O Citi reiterou expectativa de que o dólar voltará a subir até o fim do ano para R$ 5,58, justificando a previsão pela leitura de que o Brasil seguirá com uma conta financeira do balanço de pagamentos pressionada, que mais do que compensará o superávit previsto para a conta corrente.
Thais Ortega, Leonardo Porto e Paulo Lopes, que assinam relatório publicado hoje (27), explicaram que existe evidência empírica sugerindo haver feedback da conta financeira para a taxa de câmbio e da taxa de câmbio para a conta corrente.
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Por essa lógica, riscos domésticos e choques globais geram saídas de capital refletidas na conta financeira, o que normalmente leva a um real mais fraco. Essa taxa de câmbio mais depreciada, por outro lado, beneficia a conta corrente, uma vez que aumenta a competitividade do Brasil num ambiente de recuperação econômica global e valorização das commodities.
“Portanto, vemos espaço para um real desvalorizado no final do ano mesmo com superávit em conta corrente”, disseram.
Os profissionais lembram que durante o “boom” das matérias-primas anos atrás o real se valorizou junto com melhora da conta corrente, o que pode ter criado uma falsa interpretação de que performances positivas nas transações correntes necessariamente resultariam numa taxa de câmbio mais forte.
No entanto, eles lembram que nesse período a conta financeira também mostrou números mais robustos num mundo de juros mais altos, demanda agregada nas máximas e aversão global a risco nas mínimas, o que beneficiou o balanço de pagamentos do Brasil de todos os lados.
Para este ano, a conta financeira seguirá patinando, segundo o Citi, o que explica a expectativa de real mais fraco. Os profissionais do banco citam que os empréstimos intercompanhia mal têm compensado a redução dos reinvestimentos pelas empresas e que o investimento direto no país (IDP) até vai se recuperar ante 2020 (subirá de US$ 34,2 bilhões para US$ 44,1 bilhões), mas seguirá distante da média de US$ 80 bilhões entre 2010 e 2019.
Além disso, do lado dos investimentos em carteira, ainda há impactos decorrentes dos fatores domésticos e externo de incerteza. O Citi lembra que o índice do dólar contra uma cesta de moedas globais deverá subir mais neste ano, diante de perspectivas de normalização monetária nos Estados Unidos, o que eleva riscos de novas saídas de capitais do Brasil.
“Ao contrário das perspectivas atualmente construtivas para a conta corrente, os fundamentos macroeconômicos (taxas de crescimento mais baixas, taxas de juro mais baixas, maior avaliação do risco, perspectivas de fortalecimento do dólar à frente) dificultam um melhor desempenho da conta financeira, especialmente nos investimentos de carteira.”
“Em outras palavras, significa menos recursos financeiros externos entrando na economia e reforça nosso cenário de dólar a R$ 5,58 até o final de 2021”, concluiu o Citi.
O dólar à vista era negociado em torno de R$ 5,27 nesta quinta. (Com Reuters)
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