A corrida para comercializar a tecnologia de carros autônomos atraiu bilhões de dólares em investimentos, mas não criou muitos bilionários. O fundador e CEO da Luminar, Austin Russell, está entre as raras exceções. Com a listagem na Nasdaq da empresa de sensores a laser que fundou aos 17 anos, o prodígio da óptica é um dos primeiros bilionários a emergir no mundo dos veículos autônomos –e o mais jovem self-made dono de uma conta bancária de mais de dez dígitos do mundo.
“Tem sido incrivelmente intenso, cansativo… tudo o que tivemos que passar todos os dias para conseguir expandir. E, claro, é incrivelmente recompensador ter a oportunidade de chegar até aqui, estrear no mercado de capitais e crescer por meio deste IPO spac”, disse Russell, de 25 anos, à Forbes por meio de uma entrevista em vídeo de seu escritório em Palo Alto, na Califórnia. “Eu ainda sou relativamente jovem, mas muito sangue, suor e lágrimas já passaram por aqui. Tive a sorte de ser capaz de manter uma fatia grande o suficiente.”
VEJA TAMBÉM: Uber vende unidade de autônomos para startup Aurora em negócio de US$ 4 bi
De fato boa o suficiente. As 104,7 milhões de ações de Russell, cerca de um terço do patrimônio líquido da Luminar, valiam US$ 2,4 bilhões no fechamento do pregão da Nasdaq em 26 de novembro. A listagem, anunciada em agosto, foi resultado de uma fusão com a empresa de aquisição de propósito específico Gores Metropoulos, uma unidade da companhia financeira The Gores Group, com sede em Beverly Hills, e elevou o valor de mercado da Luminar para US$ 3,4 bilhões antes do início das negociações. Os investidores na nova empresa de capital aberto incluem o bilionário Peter Thiel (patrimônio líquido: US$ 4,6 bilhões), que ajudou Russell a dar o pontapé inicial da Luminar tornando-o um Thiel Fellow (programa de bolsas de incentivo do bilionário) em 2012; o fundo de tecnologia da Volvo Cars; Alec Gores do The Gores Group, outro bilionário (US$ 2,2 bilhões) que também é membro do conselho da Luminar; e o bilionário Dean Metropoulos, presidente da empresa.
Thiel, o cofundador do Paypal que criou um programa de bolsas de incentivo no valor de US$ 100 mil para jovens de destaque que querem seguir seus sonhos fora da universidade, tem sido conselheiro de Russell desde que ele deixou Stanford para fundar a Luminar em 2012. Como mentor, Thiel não está apenas impressionado pelo intelecto do bilionário da nova tecnologia, mas também por sua capacidade de manter uma fatia significativa da Luminar enquanto ela mudava do conceito de negócio de garagem para ser uma empresa listada na Nasdaq.
“Você pode construir um negócio de bilhões de dólares, mas isso não significa que pode se tornar um bilionário”, diz Thiel. “É notável do ponto de vista do capital reter uma participação financeira desse tamanho.”
Russell, que fez parte da lista Under 30 da Forbes de 2018, não quer disputar com gigantes da tecnologia autônoma como a Waymo, da Alphabet, ou a Cruise, apoiada pela GM, mas em vez disso está aperfeiçoando sensores que ajudam carros autônomos a “ver” seus arredores, refletindo um feixe de laser em objetos que estejam à sua volta. Conhecida como lidar (do inglês “light detection and ranging” e “detecção e alcance de luz”, na tradução livre), a tecnologia é fundamental para veículos sem motoristas. Neste nicho, a Luminar está competindo diretamente com a Velodyne, a primeira líder em lidar para veículos autônomos, e a recém-chegada Aeva –ambas também estão abrindo capital por meio de fusões do tipo spac. Russell vendeu protótipos de sensores para grandes empresas automotivas nos últimos anos, mas, mais recentemente, recebeu pedidos de produção de Volvo Cars, Daimler e da subsidiária Mobileye da Intel que podem garantir o crescimento da receita da empresa por alguns anos.
A Luminar provavelmente vai registrar apenas US$ 15 milhões em vendas neste ano, mas pode chegar a pelo menos US$ 1,3 bilhão até 2026, com base nas estimativas do relatório da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês).
As habilidades de Russell ultrapassam as paredes do laboratório para a sala de reuniões, segundo Alec Gores, que ajudou a organizar a listagem da Luminar na Nasdaq. “Quando estávamos negociando, ele esteve à frente de tudo, de todos os pequenos detalhes. Algumas pessoas com mais tempo de experiência, que estão no ramo há 40 não entendem essas coisas, mas Russell dedicou um tempo para estudar como funcionam as spacs”, diz ele. “Eu olho para esse cara e digo: ‘você fez mais perguntas do que qualquer pessoa que eu já tenha visto e que está nisso há muito tempo.’”
E AINDA: Walmart vai testar entregas com veículos elétricos autônomos
O esguio Russel, de 1,80m, com cabelos aloirados desgrenhados e uma barba clara combinando, acumulava realizações notáveis muito antes de seu novo status de bilionário. Ele memorizou a tabela periódica de elementos aos 2 anos de idade e adaptou seu console de videogame Nintendo DS para um telefone celular ultrapassado quando estava na sexta série depois que seus pais o proibiram de ter um. Aos 13 anos, ele entrou com seu primeiro pedido de patente: um sistema de reciclagem de água subterrânea que coleta água dos aspersores de jardim para os próximos ciclos de regagem, reduzindo o desperdício. Em vez de frequentar o ensino médio, ele passou sua adolescência na Universidade da Califórnia, no Instituto Beckman Laser de Irvine.
Em seguida, veio a admissão em Stanford para estudar física, mas não durou muito tempo. Ele desistiu no meio de seu primeiro ano depois de receber a bolsa de incentivo de US$ 100 mil da Thiel Fellowship por seu conceito lidar, fundando a Luminar não muito depois de obter sua carteira de motorista.
O lidar foi uma realização precoce para Russell. Ele acredita que tem a tecnologia tem potencial para salvar vidas tanto como parte de carros autônomos quanto como um componente de sistemas avançados de assistência ao motorista que Volvo e outras montadoras estão trazendo ao mercado nos próximos dois a três anos. Quando adolescente, Russell observou o que a Velodyne e outras empresas estavam produzindo sensores a laser, mas concluiu que uma abordagem completamente diferente era necessária para torná-los baratos o suficiente para serem onipresentes.
“Não deveria ser um jovem de 16 ou 17 anos e, posteriormente, de 25 anos a construir um negócio como este”, diz Russell. “Conseguimos acelerar nosso processo porque ninguém realmente fez isso antes.”
LEIA AQUI: Waymo e Daimler formam parceria para desenvolver caminhões autônomos
Não é um problema Russell não usar seu tempo com a mídia social ou com os requisitos gerais de um ensino sufocante universitário e médio. Ao contrário da maioria dos jovens de 25 anos, ele não tem contas no Twitter nem no Instagram, mas confessa ter aprendido a maior parte do que sabe sobre o mundo com o ávido consumo conteúdos explicativos do Wikipedia e YouTube.
Como um bilionário da Geração Y, Russell também pensa no impacto de suas ações. Embora ele não tenha projetos imediatos de filantropia como Bill Gates, ele vê sua contribuição na erradicação de acidentes automobilísticos. “Quando isso se tornar uma nova e moderna tecnologia de segurança integrada em todos os veículos produzidos globalmente, é quando eu poderei dizer com firmeza que atingimos as metas estabelecidas.”
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.