Pressionados pelos patamares da taxa de juros, os brasileiros migraram seus investimentos de renda fixa para um espaço antes não explorado por muitos, o mercado de ações, resultando em um crescimento de 92% nos CPFs registrados na B3 apenas em 2020. Mas explorar novas opções de investimentos, com potencial de melhor rentabilidade, é um movimento que por vezes vem acompanhado de dúvidas, desinformação e ansiedade por lucros rápidos.
A deterioração do mercado de trabalho em meio à pandemia e o maior acesso a operações no mercado de capitais foi a porta de entrada no último ano para muitos novos traders. De acordo com dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), as operações no país somavam até agosto do ano passado mais de 486 mil, contra 242 mil de CPFs que fizeram ao menos um day trade em 2019.
Em resumo, o day trade consiste na realização de compra e venda de um ativo financeiro no mesmo dia, apostando na valorização ou queda deste produto, com o objetivo de obter rentabilidade através da operação a partir da análise de tendências de movimentos nos preços. Uma definição não muito simples para muitos brasileiros e ainda mais complexa para quem entra neste mercado, os chamados traders.
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Tito Gusmão, CEO da Warren, explica que o trader é quem obtém renda através dessas operações especulativas no mercado financeiro, mas também afirma conhecer poucas pessoas que conseguem viver exclusivamente da prática. Levantamento da CVM realizado entre 2012 e 2017 apontou que “entre 1,5 mil pessoas que tentaram de fato viver de day-trading por mais de 300 pregões, 91% tiveram prejuízo”.
Na visão de Gusmão, os influenciadores digitais têm impulsionado o movimento em busca de lucro rápido. “Na verdade, os influenciadores que apresentam suas técnicas de trade no YouTube tiram seu real sustento da esperança dos espectadores, vendendo cursos ilusórios de que eles podem se tornar milionários em poucos minutos”, explica. Para o CEO da Warren, quando o assunto é patrimônio, o caminho mais saudável ainda é acumular capital ao longo dos anos e não perder muito dinheiro tentando ficar rico em poucos dias.
A análise é referendada pela professora da FGV (Fundação Getulio Vargas), Myrian Lund, que alerta ainda para o peso emocional da prática, que deixa traders viciados em busca de lucro rápido. “Cerca de 80% acaba perdendo dinheiro ao invés de ganhar. Se fosse fácil, todo mundo fazia”, avalia.
A Forbes elencou alguns mitos e dúvidas comuns quando o assunto é day trade e investimentos financeiros:
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GettyImages A vida não é tão fácil assim
Os especialistas comentam que a prática de day trade se popularizou com influenciadores digitais publicando vídeos de operações rápidas e movimentando grandes volumes de dinheiro. “Como os verdadeiros traders que eu conheço chegaram lá: talvez seja um Neymar da Bolsa, que recebe um toque divino avisando deve driblar para a esquerda, ou seja, qual ação tomar quando está operando… Mas quantos Neymars existem no mundo, quase nenhum, a mesma coisa são os traders”, explica o CEO da Warren.
Myrian chama atenção ainda para o fato de que a renda de muitos traders é originada pela venda de cursos e não das operações em si.
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Reuters/Paulo Whitaker Os fundos e corretoras que fazem trade
Algumas corretoras e bancos no Brasil e no exterior possuem mesas de day trade. No entanto, o CEO da Warren explica que somente alguns fundos têm o direito de fazer operações diárias baseada em margens de risco. “Nós temos o Warren Green, fundo que investe em empresas socialmente responsáveis e temos o direito de fazer. Realmente fazemos? Não, pois mesmo sendo um profissional, é muito difícil prever o futuro e acertar na operação”, comenta Gusmão.
Já a professora da FGV explica que traders em fundos conseguem ter mais sucesso que um operador comum porque “individualmente, existe o fator emocional e a vontade de conquistar mais recursos, o que não existe – ou é muito menor – quando estão operando o dinheiro de terceiros.”
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Getty Images Day trade: além de comprar e vender, é preciso disciplina e estratégia
Para quem deseja fazer da prática de day trade sua fonte de renda oficial, a pesquisadora avalia ser necessário “muita disciplina para sair no momento certo” das operações e evitar “operar diariamente, porque não existem oportunidades todos os dias”, avalia.Nas operações com robôs, Myrian recomenda ainda frieza emocional para agir rápido e não questionar os movimentos, “apenas agir conforme a máquina pede”. Ainda assim, segundo ela, as chances de perdas são maiores do que as de ganhos.
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