As extensas fazendas de energia solar ou eólica que por muito tempo foram símbolo do futuro da energia sustentável já são uma realidade e se expandem em ritmo consistente no Brasil, onde o mercado de energia renovável deve crescer a um CAGR (Taxa Composta Anual de Crescimento, em português) de mais de 5% no período entre 2020 e 2025, segundo projeção da Mordor Intelligence, impulsionado por fatores como a maior aceitação de fontes alternativas, como a solar; e demanda por menor dependência dos combustíveis fósseis.
Mas a corrida pela transição energética não começou agora e conta com players que há alguns anos enxergam no país elementos essenciais para um mundo em que competitividade e sustentabilidade caminham de braços dados. Essa é a aposta do Engie Brasil Energia, companhia do grupo franco-belga Engie, que atua em mais de 70 países – há mais de 20 anos no Brasil – e é responsável por 6% da capacidade instalada de energia elétrica nacional, através de 11 usinas hidrelétricas, quatro termelétricas, 38 eólicas, duas solares e três à biomassa, responsáveis pela geração de 10.431MWh de energia, o suficiente para suprir, por exemplo, quase que a totalidade do consumo elétrico do Estado de São Paulo no mês de dezembro de 2020, quando as distribuidoras de energia atenderam ao consumo de 11.527 MWh.
Investimentos no futuro
Em 2016, as empresas Tractebel Energia, Engie Solar, Ineo e EMAC foram unidas sob o nome “Engie Brasil”, numa iniciativa do grupo europeu para apresentar mais do que uma unificação de suas marcas no Brasil, mas também firmar publicamente compromissos corporativos com práticas ESG (ambiental, social e governança, em português).
Cinco anos mais tarde, a estratégia de transição energética, operações descentralizadas e uso robusto de novas tecnologias estão representados em quatro grandes projetos na carteira da Engie: duas linhas de transmissão de energia (Gralha Azul, no Paraná, e Novo Estado, no Pará e Tocantins), e dois conjuntos eólicos (Campo Largo 2, na Bahia, e Santo Agostinho, no Rio Grande do Norte) que somam investimentos de mais de R$ 9 bilhões. Para 2021, a Engie estima um Capex (despesas de capital) próximo de R$ 3,2 bilhões.
“Criamos uma visão muito holística quanto à função socioeconômica da empresa. Isso tem crescido como um sentimento, como uma necessidade e como um valor entre empresas que são responsáveis e querem se perpetuar nas suas operações”, avalia Eduardo Sattamini, diretor-presidente e de Relações com Investidores da Engie Brasil.
Santo Agostinho, o projeto mais recente da companhia, tem operação comercial prevista para início até março de 2023, com aproximadamente R$ 2,2 bilhões em investimento, gerando cerca de mil empregos na região e capacidade instalada de 434 MWh na primeira fase do empreendimento, energia que será direcionada para o mercado livre de energia. De acordo com dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o consumo via mercado livre, em que geradores, comercializadores e consumidores podem negociar os preços, condições e fontes de energia consumidas, cresceu 9,1% em janeiro na comparação anual.
Energia Livre
O mercado de energia livre já representa 30% de todo o consumo de eletricidade nacional, segundo a Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel). O modelo de contratação, no entanto, é ainda restrito para empresas com demanda contratada igual ou superior a 1.500 kW, com perspectiva de redução gradativa neste limite, que em janeiro de 2024 será de 500 kW.
A expansão da contratação ao consumidor final, que hoje contrata energia de forma compulsória pela distribuidora da sua região, poderia reduzir em até 30% o custo da energia elétrica para esses usuários, projeta a Abraceel.
Na Engie – uma das maiores comercializadoras de energia livre em solo nacional – as contratações são realizadas em ambientes digitais, que permitem a gestão de contratos, a compra de energia elétrica mês a mês e a escolha de qual a fonte de energia que se deseja consumir. Apesar da posição da companhia nesta oferta, Sattamini avalia que a expansão do mercado de energia livre para outros níveis de consumo, como o de pessoas físicas, deve vir alinhado às condições de mercado e ambiente regulatório adequado, a fim de evitar desequilíbrios no mercado de energia nacional.
Em tramitação no Senado, o novo marco regulatório do setor elétrico (PLS 232/2016) foi aprovado em março do último ano na Comissão de Infraestrutura. Ele prevê, entre outras mudanças, o compartilhamento entre as distribuidoras dos custos com a migração de consumidores para o mercado livre, com o objetivo de evitar distorções aos consumidores que optarem por permanecer no mercado cativo ou que não possam migrar para o comércio livre de energia.
Desafios ESG
A descarbonização do portfólio da Engie até 2025 é uma das metas não financeiras da empresa no Brasil, mas o cumprimento do objetivo, no entanto, passa pelo desinvestimento em duas usinas termelétricas da companhia localizadas no sul do país. De acordo com Sattamini, o estabelecimento da meta de carbono zero das operações aconteceu pouco depois da Engie dar início à construção da Usina Termelétrica Pampa Sul, em 2014. “Durante todo esse processo de descarbonização tivemos que terminar construção da usina, colocar em estado de normalidade operacional, já que uma usina de carvão requer entre um a dois anos de operação para atingir um nível de excelência operacional, o que será atingido agora em 2021, e daí vamos retomar o processo de venda do ativo”, disse o executivo.
A segunda planta é a Usina Termelétrica de Jorge Lacerda, no sul de Santa Catarina, unidade que gera aproximadamente 25 mil postos de trabalho diretos e indiretos e deve ser vendida até o fim deste ano – e não fechada, como inicialmente planejado – com o objetivo de realizar uma transição com melhor adequação dos riscos e menor impacto para a economia local.
Presente num setor majoritariamente masculino, a implementação de políticas de diversidade de gênero na empresa é também uma das frentes ESG da Engie. A companhia aumentou de quatro para nove o número de mulheres nos cargos de gerência, com atualmente uma diretora (eleita recentemente) e duas mulheres no Conselho de Administração da companhia em um universo de três mil empregados.
Em 2019, o percentual de mulheres em cargos de gestão era de 13,2%, com meta de atingir 50% até 2030. “Temos uma postura cada vez mais focada em crescimento sustentável, com equilíbrio entre os diversos stakeholders, em que a gente se preocupa sim, com acionista, mas também se preocupa com governança, com sustentabilidade em longo prazo, com a relação com os nossos fornecedores, com as parcerias e equipes”, finaliza Sattamini.
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.