O dólar fechou em leve alta ante o real nesta terça-feira (15), abandonando queda de mais de 1% registrada mais cedo, com operadores adotando postura mais conservadora diante de novo ruído envolvendo a equipe econômica e o presidente Jair Bolsonaro, tendo de pano de fundo constantes receios sobre a trajetória das contas públicas.
O dólar à vista subiu 0,27%, a R$ 5,2889 na venda. Na máxima, a moeda foi a R$ 5,3007 (+0,49%), depois de na mínima (atingida ainda na primeira hora de negócios) descer a R$ 5,221, queda de 1,02%.
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Na B3, o dólar futuro avançava 0,28% às 17h19, para R$ 5,2880.
O mercado reagiu com cautela a declaração de Bolsonaro, em tom irritado, de que o governo não irá mais criar o programa Renda Brasil e de que continuará apenas com o Bolsa Família.
A decisão de enterrar o programa veio depois de uma série de informações de medidas duras que a equipe econômica estaria analisando para tentar financiar o programa.
“Quem por ventura vier propor para mim medidas como essas eu só posso dar um cartão vermelho para essa pessoa”, disse Bolsonaro. A fala, assim, foi entendida como um recado à equipe econômica, chefiada por Paulo Guedes, que já acumula desgastes no governo, e voltou a colocar na pauta incertezas sobre a permanência de Guedes –visto como fiador de políticas de austeridade fiscal– no cargo.
Porém, durante a tarde, Guedes tentou baixar a tensão ao atribuir a decisão do presidente de acabar com o Renda Brasil a uma posição política que considerou correta após distorção de informação feita pela mídia.
Mais cedo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), havia defendido, em entrevista ao Estadão/Broadcast, congelamento temporário de aposentadorias, uma das propostas criticadas por Bolsonaro em vídeo no qual anunciou a desistência do Renda Brasil.
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No mercado, o entendimento é que todo esse contexto agrava percepção de dificuldade para se fechar o Orçamento sem riscos a um rompimento do teto de gastos em 2021. A nova “dura” dada por Bolsonaro na equipe econômica, via redes sociais, piora a sensação de perda de força do time de Paulo Guedes nas decisões tomadas pelo presidente Bolsonaro.
Alguns operadores, contudo, lembraram que o programa Renda Brasil seria uma forma de Bolsonaro deixar um legado em termos de distribuição de renda aos mais necessitados, o que gera dúvidas sobre a real disposição do presidente de abandonar a ideia, em meio a melhora em seus índices de popularidade depois da concessão do auxílio emergencial.
O tom de maior cautela do mercado também se deu na véspera das decisões de juros no Brasil e nos Estados Unidos, com expectativa de estabilidade nas taxas básicas em ambos os países: 2% no Brasil e zero-0,25% nos EUA.
Mais um dia de pressão no mercado de renda fixa, com aumento de deságio das LFTs (títulos atrelados à Selic) nas negociações do mercado secundário, tampouco ajudou a melhorar os ânimos no mercado cambial.
No médio prazo, contudo, o cenário para o câmbio parece melhor, conforme análises de Bank of America e Morgan Stanley.
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Em pesquisa com gestores de fundos da América Latina, o BofA relatou que 65% esperam que o dólar fique abaixo de R$ 5,30 ao fim deste ano (contra 59% no mês passado), com 44% vendo a moeda abaixo de R$ 5,10.
Já o Morgan Stanley ainda vê o real como a moeda mais barata no universo emergente, o que, com um posicionamento de mercado “relativamente neutro”, ampara expectativa de alguma alta da divisa brasileira frente ao dólar e a seus pares emergentes. (Com Reuters)
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