O primeiro ano desde o início da pandemia foi um turbilhão nas palavras do CEO da Pfizer, Albert Bourla, que na última semana deu uma série de entrevistas para a imprensa global. Depois das entrevistas, Bourla teve uma longa reunião com o grupo de cientistas, produtores e distribuidores oficiais da empresa, encarregados de disponibilizar 2 bilhões de doses da vacina este ano e passou algum tempo revendo a estratégia corporativa geral da Pfizer.
O sucesso da descoberta da Pfizer continua a ecoar. Também na última semana, Bourla, que tem 59 anos, foi informado que dados de Israel mostraram que a vacina, inventada e desenvolvida em parceria com a BioNTech, foi 94% eficaz contra infecções assintomáticas de SARS-CoV-2 duas semanas após a segunda dose. Mais um sinal de que a vacina da empresa é uma ferramenta excepcional no combate à pandemia. Na semana passada, o próprio empresário recebeu sua segunda dose da vacina em Manhattan, vestindo um boné azul escrito “a ciência vai vencer” e com o cuidado de não furar a fila de vacinação.
“É uma experiência extraordinária para mim”, afirmou o executivo sobre seu último ano liderando a Pfizer. “De repente, a humanidade estava investindo todas as suas esperanças em nós, sem que criássemos expectativas de estar naquela posição. Isso criou uma enorme pressão.”
Bourla e a Pfizer receberam elogios de todo o mundo pelo que realizaram: fornecer uma vacina revolucionária para o novo coronavírus em menos de um ano. O presidente dos EUA Joe Biden recentemente visitou a fábrica da empresa em Michigan apenas para agradecer à companhia que desenvolveu a primeira vacina contra Covid-19 autorizada pela Food and Drug Administration (FDA, na sigla em inglês), órgão equivalente à Anvisa no Brasil.
Mas há quem não aprecie os esforços da Pfizer para encontrar uma solução científica para o vírus: os investidores do mercado de ações. Apesar da projeção da farmacêutica de que a vacina vai gerar US$ 15 bilhões de receitas este ano, as ações da Pfizer estão sendo negociadas no mesmo valor de antes da pandemia, mesmo com o mercado de ações crescendo. Na realidade, as ações da companhia caíram 15% desde que Bourla começou sua corrida para o topo da Pfizer em janeiro de 2019.
É evidente que a Moderna se tornou a favorita do mercado de ações. A pequena empresa de biotecnologia que desenvolveu a segunda vacina do coronavírus aprovada nos Estados Unidos – usando a mesma tecnologia de ponta que a Pfizer -, viu suas ações crescerem 529% na pandemia. Com a vacina da Covid-19 como seu único produto comercial, a capitalização de US$ 56 bilhões da Moderna é quase um terço da avaliação da Pfizer, gigante do mercado. A BioNTech, a pequena empresa alemã de biotecnologia que é parceira da Pfizer no desenvolvimento da vacina, também viu seus papéis dispararem.
Quando você está ajudando a salvar o mundo de uma crise sanitária global, você não consegue agradar a todos. “Eu estou frustrado”, afirmou Bourla. “Nós merecemos o crédito, mas o atual preço da ação é uma grande decepção.”
Quando Bourla se sente desanimado com o assunto, ele se lembra das palavras de Ian Read, o CEO que o antecedeu na Pfizer, que lhe diria que entregar resultados aos acionistas era uma maratona e não uma corrida.
Os investidores da empresa na Bolsa, é claro, não são os únicos que Bourla precisa prestar muita atenção atualmente. Com a vacina, ele assumiu uma grande responsabilidade que não é fácil de administrar. A política de fabricação e distribuição da Pfizer tem sido repleta de compromissos e o CEO escuta de diferentes líderes de países reclamações de que não estão recebendo as doses com a rapidez necessária. Contudo, distribuir a vacina é algo que pode se resolver mais rapidamente do que os problemas da farmacêutica com o mercado.
Bourla se tornou CEO da Pfizer durante um período de transição. Em novembro, a empresa completou o spin-off de seu grande negócio de genéricos Upjohn, que vende produtos como Viagra, Lipitor e Lyrica, cujas patentes foram canceladas. O desinvestimento foi a última parte de um plano de muitos anos que Bourla ajudou a promover para transformar a Pfizer, de um conglomerado farmacêutico diversificado, em um negócio de inovação científica que iria viver ou morrer de sua capacidade de desenvolver novos medicamentos da marca.
Entrando na pandemia, a Pfizer administrou cuidadosamente a expiração da patente do Lyrica, um medicamento para o tratamento de dor que gerou até US$ 5 bilhões em vendas anuais. A companhia foi capaz de continuar a aumentar sua receita a US$ 41,9 bilhões em 2020, e parece estar no caminho certo para cumprir sua promessa de fazê-la crescer 6% ao ano até 2026. Mesmo assim, vai perder a proteção de patente e a exclusividade no mercado de remédios que representaram até US$ 20 bilhões em vendas na última década, e que capturaram o foco de Wall Street. Esse episódio de “precipício de patentes” é um problema sério que os CEOs de farmacêuticas frequentemente enfrentam.
Até agora, a vacina contra a Covid-19 não ajudou Bourla nesse quesito. A Pfizer pode acabar gerando mais de US$ 15 bilhões de receita em 2021 com a vacina, e talvez US$ 4 bilhões em lucro. No entanto, os operadores do mercado não se importam tanto com esses números, ainda que eles estejam entre os maiores (números) já gerados por um produto biofarmacêutico em um único ano, tudo porque Wall Street não espera que essa performance financeira seja repetida.
“É isto, US$ 15 bilhões e no próximo ano nada, esse é o valor que estão apostando em nós”, disse Bourla. “Esse não é o caso. Não há como ter certeza sobre essas coisas, mas a probabilidade de passarmos por novas campanhas de vacinações anuais contra Covid é muito provável.”
O CEO tem razão. Para aumentar a resposta imune ao vírus e proteger contra variantes, parece plausível que a Pfizer tenha uma alta demanda futuramente. Este ano, a farmacêutica está cobrando o preço da pandemia (US$ 19,50 por dose nos EUA), o que é uma pechincha em comparação com o custo normal de uma nova vacina. O preço pós-pandemia pode ser bem mais alto, uma dose da vacina contra HPV da Merck, a Gardasil, custa mais de US$ 200.
Se a pandemia foi um teste para a Pfizer, a companhia foi aprovada com louvor. Também existem outras razões para ser otimista. As marcas Vyndaqel e Vynamax, usadas para tratar uma condição rara que leva à insuficiência cardíaca, viram suas vendas crescer em 170%, a US$ 1,3 bilhões no último ano e as perspectivas são muito promissoras. Já uma droga experimental para o tratamento da dermatite atópica deve gerar US$ 3 bilhões e pode ser aprovada pela FDA em semanas. O pedido da empresa para sua mais nova vacina pneumocócica conjugada, a espinha dorsal de seu enorme negócio de vacinas, recebeu revisão prioritária da FDA para uma potencial aprovação para adultos em junho.
Ao todo, a empresa traçou um caminho para US$ 15 bilhões em novas receitas até 2025 e isso não inclui o que Burla espera fazer na área de vacinas com a já comprovada plataforma de RNA mensageiro, base da vacina do novo coronavírus. Mesmo sem mRNA, o CEO está entusiasmado com o que a empresa pode realizar com algumas de suas vacinas experimentais, que vão desde a prevenção contra de infecções por clostridium difficile à doença de Lyme e infecção pelo vírus respiratório sincicial em bebês, que a Pfizer espera prevenir com a vacinação de mães grávidas.
No entanto, haverá contratempos. No último ano, o Ibrance, medicamento de sucesso para o câncer de mama metastático da Pfizer falhou em um ensaio clínico importante para o câncer de mama inicial, mas Bourla acredita que a empresa se planejou estrategicamente para esse tipo de decepção.
“O que mais me entusiasma com o nosso pipeline é que ele é muito diverso, não são um ou dois produtos que são os grandes lançamentos”, disse Bourla.
As conversas nos conselhos de administração sobre como contribuir para a sustentabilidade e o impacto social – e não apenas transformar US$ 1 de valor para o acionista em US$ 10 – também estão no radar do CEO da Pfizer. A empresa produziu uma vacina que está contribuindo muito para a sustentabilidade e o impacto social. Ele está convencido de que, para uma empresa biofarmacêutica, o atendimento aos pacientes, à sociedade e aos acionistas deve ser simbiótico e está determinado a prová-lo.
“O maior equívoco interpretativo do modelo de negócios farmacêutico é que tudo o que é bom para o acionista é ruim para os pacientes. Na verdade, o inverso é que é verdadeiro”, afirma Bourla. “No atual modelo da indústria, aquele que foi desenvolvido na última década, e aquele que está claramente evoluindo ainda mais, não há como os acionistas conseguirem qualquer resultado a menos que os pacientes enxerguem algum valor tangível em um produto.”
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