O Banco Central atualizou seu teste de estresse para estimar os efeitos do choque da Covid-19 sobre o sistema financeiro nacional e avaliou que, numa situação extrema, perdas relacionadas a empresas e trabalhadores vulneráveis exigiriam um aporte de R$ 35 bilhões para que as instituições cumprissem limites regulatórios mínimos, impacto 50% menor que o divulgado em maio.
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Em seu Relatório de Estabilidade Financeira lançado hoje (15), o BC pontuou que o novo teste levou em conta dados observados, ao passo que o antigo havia se baseado em premissas teóricas. A necessidade de aporte apurada agora seria equivalente a 3,5% do total do Patrimônio de Referência do Sistema Financeiro Nacional (SFN).
“Apesar da mudança metodológica, o fator que mais contribui para essa melhora foi a recuperação dos fluxos de recebimento de vários setores da economia até agosto de 2020, após a queda acentuada em abril e maio”, disse o BC no documento.
“Esses resultados corroboram a capacidade do SFN para absorver os choques provenientes dos efeitos da pandemia, mesmo sob hipóteses severas”, acrescentou.
No relatório, o BC avaliou que o sistema financeiro do país entrou no desafiador período do surto de coronavírus bem capitalizado, bem provisionado e com liquidez elevada. Disse ainda que as medidas implementadas pelo governo reforçaram essas condições de resiliência para o enfrentamento ao aumento do risco de estabilidade financeira.
“Os mercados financeiros funcionaram adequadamente, e o balanço do sistema bancário cresceu consideravelmente no primeiro semestre de 2020, com elevado volume de captações e suprimento de crédito para a economia real no ritmo mais acelerado dos últimos cinco anos”, disse.
Numa frente, o BC reconheceu que, em meio ao quadro de crise, a taxa Selic de 2% ao ano, seu piso histórico, pode gerar aumento da volatilidade de preços de ativos e afetar a dinâmica do sistema financeiro e do mercado de capitais.
Na quarta-feira (14), contudo, o diretor de Política Monetária do BC, havia ressaltado que a raiz fiscal estaria por trás do ajuste de prêmio nos títulos públicos e que essa situação não derivaria da taxa básica de juros no atual patamar.
No relatório desta manhã, o BC frisou que segue atento ao desenrolar das ações implementadas durante a crise, olhando especialmente para a redução do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300, e para o comportamento das dívidas que tiveram suas parcelas postergadas conforme termina a carência concedida.
“(O adiamento do pagamento das dívidas) teve êxito em aliviar a liquidez de curto prazo dos clientes bancários e em preservar a solvência das instituições financeiras, mas pode ter postergado a materialização do risco de crédito”, alertou o BC.
Para mitigar esse risco, o sistema bancário aumentou seu volume de provisões e apresentou, em junho de 2020, um dos maiores índices de cobertura de Ativos Problemáticos (APs) da série, de 87,83%, destacou o BC.
O nível só perde para o observado em março deste ano (87,89%) e, antes disso, em 2015, em setembro (89,45%), outubro (88,81%) e novembro (88,65) – meses marcados pela preocupação com os rumos fiscais do país após a perda do grau de investimento diante da deterioração das contas públicas.
RENTABILIDADE
Justamente em função do aumento das provisões para perdas com crédito, a rentabilidade do sistema bancário medida pelo retorno sobre patrimônio líquido (ROE) caiu no primeiro semestre deste ano a 11,2%, ante 17,8% no mesmo período do ano anterior.
Numa janela de 12 meses, o ROE do sistema bancário recuou a 13,6% em junho, ante 16,7% em dezembro do ano passado.
“A perspectiva para o segundo semestre de 2020 é de estabilidade da rentabilidade do sistema. Essa perspectiva está ancorada, sobretudo, na possibilidade de menor necessidade de provisionamento, na queda do custo de captação e na recuperação gradativa da atividade econômica”, disse o BC.
“No entanto, a incerteza quanto ao cenário para 2021 continua elevada. O cenário deve ficar mais claro conforme as medidas temporárias de combate à crise forem sendo removidas, o que permitirá ter uma dimensão mais precisa sobre os efeitos da pandemia da Covid-19 na inadimplência do sistema”, complementou. (Com Reuters)
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