O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, afirmou hoje (24) que a volatilidade cambial incomoda e está sendo estudada pela autoridade monetária, mas que há entendimento de que os instrumentos dos quais o BC dispõe não são adequados para atuar nesse sentido.
“Mas vamos ver como evolui nosso entendimento sobre o tema e se há algo que possamos fazer para atuar, dependendo naturalmente do entendimento”, afirmou ele em live promovida pela XP Investimentos.
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“Antes de adotar o remédio a gente precisa entender qual é a doença. O sintoma é essa volatilidade elevada, qual é a doença ainda precisa ser entendido.”
Segundo o diretor, os instrumentos do BC não são feitos para a autarquia atuar numa volatilidade como a que tem ocorrido, numa janela intradiária ou de dois dias, por exemplo.
Ainda sobre o comportamento do real, Serra reforçou que o nível do câmbio não é importante e que, quando o BC entende que há disfuncionalidade, está “excepcionalmente bem equipado para atuar no mercado para qualquer lado”, com colchão de reservas internacionais “mais do que suficiente”.
Ele disse que a diminuição dos juros básicos afeta a decisão de hedge (proteção) de empresas e famílias e que houve reflexo disso no patamar do dólar frente ao real.
Serra também frisou que, após o governo eliminar distorção ligada a operações de hedge por bancos pela assimetria tributária então existente, houve redução de um terço da posição de overhedge pelas instituições entre março e maio, o que causou demanda adicional de dólar que não foi vista em outros emergentes.
“De junho adiante o câmbio parou de ser aquele câmbio unidirecional, onde só tem um comprador, mas de fato a gente tem um fenômeno mais novo, mais recente, que é essa volatilidade um pouco acima do que a gente gostaria”, disse.
Mais cedo nesta semana, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, havia afirmado que, independentemente das causas, outros países do mundo adotaram dois tipos de remédio em relação à volatilidade –atuação com opções ou intervenções em corredor– e que ambos mostraram resultados considerados não satisfatórios. Campos Neto também disse sobre o tema que quanto menos intervenção houver no mercado, melhor.
Hoje, Serra disse que o BC não possui instrumento aprovado para atuar no mercado de opções e que fazê-lo “não seria algo simples”. Ele também disse que a maioria dos BCs que foram por esse caminho no passado acabaram retroagindo.
Quanto à eventual postura mais ativa do BC, atuando no câmbio nos dois lados para lidar com a volatilidade, o diretor avaliou que a alternativa parece ter mais ônus que benefícios.
“Vai ficar parecendo que o BC está atuando numa espécie de corredor, que está calibrando o nível de câmbio para cima e para baixo, acho que isso não seria desejável.”
DECISÃO SOBRE OS JUROS
Em relação aos próximos passos da política monetária, Serra afirmou que o BC segue de olho no ritmo da recuperação econômica e que isso será fundamental para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) entre 4 e 5 de agosto. Atualmente, a Selic está na mínima histórica de 2,25% ao ano.
“Nesse momento o que é decisivo é entender o tamanho do hiato, a recuperação para frente e essa distribuição entre setores ao longo do processo”, afirmou.
Serra reiterou que o recado de política monetária está expresso nos documentos oficiais do BC. “Lá está escrito que espaço para política monetária é residual e naturalmente está reforçado pela minha fala”, disse.
O IPCA-15, prévia da inflação oficial, subiu 0,30% em julho, abaixo do esperado, e Serra sinalizou que o dado, divulgado nesta manhã, é somente um e ainda não foi devidamente avaliado pelo BC.
“Não estamos muito preocupados com inflação de curtíssimo prazo”, afirmou.
MUDANÇA PARA INDÚSTRIA DE FUNDOS
Em meio à queda substancial dos juros básicos no país, o diretor de Política Monetária reconheceu que a poupança tem atraído investimentos por sua rentabilidade, ao passo que os fundos de mais baixo risco têm ficado com rentabilidade muito similar à da tradicional caderneta, o que constitui um desafio para o sistema.
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“Indústria de fundos vai precisar se reinventar, vai precisar oferecer mais fundos com risco, renda fixa mais longa, taxa de administração provavelmente vai ser pressionada, mas é um processo que leva tempo”, disse.
Ele também ponderou se haverá demanda no direcionamento de poupança para todo o volume que está sendo captado. Segundo Serra, essa é outra ótica que passou a ser colocada pelo BC mais recentemente, mas que ainda não representou uma restrição para a decisão de política monetária.
“A decisão de política monetária foi meta de inflação e, mais recentemente, o otimismo que o Comitê de Política Monetária manifestou em relação ao cenário básico para atividade que naturalmente se transforma num hiato menor e num otimismo para a gente entregar a meta (de inflação) de 2021 em relação à projeção base de 3,2%”, disse.
“Agora a cada reunião a gente tem que rediscutir esse cenário.” (Com Reuters)
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