O Santander Brasil elevou a estimativa para o crescimento da economia em 2021, citando o maior carregamento estatístico do fim de 2020 e surpresas positivas com dados no início deste ano. A empresa acredita em uma retomada mais forte da atividade no segundo semestre com a reabertura da economia em meio à aceleração na vacinação.
A economista-chefe do banco, Ana Paula Vescovi, elevou de 2,9% para 3,0% a projeção de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano.
Para ela, o “carry-over” deixado pelo resultado do PIB no quarto trimestre de 2020, além de dados melhores que o esperado em 2021, reduzem os riscos de contração da atividade de janeiro e março. Com isso, o Santander passou a ver leve alta de 0,2% no período, ante queda esperada antes de 0,4%. A menor mobilidade em função da pandemia, contudo, afetará os números do segundo trimestre, levando a uma contração de 0,6% entre abril e junho, com viés de baixa.
LEIA MAIS: Banco Central reduz projeção do PIB para 3,6% e vê superávit nas contas externas em 2021
“A retomada de algum grau de estímulos (reedição do auxílio emergencial e previsões de retorno de outros programas), a expectativa de um processo mais acelerado de vacinação e a reabertura da economia no segundo semestre ensejaram a correção da estimativa de PIB em 2021”, afirmou Vescovi, lembrando, porém, que o crescimento do PIB no ano ainda se encontra abaixo do carry-over de 3,6% deixado pelos meses finais de 2020.
A revisão para cima do PIB de 2021 foi acompanhada de um corte de 2,3% para 2,0% no prognóstico para a economia em 2022, que incorporou a expectativa de uma trajetória de política monetária menos expansionista.
Vescovi elevou as projeções para a Selic até 2023, citando “deterioração cíclica” da inflação e possível piora estrutural das perspectivas fiscais – este último fator contribuindo para a elevação da taxa neutra de juros.
A Selic fechará este ano em 5,50% (4,00% antes) e irá para 6,00% em 2022 (4,50% antes), estima o Santander. Em 2023, a Selic atingirá a taxa terminal de 7,00%, 1 ponto percentual acima da previsão anterior. O juro básico está atualmente em 2,75%.
O ponto fiscal citado pela economista reflete a expectativa do Santander de menor poder de ancoragem do teto de gastos, com o foco se voltando para a perspectiva de sustentabilidade da dívida pública.
“Vemos riscos de execução crescentes para o processo de consolidação fiscal”, afirmou Vescovi, estimando déficit primário de 3,2% do PIB em 2021, com melhora gradual do resultado nos anos seguintes.
A economista avaliou que o país está hoje em seu “teste mais difícil” para a política econômica desde a aprovação do teto de gastos, em 2016, e disse que o Orçamento aprovado recentemente é uma demonstração dos riscos fiscais.
“Com eventuais consequências sobre a governabilidade, novamente poderá haver prejuízos para a votação das reformas relevantes para o país, as quais já se encontram prejudicadas pela emergência sanitária”, disse.
“Mantém-se, ainda, a percepção de uma corrida eleitoral antecipada. Ademais, a PEC Emergencial, aprovada em março, embora tenha trazido avanços, não afastou riscos fiscais, pois dependerá de ambiente político favorável para posterior implementação, por exemplo, da redução de benefícios tributários ou da adesão de Estados e municípios aos gatilhos para contenção de despesas”, disse.
Para ela, “nada é mais emblemático” do risco fiscal do que a “oscilação frenética” da taxa de câmbio – que já variou neste ano entre R$ 5,12 e R$ 5,87 reais, contra taxa em torno de R$ 4,30 reais antes da pandemia – e o aumento do prêmio na taxa de juros nominal de dez anos, que saiu de 2% no começo de 2020 para em torno de 4,5% recentemente – próximo ao pico visto na perda do grau de investimento, em 2015.
Pelos cálculos de Vescovi, se estivesse acompanhando seus pares, o real estaria perto de R$ 4,50 por dólar. Com o prêmio de risco embutido na taxa de câmbio e os cenários para os “drivers” da moeda, a projeção para o dólar ao fim de 2021 foi elevada de R$ 5,25 para R$ 5,55.
O dólar era cotado perto de R$ 5,70 reais hoje (1)
real cai 9% em 2021, em termos nominais, e a depreciação da divisa tem amplificado a disseminação do choque de preços do final do ano passado. Nesse contexto, o Santander elevou para 5,0% (3,6% antes) a expectativa para alta do IPCA em 2021 e para 3,7% (contra 3,2%) o número projetado para 2022. Ambos estão acima da meta central para cada ano: 3,75% e 3,50%, respectivamente.
“Caminhamos gradual e silenciosamente para um quadro de persistência da dívida pública em níveis muito altos e de financiamento de mais gastos públicos com mais inflação”, disse Vescovi. “Nossas estimativas nos levam a crer que uma taxa Selic estrutural acima de 7% já seria condição suficiente para gerar um cenário de dívida explosiva e de dominância fiscal”, completou. (Com Reuters)
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.