A Espaçolaser retomará em 2021 o ritmo de abertura de lojas próprias, buscando no aprendizado de maior digitalização no último ano e na autoestima dos clientes elementos para enfrentar o novo agravamento da pandemia de Covid-19 no Brasil.
“De forma geral, o setor de beleza e serviços é o primeiro a se estabilizar após uma crise, uma vez que os consumidores passam a investir mais em si mesmos”, disse à Reuters o presidente-executivo e sócio-fundador da empresa, Paulo Morais.
Além disso, disse ele, a companhia ampliou a digitalização das vendas, realocou profissionais, equalizou custos, o que melhorou a gestão de aluguéis e contratação de estruturas.
“O primeiro aprendizado foi continuar atendendo clientes e vender com a loja fechada”, disse, referindo-se ao período de medidas mais rigorosas no ano passado para evitar a disseminação da Covid-19, que fecharam serviços não essenciais.
Segundo Morais, não havia atendimento para procedimento com laser, mas as lojas seguiram vendendo. E embora nos primeiros nove meses de 2020 tenha tido prejuízo, o fluxo de caixa continuou positivo.
A companhia não alterou seus prognósticos de receitas para este ano, mas Morais não detalhou, citando a divulgação do balanço do quarto trimestre, no final do mês.
Em 2018, a receita líquida cresceu 73,6%. No ano seguinte, 92,6%. Nos nove meses de 2020, caiu 37% frente ante mesmo período de 2019. Ainda assim, o fluxo de caixa operacional ajustado de janeiro a setembro somou R$ 125,7 milhões, ante R$ 91,4 milhões um ano antes.
“O lockdown hoje é diferente, é pontual, não é no Brasil todo como foi feito (em 2020)”, afirmou o presidente do conselho de administração e sócio-fundador da Espaçolaser, Ygor Moura.
Ele relacionou os picos recentes de novos casos e mortes a eventos como Natal e Ano Novo, além do Carnaval. “Não vamos ter outros eventos pelo menos, assim esperamos, antes de a vacina conseguir de alguma forma contornar essa situação.”
O Brasil teve na quarta 1.910 novas mortes em por causa d Covid-19, renovando o recorde diário de óbitos, enquanto São Paulo, Estado mais afetado pela pandemia, volta à fase mais restritiva do plano de quarentena a partir de sábado. E não há sinais de que a vacinação no país acelere no curto prazo.
Aquisição de franquias
Criada há 16 anos, a Espaçolaser estreou na bolsa há um mês, disparando no pregão de estreia, mas perdeu fôlego desde então, em meio ao aumento dos casos de Covid-19, recuando na quarta pela primeira vez para um valor abaixo do preço definido na sua oferta inicial de ações (IPO).
Os papéis fecharam na véspera a R$ 17,88, de R$ 17,90 no IPO e de 23,2% em relação à máxima intradia de R$ 23,28 batida um dia após a estreia em fevereiro.
No IPO, a companhia captou mais de R$ 1 bilhão em recursos líquidos, que serão usados também na compra da fatia restante em controladas da empresa e de 10 franqueadas.
No mercado, houve questionamentos sobre as operações com as franquias, por se tratarem de pessoas próximas a executivos e acionistas relevantes da companhia.
“Será que o preço a ser pago nas franquias do fundador da empresa é justo? Será que o acionista que entrar no IPO está pagando a mais pela compra das franquias?”, perguntou o analista Bruce Barbosa, sócio-fundador da Nord Research, em relatório.
Sergundo os executivos, isso acontece porque a Espaçolaser começou como empresa familiar, e alguns familiares ou partes relacionadas se tornaram franqueados. “As primeiras pessoas que acreditaram na empresa foram família e amigos”, afirmou Morais.
Eles ressaltaram, contudo, que houve total isonomia durante as negociações de compra de participações e que muitas das lojas já foram recompradas.
No fim de 2020, a Espaçolaser tinha 572 lojas, presente em todos os Estados do país e no Distrito Federal, além de 1 na Côlombia e 6 na Argentina. Desse total, 195 unidades eram de franquia. O objetivo para comprar franquias é otimizar a estrutura societária e ganhar eficiência para a rede.
Recorrência, controle pulverizado
Dúvidas sobre a recorrência do negócio foram minimizadas pelos executivos, que veem um mercado ainda de forte crescimento para depilação. No Brasil, há 69 milhões de adeptos de algum tipo de remoção de pelos, sendo que apenas 4,9% usam laser.
Um pelo tratado não volta a nascer, porém há a possibilidade do nascimento de novos pelos, especialmente em áreas hormonais, o que exigem sessões de manutenção. Além disso, explicou Morais, a tendência é de que clientes que começam a usar o laser como método aumentem as áreas de depilação.
Há ainda o público masculino, que representa uma parcela pequena do total, mas que vem mostrando crescimento. “Tem bastante base para crescer”, afirmou Moura.
Embora a depilação siga como foco principal do negócio, a companhia explora frentes de crescimento, e outros produtos e serviços no ramo de estética. Além da expansão internacional.
Em 2017, o grupo criou a marca Estudioface de tratamento facial, que em setembro de 2020 tinha 9 franquias e uma loja própria. A empresa também desenvolve hidratante corporal e álcool gel.
Os executivos reforçaram que a gestão não será alterada, buscando acalmar investidores após o IPO diluir a participação dos responsáveis pelo forte crescimento do grupo, com táticas como parcelamento do custo do procedimento, tornando-o competitivo frente a outros métodos depilatórios.
Foram vendedores no IPO, além dos fundadores (incluindo Tito Veiga Pinto), o fundo de investimentos Magnólia e a SMZXP Participações – empresa da qual faz parte a apresentadora Xuxa Meneghel. Após o IPO, as fatias de Morais e Moura passaram a 10% e 15,7%, respectivamente, de 18,39% e 32,65% antes.
Decisões estratégicas, porém, devem seguir protegidas por um acordo de acionistas entre os antigos controladores, assinado antes do IPO. O acordo estabelece reuniões prévias para a definição de voto entre os signatários antes de assembleias. (Com Reuters)
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