Uma apreciação do real é “inevitável”, mas esse movimento não ocorrerá sem volatilidade em meio aos problemas fiscais no Brasil e à ausência do “carry” antes oferecido pela moeda brasileira, disse Gabriel Gersztein, estrategista-chefe global para mercados emergentes do BNP Paribas, que vê taxa de câmbio “mais perto de” R$ 4, R$ 4,25 ao fim de 2021, considerando um manejo fiscal responsável.
O dólar era cotado em R$ 5,3856 nesta sexta (20). As contas do BNP embutem apreciação nominal do real entre 26,7% e 34,6%.
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Segundo Gersztein, o real é hoje a moeda mais barata dentre as principais do universo emergente, depois de uma depreciação nominal de 24,5% neste ano ante o dólar.
Melhora nos termos de troca, alta das commodities, expectativa de recuperação da economia global em 2021 e cenário de dólar fraco no mundo nos próximos meses, todos esses elementos com o excesso de fraqueza da divisa doméstico, preparam o terreno para valorização cambial em 2021, diz o executivo do banco francês.
O BNP está “overweight” (com recomendação acima da média do mercado) para o real, além de rublo russo, ringgit malaio, renminbi chinês e rupia indonésia. O banco também aposta em peso mexicano e rand sul-africano, mas com “um pouco menos de convicção”, devido à apreciação recente vista nas duas divisas.
Outro fator que respalda o cenário para o real, na avaliação de Gersztein, é a percepção de que o Brasil vinha nos últimos meses sendo deixado de lado nas alocações para emergentes.
“Se a gente tiver a sinalização de que a dinâmica fiscal deste ano será exceção, não regra, e considerando que o Brasil está ‘subinvestido’, ou seja, com espaço para receber capital, temos um quadro claro para busca por ativos brasileiros”, disse.
“O Brasil tem várias estrelas que estão se alinhando: (crescimento da) China, dólar fraco, retomada econômica global, gringo ainda ‘subinvestido’ no país…”, completou.
Contudo, o problema das contas públicas mantém a volatilidade dentro dessa tendência de melhora para o câmbio, avaliou Gersztein. Ele vê a volta do “carry” (retorno em taxa de juros) do real como elemento “necessário”, mas “insuficiente”, para um alívio no câmbio, mas enxerga o melhor manejo da questão fiscal como algo em si “suficiente”.
“Não é uma questão de bloquear ou não mais auxílio emergencial, mas pelo menos de haver alguma sinalização por parte do establishment político de que há responsabilidade e consciência fiscal”, disse.
“Se ano que vem virmos que o resultado primário (deste ano) for exceção, veremos apreciação do real muito forte”, afirmou Gersztein, citando taxa de câmbio “mais perto de” R$ 4, R$ 4,25 no término de 2021. (Com Reuters)
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