Vencedor de um concurso de startups no Vale do Silício e crescendo mensalmente entre 30% e 40%, o TruckPad é uma das companhias nacionais que tem impactado o setor logístico, mas o desafio de colocar o projeto para rodar enfrentou barreiras nada simples: convencer caminhoneiros de que, pelo celular, poderiam encontrar fretes seguros e receber por isso, tudo de forma digital.
A saída encontrada pelo CEO e fundador do TruckPad, Carlos Mira, foi distribuir smartphones para que caminhoneiros pudessem testar o aplicativo. Poucos anos mais tarde, a startup planeja expansão para a América Latina e é uma das investidas da gigante logística Full Truck Alliance. Com 1,2 milhão de downloads, 500 mil motoristas registrados e expectativa de fechar 2020 com R$ 2 bilhões em fretes ofertados, Mira fala ao Forbes Money sobre os desafios e perspectivas para o ‘Uber das estradas’.
Forbes Money: Como é conectar caminhoneiros em um país de dimensões como o Brasil?
Carlos Mira: Para iniciar o projeto, eu tive que comprar os primeiros smartphones e entregar para os caminhoneiros usarem e testarem o nosso app. Também eram raras as transportadoras que acreditavam que poderiam localizar e contratar um caminhoneiro pela internet. O TruckPad foi o primeiro aplicativo de cargas para caminhoneiros do mundo. Aqui no Brasil, o sistema foi registrado no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) em julho de 2012. Hoje, este cenário mudou: mais de 90% dos motoristas de caminhões tem internet embarcada em seus telefones celulares – o que ajudou muito na popularização do nosso aplicativo.
No começo, os caminhoneiros eram reticentes em colocar suas informações pessoais no sistema. Hoje, já fazem de forma mais confortável. A popularização da internet móvel empoderou fortemente os profissionais das estradas, haja vista a paralisação que eles coordenaram em 2018, basicamente, com um smartphone em suas mãos e as redes sociais à sua disposição.
FM: Quais os desafios do mercado logístico no Brasil e na América Latina?
CM: Um dos maiores desafios do mercado atualmente é a informalidade que encontramos nas estradas. Devido a grande burocracia para que os motoristas recebam seus pagamentos de forma legal, muitos optam por aceitar viagens informais, se aventurando sem um centavo no bolso. Os caminhoneiros rodam milhares de quilômetros apenas por vales de abastecimento. Atualmente, existe uma moeda informal chamada ‘carta-frete’. Com a evolução tecnológica, estamos tentando acabar de vez com essa informalidade e valorizar o trabalho da classe, tornando cada vez mais fácil realizar processos burocráticos e sempre de forma homologada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Os profissionais têm total acesso às suas notas e já disponibilizamos até mesmo carteiras digitais, como o TruckPad Pay.
FM: Qual o montante do investimento realizado pela Full Truck Alliance e como funciona a parceria com a companhia chinesa?
CM: A chinesa Full Truck Alliance (FTA ) acabou de receber um aporte de US$ 1,7 bilhão em investimento para suas operações. A companhia é o maior ‘marketplace digital de fretes’ do mundo, gerando anualmente cerca de US$ 100 bilhões em fretes em sua plataforma. O FTA é o maior investidor do TruckPad e o primeiro aporte na operação brasileira foi realizado no final de 2019. Além do investimento financeiro, temos um acordo de cooperação técnica e operacional, o que nos deu muita velocidade no aprendizado sobre este segmento. Desde a entrada do FTA na sociedade, o TruckPad quadruplicou seu quadro de funcionários e almeja terminar o ano de 2020 com cerca de R$ 2 bilhões em fretes movimentados na plataforma.
FM: O TruckPad tem planos de expansão na América Latina. Em quais países a empresa deve atuar, cronograma e volume de investimentos?
CM: A pandemia postergou um pouco os nossos planos de avanço para toda a América Latina, mas ainda em 2021, devemos iniciar as operações em alguns países onde já temos presença digital, como o Paraguai e a Colômbia.
FM: Quais são as verticais de crescimento do TruckPad em longo prazo?
CM: Apostamos muito no nosso marketplace de cargas, no meio de pagamento digital de fretes e no nosso marketplace de peças e serviços que tem o apoio de grandes marcas, como Mercedes-Benz, Michelin e ZF.
FM: Quais os efeitos da pandemia sobre o mercado logístico: tendências foram antecipadas, novos desafios surgiram?
CM: A pandemia afetou diversos setores da economia, com o segmento de logística não foi diferente, mas sabemos que a área de transportes não pode parar. Durante esse período, o setor teve de se reinventar, adotar protocolos de segurança e se adaptar a esse novo normal, já que o mundo todo depende dos transportes.
FM: Como funciona o gerenciamento de riscos das operações do TruckPad?
CM: Temos acordos operacionais e estamos integrados com as chamadas gerenciadoras de risco, que conferem a idoneidade dos operadores de transporte no Brasil. Toda operação é feita digitalmente, conferindo mais segurança para transportadores autônomos e contratantes de fretes que usam a nossa plataforma.
FM: Assim como a FTA, o TruckPad também tem planos para um IPO?
CM: Sim, toda ‘boa’ startup imagina dar retorno para seus investidores e a saída para um IPO é sempre considerada, mas temos também vários operadores estratégicos deste setor que nos acompanham com bons olhos.
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