O dólar fechou em firme alta ante o real hoje (17), ganhando fôlego na parte da tarde enquanto a bolsa de valores brasileira renovava máximas da sessão e os juros futuros caíram, o que para analistas indica mais um dia de câmbio pressionado por operações de hedge em meio a juros baixos, elemento integrante do debate sobre a maior volatilidade cambial.
O dólar à vista subiu 1,02%, a R$ 5,3824 na venda. A moeda oscilou entre alta para R$ 5,3915 (+1,19%) e queda a R$ 5,3164 (-0,22%). Com os ganhos desta sexta, o dólar fechou a semana com valorização acumulada de 1,10%. Em julho, a divisa recua 1,06%. No ano, o dólar dispara 34,13%. Mais uma vez, o real liderou as perdas globais a despeito do dia bastante positivo no mercado acionário brasileiro. O Ibovespa fechou a sexta em alta de 2,35%, segundo dados preliminares, somando ganhos de 2,9% na semana. “Mais uma vez real depreciando enquanto a bolsa sobe. Esse combo reforça a análise de que o mercado compra dólar para proteção”, disse Thomas Gilbertoni, especialista em investimentos da Portofino. A sexta também foi de queda nos juros futuros, o que pode indicar expectativas de novos cortes da Selic, atualmente na mínima recorde de 2,25% ao ano. No fim de 2019, o juro estava em 4,50%, contra 6,50% ao final de 2018.
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A baixa nos juros diminui os retornos embutidos na renda fixa em reais, deixando a moeda brasileira em desvantagem em relação a seus pares emergentes –que oferecem rendimentos mais altos com menor nível de risco. Por outro lado, os menores custos de financiamento elevam o apelo das ações como ativos para investimento. O mercado compra bolsa, mas, para reduzir o risco associado a incertezas domésticas, ao mesmo tempo toma dólares, cujo custo de carregamento está mais barato por causa dos juros no piso. A Selic perto do que seria um limite mínimo suscita debates sobre o risco de a taxa estar ou entrar em desequilíbrio com os patamares de risco macro, o que segundo algumas teses estaria contribuindo para a pressão cambial e volatilidade mais alta. Nesse contexto, analistas discutem os níveis de tolerância do Banco Central à volatilidade da taxa de câmbio doméstica, a mais alta entre as principais divisas emergentes. Na véspera, quando a “gangorra cambial” prosseguiu e o real liderou a valorização entre cerca de 30 pares do dólar, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a autarquia ainda não tem uma boa explicação sobre as causas do aumento da volatilidade do câmbio no país e que continua investigando a questão. Mas Campos Neto afirmou ter a sensação de que a volatilidade tende a diminuir. “Sem querer, Campos Neto acabou adicionando volatilidade à moeda, na medida em que você vê a autoridade monetária dizer que não sabe o que está causando (a volatilidade)”, disse um profissional do mercado que preferiu não ser identificado.
“Isso acaba gerando incerteza para o investidor, porque se espera que a autoridade monetária tenha clareza do que está acontecendo para gerenciar a situação”, completou.
A volatilidade implícita para o real dentro de três meses está em 17,2% ano, contra cerca de 14% do peso mexicano e 11% da lira turca.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, calculou que o real está cerca de R$ 0,21 desvalorizado em relação a uma cesta de emergentes, depois de, em março, a moeda ter mostrado sobra de valorização na casa de 40 centavos de real. “Houve o choque da pandemia, o que mudou a dinâmica das contas públicas e gerou incerteza sobre a dívida pública no médio e longo prazo”, disse, acrescentando que o fato de o real estar mais desvalorizado ante os pares não necessariamente indica que a moeda caminha para fechar esse “gap”. (Com Reuters)
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