Já se passaram 44 anos desde a aposentadoria de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. Mas, mesmo fora dos gramados, o ex-atleta segue sendo objeto de fascínio de quem é apaixonado por futebol. O “Rei”, que abandonou os gramados deixando em seu currículo 1.281 gols, três Copas do Mundo, dois Mundiais de Clubes, duas Libertadores da América e cinco Campeonatos Brasileiros, entre outros títulos, é tema de um novo documentário de quase duas horas que a Netflix lança hoje (23), e sua trajetória deve –mais uma vez– entrar nos holofotes.
Em sua carreira, Pelé atuou profissionalmente apenas por dois clubes: o Santos Futebol Clube, de 1956 a 1974, e o New York Cosmos, de 1975 a 1977. Em 1961, no auge de sua carreira, o salário de Pelé veio à tona nas páginas dos jornais. O valor era de Cr$ 2 milhões, que, segundo especialistas, corresponde a R$ 70 mil em valores atuais.
Mas e hoje? Quanto Pelé ganharia em dinheiro se ainda estivesse atuando? A Forbes conversou com especialistas em marketing digital e finanças esportivas para calcular quanto Pelé faturaria se jogasse futebol em 2021, com contratos nos moldes atuais. Segundo as estimativas, o valor alcançaria a marca de US$ 223 milhões por ano. As contas levaram em consideração valores correspondentes para cotas de patrocínio e direito de imagem (US$ 126 milhões, já com o salário anual incluso), patrocínio individual (US$ 20 milhões), cota de fidelidade (US$ 77 milhões). O valor da multa rescisória de Pelé chegaria a US$ 302 milhões.
Para calcular os números, foi preciso fazer uma comparação entre Pelé e os quatro principais e mais valiosos jogadores de futebol do mundo: o argentino Lionel Messi, do Barcelona; o português Cristiano Ronaldo, da Juventus; o brasileiro Neymar e o francês Mbappé, ambos do Paris Saint Germain.
Para Duílio Fabbri Júnior, professor e coordenador dos cursos de comunicação da Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo), é preciso considerar que Pelé jogou futebol em um contexto esportivo e econômico muito distinto do atual. Segundo ele, hoje, além do negócio das marcas ao patrocinarem os clubes, há também o próprio futebol como negócio.
“No contexto atual, Pelé teria condições de ter ganhos próximos ao patamar de Messi, que, no ano passado, recebeu cerca de R$ 120 milhões só de salário. Se pensarmos em toda a representatividade que um nome como Pelé e que o futebol brasileiro têm, esses seriam outros bônus aos ganhos”, afirmou Duílio.
Ele ainda afirma que o futebol atual tem investido mais com cuidados na saúde e nos contratos trabalhistas de jogadores, sejam com clubes internacionais, nacionais ou com patrocínios.
“Quando Pelé jogava, não era comum carreira internacional, nem contrato vitalício com marcas, as cotas de patrocínio eram modestas. Os cuidados com a saúde e com a preparação também são maiores hoje, o que faria com que um jogador com a capacidade técnica de Pelé fosse ainda mais bem trabalhado e valorizado como objeto econômico. Esse é o ‘negócio futebol’, que existe independentemente do patrocínio das marcas”, comenta o professor.
Em setembro do ano passado, a Forbes divulgou uma lista com os jogadores mais bem pagos em 2020 no mundo –com métricas semelhantes aos cálculos feitos para esta reportagem. Messi encabeça a lista com US$ 126 milhões, seguido por Cristiano Ronaldo, com ganhos de US$ 117 milhões, Neymar, com valor equivalente a US$ 96 milhões e Mbappé, US$ 48 milhões. Pelé, no entanto, ultrapassaria o argentino em muito, com US$ 223 milhões, ficando em primeiro.
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Para Amir Somoggi, gerente de marketing esportivo da Sports Value, também é preciso levar em consideração quanto valem os atletas em seus respectivos esportes. Segundo ele, Pelé seria uma junção de Cristiano Ronaldo fora de campo, com patrocínios, e Messi, com atuações e ganhos nos gramados.
“Não seria um absurdo. Bateria recordes em campo e seria midiático, já como ele era em sua época. Hoje, sem atuar, sua fortuna é equivalente a US$ 100 milhões, ou seja, mostra-se que ele teria um poder enorme se ainda atuasse. Nenhum jogador na história jamais ganhou o que o Messi ganha, então, esse atleta a bater essa marca seria o Pelé”, afirmou Somoggi.
O gerente ainda fala que o atleta deve ser tão bom midiaticamente como é dentro de campo. “Alguns criticam o Neymar, mas ele tem essa junção dentro e fora de campo. Seria o caso do Pelé, no seu auge, com 25 ou 30 anos”, disse Amir.
Documentário da Netflix
O filme de 1h e 48 minutos sobre a trajetória de Pelé que estreia hoje acompanha a jornada do brasileiro, desde o prodígio de 16 anos até se tornar o único jogador a vencer três Copas do Mundo. A obra é mais do que apenas um retrato documental da grandeza do esporte. É também a história do Brasil na década de 1960, quando o país aproveitava a fama global de Pelé e passava por um período de turbulência política.
Segundo a produção da Netflix, nunca houve um grande documentário internacional sobre Pelé –algo comparável a “Maradona” de Asif Kapadia, ou o filme de 2014 de Álex de la Iglesia, “Messi”. O maior destaque é “Pelé Eterno”, de 2004, do diretor brasileiro Anibal Massini, que é mais uma compilação de grandes gols do brasileiro do que um detalhamento de sua vida.
Para o codiretor do documentário, Ben Nicholas, a ideia sempre foi ir além do documentário comemorativo de futebol padrão, geralmente apresentando montagens de gols e chavões de especialistas e jogadores populares. “Eu acho que dá para tentar impor esse tipo de estrutura de filme em uma história como esta”, diz Nicholas.
O documentário tem também a participação e relatos de familiares, amigos e profissionais de diversas áreas que puderam acompanhar a trajetória de Pelé até 24 de outubro de 1977, a data da sua aposentadoria.
A Forbes tentou contato com Pelé, no entanto, sua assessoria respondeu que ele está com a agenda cheia de compromissos pelo menos até março.
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