propósito. Mas também tenho uma veia empreendedora muito forte”, diz.
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