Quase seis meses após o início das negociações dos BDRs (Brazilian Depositary Receipts) no varejo, as ações de empresas estrangeiras já compõem o portfólio de mais de 196 mil investidores na B3. O volume total de negociações com BDRs na Bolsa brasileira somou R$ 12,4 bilhões apenas nos primeiros dois meses deste ano. Já em 2020, os negócios movimentaram R$ 28,6 bilhões, contra R$ 5,1 bilhões em 2019, segundo levantamento de BDRs não patrocinados da própria B3.
O crescimento acompanha a evolução do mercado de capitais brasileiro e reflete o acesso desde outubro de 2020 destes produtos aos pequenos investidores, que encontram nos BDRs a possibilidade de dolarizar suas carteiras sem toda a burocracia envolvida na abertura de contas por pessoas físicas em plataformas de investimento no exterior. Antes, apenas investidores qualificados (pessoas físicas ou jurídicas com aplicações financeiras em valor igual ou superior a R$ 1 milhão) tinham acesso aos BDRs.
A demanda doméstica por esses ativos já é sentida na outra ponta, com o crescimento no interesse das empresas na dupla listagem de suas ações no mercado doméstico. “Há muita liquidez no mercado local, principalmente porque as taxas de juros ainda continuam muito baixas. As companhias estrangeiras têm observado o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro, com forte demanda do varejo e de fundos, tudo isso atrai as companhias estrangeiras”, explica Fabiana Sakai, sócia do Milbank, que ano passado assessorou a listagem da Aura Minerals (AURA33), mineradora com ações negociadas também na Bolsa de Toronto, Canadá.
O IPO da Aura em julho movimentou R$ 790,1 milhões. Antes da mineradora, a última oferta pública de um BDR no Brasil havia sido em 2017. Entre os mais de 650 BDRs listados na B3, apenas quatro são patrocinados, quando a instituição depositária responsável pelo recibo no Brasil é contratada pela própria companhia emissora das ações.
Os recursos aportados em BDRs são majoritariamente provenientes dos investidores institucionais (74,6%), pessoas físicas (19,4%), não residentes (4,9%) e pessoas jurídicas não financeiras (1,1%), segundo posição consolidada na B3 em fevereiro. Já na participação no volume negociado no último mês, os não residentes (51,9%) lideram os negócios, seguidos pelas pessoas físicas (24,1%) e investidores institucionais (23%).
“Nos IPOs do ano passado, até outubro mais ou menos, o book (bookbuilding) era todo preenchido por fundos locais”, relembra Fabiana, acrescentando que, agora, a demanda vem de fundos estrangeiros “interessados em estruturar ofertas de BDRs no Brasil para capturar a liquidez por aqui.”
BDRs Top 10
A Tesla (TSLA34), companhia norte-americana de carros elétricos com ações na Nasdaq, lidera a lista dos BDRs mais negociados em fevereiro na Bolsa brasileira, respondendo por 21,1% do total no mês, segundo a B3. Considerando os dois primeiros meses de 2021, o volume movimentado pelos papéis da companhia supera R$ 1 trilhão em negócios domésticos.
Pietra Guerra, equity sales da Clear Corretora, avalia que o crescimento na participação dos BDRs no portfólio dos brasileiros é resultado das possibilidades de diversificação que esses produtos oferecem. “Esses ativos possibilitam que seja investido em empresas que estão no nosso dia-a-dia, como a Microsoft ou a Apple, oferecendo acesso a setores e perfis de empresas que não dispomos na nossa Bolsa”, comenta.
O estudante Caio Lorene, de 24 anos, passou a investir em BDRs em novembro de 2020, como instrumento de hedge (proteção) para sua carteira de investimentos. “Depois de março, quando as Bolsas tiveram uma queda, em especial a brasileira, para os meus ativos de renda variável um fator determinante se tornou a capacidade institucional de um país dar estabilidade para o mercado retomar o patamar pré-pandemia”, comenta Lorene, que adicionou gigantes como Amazon, Microsoft, Apple e Alphabet ao seu portfólio via BDRs.
Além da diversificação, as vantagens dos BDRs, para o estudante, são a praticidade e a liquidez em moeda nacional. Segundo ele, a pandemia abriu uma janela de oportunidade para essas empresas e, enquanto muitos dos seus ativos no Brasil registraram queda em determinados momentos, esses BDRs se valorizaram e conseguiram minimizar os prejuízos do portfólio.
De fato, no que tange à rentabilidade, em 2021 os BDRs estão na dianteira dos ganhos. O índice de BDRs Não Patrocinados-GLOBAL (BDRX), indicador do desempenho médio das cotações dos BDRs não patrocinados na B3, acumula variação positiva em 2021 de 9,33%, contra recuo de 2,35% no índice Bovespa (fechamento de 19/03/2021).
Em fevereiro, o BDR do Twitter (TWTR34) registrou valorização de 68,8%, a maior variação positiva no mês na B3. Em 12 meses até fevereiro, o destaque é o avanço de 717,9% no BDR da Ingersoll Rand (I1RP34), companhia centenária que fornece equipamentos e tecnologia para a indústria.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.