Com uma bandeira do Brasil nas costas e a voz embargada, há um ano, Guilherme Benchimol abria o pregão da Nasdaq oficializando a estreia da XP Inc. no mercado de capitais norte-americano com uma plateia de brasileiros tão emocionada quanto o líder da já gigante de Porto Alegre. A XP chegava à Nasdaq avaliada em US$ 15 bilhões, no segundo maior IPO de uma empresa brasileira nos EUA, o mesmo que R$ 61,8 bilhões pela cotação do dólar no dia anterior, a R$ 4,15, com os seus papéis saindo a US$ 27 (acima da faixa indicativa que era US$ 22 e US$ 25 por ação).
Antes, em 2017, a XP já havia ensaiado sua listagem em Bolsa, desta vez, na B3. Os planos foram cancelados após a entrada do Itaú na sociedade da empresa, que comprou 49,9% da XP por R$ 6 bilhões em maio de 2017. Com a diluição dos sócios, a alternativa regulatória foi abrir capital nos Estados Unidos, já que no país existe a ação super ordinária, também conhecida como “super ON”, que permite a pulverização do capital e, ao mesmo tempo, a manutenção do controle dos negócios com apenas 10% de participação.
Fundada em 2001 por Benchimol e o amigo, Marcelo Maisonnave, o nascimento da XP foi permeado de desafios comuns aos empreendedores, como pequenos empréstimos de familiares e a venda de carros para investir na empresa. Por isso, a listagem na Nasdaq dezoito anos depois, com uma plateia composta pela família, amigos e 120 agentes autônomos, tinha o gosto de vitória e missão – parcialmente – cumprida.
No fechamento do primeiro pregão, as ações da XP tinham valorizado para US$ 34,46. Menos de três meses depois, em 6 de março, a companhia enfrentava os primeiros reveses de se negociar em um mercado tão competitivo como o norte-americano: um escritório de advocacia disponibilizava os seus serviços para investidores interessados em processar a empresa brasileira. O motivo era um relatório da casa de análises forense The Winkler Group, indicando irregularidades contábeis e discrepâncias de auditoria nas divulgações financeiras da XP. Neste dia, os papéis da empresa de Benchimol afundaram 13%, negociados a US$ 30,99.
Em dezembro de 2019, a China registrava os primeiros casos de covid-19 na cidade de Wuhan, dando início a um período de grandes incertezas, que se refletiram nos mercados globais. Assim, em menos de 20 dias após o impacto do relatório da The Winkler, o papel testaria novas mínimas, negociado a US$ 16,96 no fechamento, acompanhando as grandes perdas de outros ativos diante dos lockdowns e quarentenas para conter o avanço do coronavírus em todo o mundo. A crise, no entanto, não tinha origem econômica, motivo que favoreceu uma recuperação mais rápida do que o esperado pelos mercados.
Apesar dos percalços, a XP Investimentos não parou de crescer e deu início ao processo de criação do Banco XP. Com autorização do Banco Central e lançamento de um cartão de crédito em parceria com a Visa, a companhia contratou José Berenguer, ex-presidente do JP Morgan no Brasil, para ocupar a principal cadeira da XP Investimentos.
A XP foi pioneira no Brasil em um tema hoje, quase 20 anos depois, muito em alta: a educação financeira. Como não poderia ser diferente, a companhia colhe os frutos do conteúdo difundido entre milhares de brasileiros sobre como investir na bolsa, riscos e oportunidades do mercado financeiro. Em seu balanço do terceiro trimestre de 2020, a empresa reportou lucro líquido ajustado de R$ 570 milhões, crescimento de 119% em relação ao mesmo período do ano anterior, com avanço de 55% na receita líquida, totalizando R$ 2,1 bilhões. Em 1 de setembro, o preço dos papéis da empresa alcaçavam a marca de US$ 51 na Nasdaq.
No início deste mês, quase um ano depois da listagem, a XP Inc. fez uma segunda oferta primária de ações no mercado norte-americano, processo conhecido como follow-on, com os papéis negociados ao preço unitário de US$ 39, movimentando US$ 1,2 bilhão. Do montante, US$ 956,4 milhões foram para o Itaú, que vendeu 4,2% da participação que tinha na empresa.
Do discurso emocionado no IPO e em meio a um ano conturbado no mercado, os papéis da XP acumulavam variação positiva de 7,6% após 365 dias – fechamento de ontem (10) – , bem abaixo do desempenho do Nasdaq Composite, que cresceu mais de 43% no período, sustentado, principalmente, pelo forte rally nos preços dos papéis de tecnologia que compõem o índice. No aniversário da listagem, a ação da empresa operava em queda de 1,16% às 12h28, horário de Brasília, negociada a US$ 35,85, acompanhando o pessimismo nos mercados globais na sessão.
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.