Os preços dos alimentos voltaram a pesar com força bem como as passagens aéreas, e a inflação oficial brasileira seguiu em ritmo forte em outubro, marcando o resultado mais elevado para o mês em 18 anos.
Em outubro, o IPCA acelerou a alta a 0,86%, de 0,64% em setembro, de acordo com os dados informados hoje (06) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado marca a maior inflação para um mês de outubro desde 2002, quando foi de 1,31%, e também é a taxa mais elevada no ano.
No acumulado dos 12 meses até outubro, o IPCA registrou avanço de 3,92%, contra 3,14% em setembro, e com isso fica praticamente no centro da meta para este ano, que é de 4% com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
As expectativas em pesquisa da Reuters eram de alta de 0,83% em outubro, acumulando em 12 meses avanço de 3,90%.
O IBGE explicou que a maior variação e o maior impacto no índice do mês vieram do grupo Alimentação e Bebidas, cujos preços subiram 1,93%, embora tenham desacelerado sobre o avanço de 2,28% visto em setembro.
Essa desaceleração se deveu principalmente a altas menos intensas em alguns alimentos para consumo no domicílio (2,57%), como o arroz (13,36% de 17,98% no mês anterior) e o óleo de soja (17,44% de 27,54%).
Por outro lado, o avanço de 18,69% nos preços do tomate foi mais intenso do que em setembro, enquanto frutas (2,59%) a batata-inglesa (17,01%) subiram após recuo no mês anterior.
“Isso tem a ver com a oferta desses produtos e também se dá por conta do dólar mais alto, que fomenta exportações e restringe o oferta aqui”, explicou o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.
Tanto o pagamento do auxílio emergencial de combate ao coronavírus quanto o câmbio favorável às exportações vêm pressionando os preços dos alimentos, o que já levanta preocupações de uma alta mais disseminada dos preços.
“O auxílio emergencial ajuda a sustentar os preços nesse patamar de inflação mais elevado”, completou Kislanov.
Transportes, com alta de 1,19%, também exerceu impacto relevante em outubro depois que as passagens aéreas subiram 39,83%, sendo o maior impacto individual no índice geral.
“A alta nas passagens aéreas parece estar relacionada à demanda, já que com a flexibilização do distanciamento social algumas pessoas voltaram a utilizar o serviço, o que impacta a política de preços das companhias aéreas”, completou Kislanov.
Por sua vez, os custos de serviços subiram em outubro 0,55%, de uma alta de 0,17% em setembro puxados por passagens aéreas, mas também por outros serviços como barbeiro, manicure, turismo, hospedagem e aluguel de carro, segundo o IBGE.
Outubro também marcou o maior índice de difusão do ano, de 68%, o que dá a ideia de que “a inflação não é só de alimentos. As altas estão mais espalhadas pelo IPCA”, segundo o gerente da pesquisa.
“Isso pode sinalizar uma retomada gradual da economia. O espalhamento maior do IPCA pode ser um indicativo de retomada gradual da economia após um período recessivo na pandemia”, disse Kislanov
O Banco Central reconheceu na semana passada uma pressão inflacionária mais forte no curto prazo, mas manteve sua mensagem de orientação futura e a porta aberta para eventual corte nos juros básicos à frente.
Depois de manter a Selic em 2%, frisou que as projeções e expectativas de inflação seguem “significativamente” abaixo da meta para o horizonte relevante.
De acordo com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, a alta recente da inflação é temporária, minimizando a duração de todas as frentes de pressão identificadas para o avanço de preços na economia, mas frisou estar “obviamente” monitorando o movimento.
O BC vê alta do IPCA de 3,1% em 2020 e 3,1% em 2021, enquanto o mercado calcula respectivamente avanços de 3,02% e 3,11% na mais recente pesquisa Focus.
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