O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, propôs hoje (31) um uso abrangente do poder do governo para remodelar a maior economia do mundo e fazer frente à ascensão da China. Com um plano de mais de US$ 2 trilhões, a novidade rapidamente esbarrou em resistência política.
A proposta de Biden tem como objetivo colocar o setor corporativo dos EUA como financiador de projetos que coloquem milhões de norte-americanos para trabalhar em obras de infraestrutura, bem como no combate à mudança climática e na promoção de serviços sociais, como atendimento aos idosos.
“É um investimento único na América, diferente de tudo que já vimos ou fizemos”, disse Biden em um evento em Pittsburgh. “É grande, sim. É ousado, sim. E podemos fazer isso.”
A segunda proposta legislativa de Biden na casa dos multitrilhões de dólares em seus dois meses no cargo oferece suporte a uma economia abalada pela pandemia do coronavírus. Também promete fortalecer sindicatos e a resiliência do país às mudanças climáticas, objetivos progressistas há muito buscados.
Outra proposta econômica que Biden anunciará em abril pode acrescentar outros US$ 2 trilhões ao custo do projeto.
Juntamente a seu pacote de alívio ao coronavírus – recentemente promulgado -, que tem valor de US$ 1,9 trilhão, o plano de infraestrutura de Biden daria ao governo federal um grande papel na economia dos EUA, respondendo por 20% ou mais da produção anual.
O esforço prepara o terreno para o próximo conflito partidário no Congresso, onde parlamentares concordam amplamente que investimentos de capital são necessários, mas estão divididos quanto ao tamanho total do pacote e a inclusão de programas tradicionalmente vistos como serviços sociais.
A proposta do presidente foi recebida com frieza por conservadores e grandes grupos empresariais.
“Se haverá aumentos massivos de impostos e outros trilhões adicionados à dívida nacional, não é provável”, disse o senador republicano Mitch McConnell, do Kentucky, o líder da minoria, um dia depois de Biden telefonar para informar-lhe sobre a proposta.
PAGANDO POR ISSO
Biden está ignorando sua promessa de campanha de aumentar os impostos para indivíduos ricos, pelo menos por enquanto, sem nenhum dos aumentos esperados na alíquota mais alta do imposto de renda ou na taxa sobre ganhos de capital.
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O plano, em vez disso, aumentaria a alíquota do imposto corporativo, de 21% para 28%, e mudaria o código tributário para fechar brechas que permitem que empresas transfiram lucros para o exterior, de acordo com um documento informativo de 25 páginas divulgado pela Casa Branca.
Biden disse que o objetivo não é “atingir” os ricos, mas lidar com as divisões e desigualdades agravadas pela pandemia.
O plano estenderia o custo dos projetos por um período de oito anos e visa pagar por tudo isso em 15 anos, sem aumentar a dívida do país no longo prazo, disse um importante funcionário do governo.
Neil Bradley, vice-presidente executivo e diretor de políticas da Câmara de Comércio dos EUA, disse que, embora a organização compartilhe do senso de urgência de Biden na infraestrutura, seu plano está “perigosamente equivocado”.
“Nós nos opomos fortemente aos aumentos gerais de impostos propostos pelo governo, que vão desacelerar a recuperação econômica e tornar os EUA menos competitivos globalmente – exatamente o oposto das metas do plano de infraestrutura”, disse Bradley.
O plano inclui US$ 621 bilhões para reconstruir a infraestrutura, como estradas, pontes, rodovias e portos, e um investimento histórico de US$ 174 bilhões no mercado de veículos elétricos.
A equipe de Biden acredita que um esforço dirigido pelo governo para fortalecer a economia pode tornar mais fácil competir com o aumento da concorrência e com uma ameaça à segurança nacional representada pela China.
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Funcionários do governo também expressam seus objetivos no texto do projeto de combate à desigualdade econômica criada pela discriminação racial – um dos pontos, por exemplo, prevê lidar com a poluição do ar que afeta comunidades negras e hispânicas perto de portos ou usinas de energia.
O governo quer que o Congresso separe US$ 400 bilhões para investimento na expansão do acesso a cuidados comunitários para norte-americanos idosos e pessoas com deficiência. A ideia é alcançar trabalhadores “mal remunerados e desvalorizados”.
Há ainda US$ 213 bilhões destinados a construção e reforma de casas sustentáveis e acessíveis, juntamente a centenas de bilhões de dólares para apoio ao setor manufatureiro dos EUA, reforço da rede elétrica do país, aprovação da banda larga de alta velocidade e renovação dos sistemas de água para garantir água potável limpa.
SEGUNDO PACOTE LEGISLATIVO A CAMINHO
Biden está avançando com o projeto de lei enquanto tenta cumprir promessas de fornecer vacinas contra a Covid-19 suficientes para todos os adultos até o fim de maio. A Casa Branca também está lidando com um aumento no número de migrantes na fronteira sul e com as consequências de uma série de tiroteios em massa.
O plano é um dos braços da agenda “Construir Melhor”, e um segundo pacote legislativo deve ser encaminhado em algumas semanas.
A expectativa é que o texto inclua expansão na cobertura do seguro saúde, extensão de benefícios fiscais infantis e licença familiar e médica remunerada, entre outros esforços voltados às famílias.
A presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, sinalizou que espera aprovar o plano de infraestrutura até 4 de julho. No entanto, o prazo pode ser descumprido por conta de restrições.
A disputa já começou, enquanto aliados pressionam pela inclusão de suas prioridades e republicanos sinalizam preocupações iniciais com o tamanho e o escopo do pacote.
Democratas moderados disseram que o pacote deveria ser mais direcionado a projetos tradicionais de infraestrutura para atrair votos republicanos, buscando um retorno à formulação de políticas bipartidárias.
Congressistas liberais querem enfrentar a mudança climática e a desigualdade econômica com recursos que reflitam o tamanho desses desafios. (Com Reuters)
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