Por mais de 50 anos, o prognóstico do Indicador Super Bowl foi o Dia da Marmota, quando o animal deixa sua toca indicando a proximidade com a primavera no hemisfério norte. Se você acredita que um grande roedor pode prever o fim do inverno, por que não aceitar que o vencedor do Super Bowl prevê corretamente o desempenho do mercado de ações no próximo ano? Insensato? Não tanto quanto você pensa – o Indicador teve 74% de acerto (40 dos últimos 54 anos). Essas são probabilidades mais altas do que você pode obter apostando no cara ou coroa.
O princípio por trás do Indicador do Super Bowl é simples: se a National Football Conference (NFC) derrotar a American Football Conference (AFC) no Super Bowl, o mercado estará em alta no próximo ano. (Ou seja, se o jogador Tom Brady – esposo da modelo brasileira Gisele Bündchen – e os Tampa Bay Buccaneers puderem perturbar Patrick Mahomes e os Kansas City Chiefs, espere um mercado em alta). Há uma exceção notável, no entanto – times AFC, como o Pittsburgh Steelers (um dos clubes originais da NFL, antes duas ligas se fundirem em 1970), é considerado uma equipe NFC.
A teoria foi identificada pela primeira vez em 1978 pelo falecido repórter esportivo do New York Times, Leonard Koppett, que entendeu que a correlação entre o vencedor do Super Bowl e o desempenho do mercado de ações significava “absolutamente nada”. Ele pediu desculpas por adotar e insistir no Indicador do Super Bowl no mainstream, classificando-o como uma “racionalidade embaraçosa”. Em 2001, durante uma sequência de derrotas de vários anos, Koppett declarou que a ideia estava morta.
LEIA MAIS: Tudo sobre finanças e o mercado de ações
Mas os investidores e jogadores esqueceram essa parte. Entre os que pegaram o manto que Koppett nunca quis usar, estava Robert Stovall, um veterano analista de Wall Street e investidor estratégico. Após a morte de Koppett em 2003, Stovall se tornou o guardião do Indicador do Super Bowl, muitas vezes escrevendo sobre a precisão do indicador com dicas de investimentos em artigos.
Em 2015, ao completar 90 anos, Stovall passou o legado para seu filho, Sam, estrategista-chefe de investimentos da CFRA Research. O jovem Stovall, que se identifica como o “guardião da superstição”, agora registra obedientemente o resultado do Super Bowl e o desempenho do mercado 12 meses depois em uma planilha Excel. Ele analisa os números e atualiza as probabilidades do indicador do Super Bowl.
Mas para ser justo, Stovall não leva a teoria a sério. “Não acho que alguém em sã consciência usaria o indicador do Super Bowl para iniciar um investimento”, diz ele.
Além da brincadeira matemática, o Indicador do Super Bowl também está em uma sequência de cinco anos de derrotas. Portanto, se o Indicador estiver errado desde 2015, isso significa que a teoria está morta?
“Esse é um exemplo perfeito de correlação sem causa”, diz Sam Stovall.
Ele acredita que embora não haja uma ciência por trás do SBI, seu pai sempre lhe ensinou que “não vale a pena ser um urso” nos investimentos. Os norte-americanos são otimistas por natureza, disse Robert Stovall a seu filho, e se um analista está pessimista e errado, será ridicularizado. Se está pessimista e certo, será odiado. Em outras palavras, Stovall está torcendo por Tom Brady e os Buccaneers (equipe da NFC) neste domingo.
“Eu acredito na reversão para a média”, diz ele. “No minuto em que você desiste de uma estratégia testada pelo tempo é o dia em que tudo começará a funcionar novamente.”
Claro, os apostadores dos esportes não são necessariamente investidores, e o Super Bowl é um dos dias de mais trabalho do ano. Quando o time San Francisco 49ers perdeu para o Kansas City Chiefs, as apostas em torno da partida totalizaram cerca de US$ 6,8 bilhões, de acordo com a American Gaming Association. Ainda assim, é difícil encontrar um apostador que leve o SBI a sério.
O apostador profissional Rufus Peabody diz que o indicador do Super Bowl o faz lembrar da teoria Redskins: se o Washington Football Team (ex-Redskins) vencer seu último jogo em casa, o atual presidente será reeleito. De 1940 a 2000, a coincidência funcionou perfeitamente. No entanto, a partir de 2004, a teoria se inverteu e agora, se Washington vencer seu último jogo em casa, um novo candidato deve vencer as eleições. (Essa inversão funcionou com Obama, Trump e Biden.)
“Isso mostra que se você está procurando relações, você os encontrará”, diz Peabody. “Mas isso não significa certeza de absolutamente nada. A regra Redskin e o indicador do Super Bowl são duas coisas que não estão relacionadas. Não existe nenhum mecanismo onde uma coisa afeta a outra.”
Como jogador profissional, Peabody diz que é fácil ser enganado pela aleatoriedade. “As pessoas tendem a ver padrões quando eles não existem”, diz ele.
O reconhecimento de padrões é exatamente o motivo pelo qual a maioria das pessoas não melhora em suas apostas, acrescenta Ed Miller, um ex-jogador de pôquer que fundou sua própria empresa e vende probabilidades para apostas esportivas. Os jogadores podem ser apanhados por superstições ou sinais que não têm relação com o resultado, ao invés de se concentrarem nos fundamentos de um jogo como o pôquer.
Miller diz que embora nenhum jogador profissional deva prestar atenção a algo tão bobo como o indicador do Super Bowl, ele permanece com a mente aberta em todos os ângulos. “Eu vi coisas nas apostas esportivas que inicialmente disse: de jeito nenhum”, comenta Miller. “Por isso, sempre que alguém traz um ângulo para mim, eu não julgo imediatamente.”
Miller também acredita que Sam Stovall queira mostrar que Wall Street pode ter senso de humor. Contudo, no fundo, ele só quer continuar o Indicador do Super Bowl, pois é uma forma de lembrar o pai, que faleceu em dezembro de 2020, com 95 anos”.
“Acompanho a teoria do Super Bowl simplesmente porque é bom manter vivo o legado do meu pai”, diz Stovall. “Estou fazendo isso por ele. Caso contrário, por que se preocupar em manter o controle sobre um indicador que não tem causa e não funcionou nos últimos cinco anos? ”
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.