O dólar fechou em firme alta ante o real hoje (14) amparado pela demanda de investidores por proteção antes do fim de semana, conforme o mercado adota cautela com o noticiário fiscal. O dólar à vista terminou a sexta em alta de 1,12%, a R$ 5,4274 na venda. A cotação oscilou entre apreciação de 1,41%, para R$ 5,443, e queda de 0,18%, a R$ 5,358.
Com os ganhos desta sexta, o dólar acabou subindo 0,27% na semana, revertendo queda acumulada até a véspera. A moeda sobe 4,00% em agosto e 35,25% em 2020, o que faz do real a divisa de pior desempenho do ano e a de terceira maior queda no mês –melhor apenas que peso chileno e lira turca.
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A gangorra no mercado cambial persistiu, com a moeda brasileira voltando a ocupar o posto de pior desempenho na sessão entre as principais divisas, um dia depois de liderar os ganhos e dois dias após ser lanterna entre seus pares.
“São poucos players atuando de verdade no mercado, que fica sujeito a essa volatilidade”, disse um gestor em referência ao pregão desta sexta. Outro afirmou que, como pano de fundo, há um “mal-estar forte” com Brasil, sobretudo por causa das discussões no campo fiscal.
A incerteza no âmbito das contas públicas foi o tema da semana, que contou com elevação de tom da parte do ministro da Economia, Paulo Guedes, depois da saída, na terça, de dois dos mais importantes secretários da pasta. A tensão chegou a tal ponto que forçou o presidente Jair Bolsonaro e os chefes das casas legislativas a afinar o discurso em defesa do teto de gastos e do equilíbrio fiscal em fala à imprensa na quarta-feira (12). Mas, na quinta (13), Bolsonaro admitiu discussões internas no governo sobre furar o teto de gastos públicos e ainda fez críticas ao mercado financeiro, do qual cobrou “patriotismo”.
Pesquisa da XP Investimentos mostrou nesta sexta-feira que a maioria dos investidores institucionais consultados vê alguma forma de ajuste no teto de gastos para permitir despesas adicionais em 2021. De acordo com a sondagem, o dólar poderia ir a R$ 6,50 em caso de ausência desse mecanismo.
“A fala de ontem (de Bolsonaro) pode ter causado algum ruído hoje, mas é preciso entender o contexto. Ele reconheceu as pressões, e isso já se sabia”, disse Daniel Tatsumi, gestor de moedas da ACE Capital. Tatsumi afirmou que, fazendo ajustes, o nível atual de R$ 5,40 por dólar equivale aos recordes perto de R$ 5,90 vistos em maio. Com isso, ele entende que o real está excessivamente depreciado para o curto prazo, citando que, contra o peso mexicano, a moeda brasileira está nas mínimas em vários anos.
“Temos uma posição vendida em dólar, pequena, porque achamos que os preços estão esticados”, disse, citando elevadas posições compradas em dólar por parte de fundos via contratos na B3 e as transações correntes relativamente saudáveis do Brasil. “Fundamentalmente, porém, a lentidão do crescimento estrutural do Brasil e a falta de juros altos jogam contra o real no médio prazo”, ponderou.
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, avaliou hoje que é um fato que o diferencial de juros mais baixo leva a um nível mais alto de câmbio, mas pontuou que não é tão simples fazer essa ligação para explicar a volatilidade cambial.
A volatilidade implícita nas opções de dólar/real para três meses –uma medida da incerteza em relação à taxa de câmbio– subiu a 20,06%, nas máximas desde o começo de julho. O real tem a segunda maior volatilidade implícita entre as principais divisas emergentes, a uma curta distância da volatilidade associada à lira turca (20,56%). (Com Reuters)
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