Na noite de ontem (29), os candidatos à Casa Branca Joe Biden (Democrata) e Donald Trump (Republicano) estiveram frente a frente pela primeira vez em um debate marcado por ofensas pessoais, gritos e ataques entre os presidenciáveis.
Trump e Biden se enfrentam nas urnas em 34 dias em um contexto desafiador. Os Estados Unidos acumulam mais de 200 mil mortes por coronavírus e mais de 7 milhões de infectados. Na economia, o mercado de trabalho esboça leve recuperação, com dados de setembro revelando a criação de 749 mil postos de trabalho, apesar dos pedidos por auxílio-desemprego permanecerem em altos patamares, com 870 mil solicitações realizadas na semana encerrada em 19 de setembro.
Também reflexo do coronavírus, espera-se nesta eleição uma ampliação no número de votos enviados pelo correio no país. Embora não seja uma novidade no sistema eleitoral norte-americano, o volume de votos neste ano deve atrasar o resultado das eleições e aumentar as tensões sociais no país. As autoridades já se preparam para um aumento da violência nas próximas semanas em função do acirramento da disputa.
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No debate de ontem, Trump endossou a retórica de que o envio das cédulas eleitorais pelo correio irá resultar em fraudes nas urnas e que o próximo nome para a Casa Branca pode ser decidido pela Suprema Corte dos EUA.
O mercado de ações, como usual em períodos pré-eleitorais, acompanha o contexto político com cautela e volatilidade. Para o bem ou para o mal, embora não decida as eleições, o mercado costuma antecipar a economia real e, por sua vez, os fatores que a impactam, como o cenário político.
O que aponta o mercado para as eleições nos EUA?
Uma análise do “The Wall Street Journal” sobre o desempenho histórico do S&P 500 no período pré-eleitoral pode nos dar algumas pistas das expectativas do mercado para a disputa do dia 3 de novembro.
Segundo o jornal, em 1932, 1960 e 2008, todos anos em que os democratas venceram os republicanos na disputa pela Casa Branca, o S&P 500 atravessou os três meses que antecederam as eleições em um mercado de urso. O mesmo aconteceu em 1952, 2000 e 2016 quando os republicanos tiraram os democratas do poder.
A análise mostra ainda que, desde 1928, em 90% das vezes em que houve a reeleição do candidato ou partido no poder, o S&P 500 experimentou uma tendência altista nos três meses anteriores à eleição.
O mercado é influenciado por muitos outros fatores e tendências, mas setembro foi um mês de grande volatilidade para o S&P 500, com recuo de quase 6% no acumulado do mês. Já no trimestre encerrado hoje (30), os ganhos são de 8,5% para o índice. Se o S&P 500 irá, mais uma vez, apontar o caminho do resultado eleitoral, só o tempo irá dizer. As próximas semanas prometem movimentar o humor dos investidores.
Resultado das urnas vs. investimentos
Em relatório divulgado neste mês, o time de Análise Política e Estratégia Macro da XP Investimentos elaborou uma análise com três diferentes cenários para as eleições nos EUA e, em apenas um deles, o presidente Donald Trump aparece reeleito.
O primeiro deles, considerado o mais provável pelos especialistas da corretora, aponta Joe Biden eleito com um Congresso dividido. A Câmara dos Representantes, o equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, seria composta por maioria democrata, enquanto os republicanos manteriam o controle do Senado.
“Consideramos que seria um cenário positivo para os investimentos, já que as propostas mais arrojadas de Joe Biden teriam que ser negociadas e moderadas para ser aprovadas. Além disso, um resultado eleitoral acirrado daria pouco espaço para que a ala mais progressista, que defende propostas como quebrar o monopólio de empresas de tecnologia ou a proibição de seguros de saúde privados, ganhe maior influência nas decisões da Casa Branca”, afirma o relatório.
Para Erminio Lucci, CEO do BGC Liquidez, do grupo BGC Partners, uma vitória de Biden resultaria em uma política menos agressiva contra os parceiros comerciais norte-americanos. “Reduzir a tensão comercial que acompanha o governo de Trump poderia resultar numa possível redução nos riscos geopolíticos e na volatilidade dos mercados com efeitos positivos para ativos de países emergentes”, aponta.
Já o segundo cenário da XP aponta Trump reeleito em um Congresso dividido, algo semelhante ao quadro político atual, com republicanos mantendo a maioria no Senado e os democratas na Câmara. Este também é um cenário positivo para os mercados, segundo o relatório, já que uma vitória de Donald Trump representa a manutenção do sistema de saúde atual e o não aumento dos impostos no país.
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“A reeleição de Trump daria continuidade aos atritos comerciais com a China, assim como a adoção de um possível pacote de investimentos em infraestrutura com efeitos para o mercado interno norte-americano, ao dólar e às ações em Wall Street”, avalia Lucci, do BGC.
Em ambos os cenários, a XP projeta o S&P 500 em 3.550 pontos e o Ibovespa em 155 mil pontos até o fim de 2020, com taxa de câmbio a R$ 5,20 por dólar.
Já o terceiro cenário, considerado menos provável, indica Biden eleito com ampla vantagem e um Senado também democrata, uma possibilidade considerada menos favorável para os investimentos, já que novo presidente teria menos resistência na implementação de propostas mais arrojadas, como o aumento de tributos, regulação antitruste mais agressiva e controles de medicamentos. Os setores que poderiam ser mais afetados neste cenário, de acordo com o a XP, seriam o farmacêutico e de energias não renováveis.
Alberto Bernal, estrategista global da XP, acredita que o “S&P poderia cair até 2.900 pontos no final do ano, 18% abaixo do cenário base atual”, impactando o Ibovespa, que ficaria entre “90-93 mil pontos, cerca de 10% abaixo do nível atual e 19% abaixo do cenário base”.
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