Os consultores financeiros norte-americanos estão preparando os seus clientes para a possibilidade de Joe Biden fazer de Donald Trump presidente de um mandato, com potencial de mudanças nos impostos e novas regulações. Mas enquanto se preparam para uma Casa Branca liderada pelos democratas, muitos investidores permanecem cautelosos.
Os desafios à votação apresentados pela Covid-19, combinados com a retórica hostil do presidente, deixaram alguns investidores preocupados com uma reeleição do republicano. O diretor de investimentos do KeyBank, George Mateyo, diz que existe o temor de se repetir a eleição de 2000, quando semanas de atraso no resultado levaram à quebra dos mercados. O impasse na Flórida entre George W. Bush e Al Gore em 2000 demorou até dezembro para ser resolvido. Durante o período, que foi cheio de incertezas e recontagens, o S&P 500 despencou quase 10% no final de novembro.
Angeline Newman, vice-presidente sênior do UBS Group e SHOOK Top Women Advisor da Forbes, diz que os neste ano, seus clientes estão preocupados de uma forma nunca antes vista em três décadas como conselheira. Para seus clientes, ela recomenda manter as preferências políticas fora de seu portfólio, alertando-os a misturar suas opiniões com a percepção do desempenho ou perspectivas do mercado.
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Embora a eleição deva roubar as manchetes nas próximas semanas, o pleito ainda está em segundo plano em relação aos casos crescentes de Covid-19. Em evidência nas últimas semanas, a segunda onda das infecções tem limitado o desempenho dos mercados, apesar de relatórios econômicos mostrando uma recuperação do PIB e eleições menos incertas nos EUA.
O chefe de alocação de ativos do UBS, Jason Draho, disse que a perspectiva otimista de uma onda azul vem acompanhada de temores sobre impostos mais altos e mais regulamentação.
Mateyo acrescenta que qualquer partido que assuma o controle em janeiro fará do estímulo econômico uma prioridade, mas se os democratas assumirem o controle, o pacote provavelmente será maior, algo em linha ao Heroes Act, pacote de US$ 2,2 trilhões aprovada pela Câmara dos Deputados – controlada pelos democratas – no início deste mês.
Em seus portfólios, os investidores norte-americanos já se movimentam: 64% deve realizar mudanças antes da eleição, e 55% estão consideram o mesmo depois. Apesar dos planos, apenas 40% dos investidores haviam conversado com seus respectivos assessores sobre a eleição no início de outubro, segundo pesquisa do UBS.
Nos quatro meses desde que ingressou na Hightower Advisors, a estrategista-chefe de investimentos, Stephanie Link, participou de 30 webinars diferentes para consultores e investidores sobre a eleição. Ela afirma que uma onda azul já é esperada pelo mercado, levando a investimentos em serviços de saúde, cannabis e energia renovável. O cenário seria menos favorável para as farmacêuticas e para os papéis das gigantes de tecnologia, sendo que estes últimos poderiam enfrentar retrocessos, inclusive, com governos republicanos. Por outro lado, Link acredita que o mercado também pode subir se os republicanos continuarem na Casa Branca, cenário que beneficiaria os serviços financeiros e indústrias de defesa.
Em relatório do UBS Group, a diretora de investimentos Solita Marcelli diz que os investidores veem a eleição dos democratas como um catalisador para uma política fiscal expansionista e de combate à deflação, com o dólar americano mais fraco, substituindo a perspectiva inicial de que uma vitória democrata seria negativa para as ações. Além disso, a liderança estável e ligeiramente crescente de Biden nas pesquisas está reduzindo a incerteza de um resultado eleitoral contestado ou atrasado, cenário temido pelos investidores.
“A mensagem principal é estar preparado, os consultores precisam saber qual seria o plano se A ou B vencerem”, diz ela. “A expectativa aumenta porque Biden foi muito aberto sobre suas propostas para os impostos sobre alta renda.”
No radar dos investidores de alta renda estão preocupações como um aumento nos impostos para os assalariados que ganham mais de US$ 400 mil por ano e mudanças nas regras de transmissão de patrimônios para herdeiros.
Com o atual Congresso e a Casa Branca incapazes de aprovar um grande pacote de estímulos antes da eleição, fechar um acordo de apoio à economia será provavelmente a prioridade em um potencial governo Biden. Relegando para 2022 questões relacionadas aos impostos para altas faixas de renda.
Cenários de uma onda azul ou com uma vitória surpresa de Trump ainda estão na mesa, embora Link acredite que uma vitória de Biden e uma divisão do Congresso seja o resultado que os mercados mais gostariam, deixando de lado impasses, especialmente se ambos os lados trabalharem por mais infraestrutura e por estímulos de combate ao alto desemprego no país.
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