No início de outubro, o XC40 Recharge se apresentou ao mundo. Primeiro Volvo movido exclusivamente por energia elétrica, o SUV compacto será fundamental para a marca sueca alcançar a ambiciosa meta de reduzir em 40% a emissão de carbono até 2025, ano em que a empresa deixa no passado os modelos equipados apenas com motor a combustão. Toda a produção de 2020 já está esgotada – o que deixa evidente o apetite do consumidor por essa tecnologia.
Por aqui, os planos são ainda mais radicais. “A partir do ano que vem, não dará mais para comprar um Volvo que não tenha motor elétrico”, antecipa João Oliveira, diretor geral de operações e inovação da Volvo Cars do Brasil. Ou seja, o que a empresa planeja globalmente para 2025 a filial brasileira alcançará em 2021. E, claro, o XC40 Recharge (que vem de Ghent, na Bélgica) tem passaporte carimbado para o Brasil. Contudo, recebê-lo demandará uma rede de eletropostos abrangente. Daí o investimento de R$ 12 milhões de recursos próprios em mil pontos de recarga – 700 deles instalados até o fim do ano, e 300 concluídos no primeiro trimestre de 2021. “Mil pontos é o que a Tesla alcançou nos EUA em 2019”, compara Oliveira.
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Tal estrutura não atenderá apenas ao futuro SUV elétrico, mas também aos demais modelos híbridos da marca, que já somam quase 4 mil unidades no Brasil. O primeiro deles foi o XC90, lançado em 2017, que combina um motor a combustão (2.0 quatro-cilindros turbo) a um elétrico (instalado no eixo traseiro) para somarem 407 cv. Mesmo o sedã S60 Polestar, lapidado pela divisão esportiva da Volvo, conta com um empurrãozinho da eletricidade.
Para alívio dos entusiastas, a Audi nem pensa em abrir mão da linha de superesportivos RS, que acaba de ser renovada e ampliada. Mas, no mundo e no Brasil, começa a priorizar também os elétricos. Só em 2020 foram dois lançamentos por aqui: e-tron e e-tron Sportback. Embora ofereçam autonomia de 450 quilômetros, similar à de um tanque de gasolina, os SUVs (sim, por ora esse tipo de carroceria domina o segmento) não podem recorrer a um posto convencional a cada esquina. Por isso, assim como a Volvo, a Audi investe alto em eletropostos para que seus clientes não sofram de “range anxiety”, que é a ansiedade de não chegar ao destino por falta de autonomia.
Em fevereiro, a marca anunciou R$ 10 milhões para a instalação de 200 pontos de recarga no país até 2022 – 130 deles prontos até o fim de 2021, quando a Audi terá quatro carros elétricos à venda. O montante se soma aos R$ 32,9 milhões oriundos de uma parceria com a Porsche, a Volkswagen (as três fazem parte do mesmo conglomerado automotivo) e a empresa de energia EDP para a implantação de 30 estações de recarga, sendo 29 de 150 kW e uma de 350 kW, todas operacionais em um prazo de três anos.
A ideia é incrementar o corredor que vai de Vitória (ES) a Florianópolis (SC), um dos trechos rodoviários mais importantes do país, elevando para 64 o total de postos espalhados por estradas como Tamoios, Imigrantes, Carvalho Pinto, Dom Pedro, Washington Luís, Regis Bittencourt e no Rodoanel Governador Mário Covas. Outrora restritos ao uso urbano, agora os elétricos se aventuram por estradas, o que só deve aumentar a tendência de viagens terrestres não só pelo Brasil, mas também pela América do Sul, caso nossos vizinhos estejam preparados para isso.
BMW pioneira
Aos poucos, os agentes envolvidos na mobilidade elétrica vão resolvendo um dos principais entraves, que é a possibilidade de se recarregar um carro a bateria em qualquer lugar do país. Nisso a BMW foi pioneira. No final de 2017, a marca se associou à EDP para a instalação de seis aparelhos em postos da rede Ipiranga ao longo da Rodovia Presidente Dutra. À época, seu i3 era o único modelo elétrico no país.
Quase três anos depois, a marca criou 250 postos novos (espalhados por shoppings, supermercados e postos de combustível), o i3 já emplacou 330 unidades e quatro modelos inéditos, entre híbridos e elétricos, estão a caminho. “Estamos neste exato momento [início de outubro] discutindo o tamanho dos investimentos para o próximo ano, tanto em novos produtos quanto em infraestrutura, que prevemos que cresça em dois dígitos. Debatemos se ela será mais urbana ou interurbana. Nosso cliente, por exemplo, viaja mais para o interior de São Paulo do que para o Rio de Janeiro”, explica Henrique Miranda, gerente de conectividade e responsável pela BMWi no Brasil. Outro ponto que a marca destaca é a ampliação de nove para 24 concessionários habilitados para lidar com os produtos eletrificados da fabricante.
Jaguar Land Rover e Mercedes-Benz também prometem expandir as estações de recarga. A abordagem da marca alemã quanto à mobilidade elétrica ainda é incipiente no Brasil. A alemã acaba de lançar o EQC 400, 100% elétrico, e, por isso, planeja se consolidar no segmento ao longo de 2021. “Será um ano para ouvir e compreender quais são os desejos e necessidades dos clientes, porque entendemos que não existe um único caminho para a eletrificação”, avalia Holger Marquardt, CEO da companhia.
Já o conglomerado inglês vai “contribuir para o mercado de carros elétricos inaugurando um programa de instalação de novos pontos de recarga espalhados pelo país, atendendo às praças com maior presença de modelos elétricos e híbridos. Além disso, vamos aumentar a presença dos modelos focados em eletrificação, treinando e preparando 100% dos concessionários para que estejam aptos a comercializar carros desse tipo”, afirma, sem detalhar cifras e ações, Frédéric Drouin, presidente da Jaguar Land Rover América Latina e Caribe.
O leitor não deve se preocupar com postos de recarga nascidos de marcas diferentes: a velocidade de recarga pode variar, mas todos são do tipo 2, padrão europeu adotado por aqui. Portanto, um Volvo pode ser reabastecido em uma estação com a marca da BMW, por exemplo.
De janeiro a agosto: 11 mil emplacamentos
Como a frota de modelos eletrificados ainda é pequena, natural que os recordes de emplacamentos se repitam ano após ano. Dados da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) registram um salto de 800 emplacamentos em 2013 para 12 mil em 2019. De janeiro a agosto de 2020, já são mais de 11 mil. No entanto, a previsão antes da pandemia causada pelo novo coronavírus era de 27 mil emplacamentos. O grande salto se deu em 2019, quando o setor se multiplicou de 4 mil para 12 mil unidades vendidas. O principal responsável foi o Toyota Corolla híbrido, único do tipo produzido na América Latina.
E quais são as razões para o crescimento exponencial?
“Por um lado, a sociedade está mudando e os consumidores hoje buscam por inovações tecnológicas e sustentáveis”, explica Gerold Pillekamp, gerente sênior de gerenciamento de produto da Audi do Brasil. “De outro lado, há um esforço global pela redução de emissão de poluentes, inclusive com alguns países adotando metas agressivas neste sentido.” Segundo Pillekamp, com base neste contexto, as empresas estão desenvolvendo diversas ações no campo da sustentabilidade.
“Tal atuação hoje não é apenas no produto final, ou seja, no veículo elétrico em si, mas sim em toda a cadeia, desde a matéria-prima e produção até as concessionárias e um grande investimento de projetos de recarga para veículos elétricos.” O executivo contou que a fábrica do Audi e-tron, em Bruxelas (Bélgica), por exemplo, já é 100% neutra em carbono. “Aqui no Brasil, estamos atuando em geração de energia solar para parte das nossas operações. E inclusive temos concessionárias que já utilizam energia solar também”.
Pillekamp traçou um perfil de quem procura carros elétricos. “É uma pessoa que gosta de tecnologia e, assim que uma novidade chega ao mercado, ele quer ser um dos primeiros a adotar. Além disso, é um cliente que pensa intensamente na questão da sustentabilidade também. O desafio interessante de hoje é exatamente esse: oferecer uma gama ampla, que atenda aos desejos cada vez mais distintos de todo tipo de cliente”, analisa.
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Miranda, da BMW, acrescenta dois fatores: “Primeiro, a oferta de veículos: havia cerca de 15 eletrificados, hoje são quase 40 opções. Na BMW, tínhamos um X5 a gasolina e um a diesel, e hoje há o híbrido. Segundo: estamos há três ou quatro anos insistindo nesses produtos e na infraestrutura. Até que o mercado destravou. Hoje o concessionário está pedindo esses carros. E posso afirmar categoricamente: o cliente brasileiro é muito diferente do americano e do europeu, pois está entre os mais voltados para tecnologia. Tudo o que surge de novidade ele quer experimentar, conhecer, o que faz naturalmente que eletrificados entrem na sua lista de prioridades”.
Oliveira, da Volvo, enxerga que o consumidor do mercado premium tem demandado mais do que as marcas têm oferecido, “mas, no mercado de massa, essa cultura ainda precisa ser criada, o que faria as montadoras reagirem a essa procura”, pondera.
Veja, na galeria de fotos abaixo, os modelos de elétricos e híbridos que já estão no Brasil e os que estão para chegar:
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Divulgação MODELOS DE ELÉTRICOS E HÍBRIDOS QUE JÁ ESTÃO NO BRASIL
Audi
• e-tron: a partir de R$ 499.990 (elétrico)
• e-tron Sportback: a partir de R$ 511.990 (elétrico) -
Divulgação MODELOS DE ELÉTRICOS E HÍBRIDOS QUE JÁ ESTÃO NO BRASIL
BMW
• i3: a partir de R$ 253.950 (elétrico)
• 330e M Sport: a partir de R$ 309.950 (híbrido)
• 530e M Sport: a partir de R$ 374.950 (híbrido)
• X5 xDrive 45e M Sport: a partir de R$ 507.950 (híbrido)
• 745Le M Sport: a partir de R$ 583.950 (híbrido) -
Divulgação MODELOS DE ELÉTRICOS E HÍBRIDOS QUE JÁ ESTÃO NO BRASIL
Chevrolet
• Bolt: R$ 230.600 (elétrico)
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Jaguar
• I-Pace SE: a partir de R$ 508.950 (elétrico)
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Divulgação MODELOS DE ELÉTRICOS E HÍBRIDOS QUE JÁ ESTÃO NO BRASIL
Land Rover
• Range Rover Sport: a partir de R$ 561.950 (híbrido)
• Range Rover: a partir de R$ 768.950 (híbrido) -
Divulgação MODELOS DE ELÉTRICOS E HÍBRIDOS QUE JÁ ESTÃO NO BRASIL
Lexus
• UX: a partir de R$ 233.990 (híbrido)
• NX: a partir de R$ 277.990 (híbrido)
• RX: a partir de R$ 445.990 (híbrido)
• ES: a partir de R$ 311.990 (híbrido) -
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Mercedes-Benz
• EQC 400 4MATIC: a partir de R$ 575.000 (elétrico)
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Divulgação MODELOS DE ELÉTRICOS E HÍBRIDOS QUE JÁ ESTÃO NO BRASIL
Mini
• Cooper S E Countryman ALL4: R$ 249.990 (híbrido)
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Divulgação MODELOS DE ELÉTRICOS E HÍBRIDOS QUE JÁ ESTÃO NO BRASIL
Nissan
• Leaf: R$ 209.990 (elétrico)
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Divulgação MODELOS DE ELÉTRICOS E HÍBRIDOS QUE JÁ ESTÃO NO BRASIL
Porsche
• Cayenne E-Hybrid: a partir de R$ 459.000 (híbrido)
• Cayenne Coupé E-Hybrid: a partir de R$ 495.000 (híbrido)
• Taycan: a partir de R$ 589.000 (elétrico) -
Divulgação MODELOS DE ELÉTRICOS E HÍBRIDOS QUE JÁ ESTÃO NO BRASIL
Renault
• Zoe: a partir de R$ 203.678 (elétrico)
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Divulgação MODELOS DE ELÉTRICOS E HÍBRIDOS QUE JÁ ESTÃO NO BRASIL
Toyota
• Corolla Altis Hybrid: a partir de R$ 140.690 (híbrido)
• Prius: a partir de R$ 164.990 (híbrido)
• RAV4: a partir de R$ 219.990 (híbrido) -
Divulgação MODELOS DE ELÉTRICOS E HÍBRIDOS QUE JÁ ESTÃO NO BRASIL
Volkswagen
• Golf GTE: R$ 199.990 (híbrido)
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Divulgação MODELOS DE ELÉTRICOS E HÍBRIDOS QUE JÁ ESTÃO NO BRASIL
Volvo
• XC40: a partir de R$ 264.950 (híbrido)
• S60: a partir de R$ 295.950 (híbrido)
• XC60: a partir de R$ 305.950 (híbrido)
• S90: a partir de R$ 362.950 (híbrido)
• XC90: a partir de R$ 399.950 (híbrido) -
Divulgação MODELOS QUE ESTÃO PARA CHEGAR
Audi
e-tron S Sportback e e-tron GT
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Divulgação MODELOS QUE ESTÃO PARA CHEGAR
BMW
Linha iNext e i4
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Divulgação MODELOS QUE ESTÃO PARA CHEGAR
Peugeot
208 e-GT
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Divulgação MODELOS QUE ESTÃO PARA CHEGAR
Volvo
XC40 Recharge e mais um modelo similar
MODELOS DE ELÉTRICOS E HÍBRIDOS QUE JÁ ESTÃO NO BRASIL
Audi
• e-tron: a partir de R$ 499.990 (elétrico)
• e-tron Sportback: a partir de R$ 511.990 (elétrico)
Reportagem publicada na edição 81, lançada em outubro de 2020
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