No último ano, o mercado pet movimentou mais de R$ 40 bilhões em território brasileiro e cresceu 13,5% em relação a 2019. Os dados são do Instituto Pet Brasil, que considera o comércio de alimentos e de produtos veterinários como os principais responsáveis pelo sucesso do setor. Priscila Manfrim, diretora administrativa da Special Dog Company, vivenciou de perto o cenário promissor de itens para animais de estimação: em 2020, a empresa registrou, pela primeira vez, R$ 1 bilhão de faturamento.
Diante da realidade que estamos vivendo – com a pandemia de Covid-19 e o isolamento social, que impactaram vários setores da economia -, os números surpreendem. No entanto, a alta do segmento faz muito sentido. Com quase 142 milhões de animais de estimação, o Brasil é hoje o terceiro país no ranking de consumo de produtos pets, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. E, durante o confinamento, período no qual as pessoas estão passando muito mais horas em suas casas, o apego aos mascotes apenas cresceu – tendência que promete continuar nos próximos anos. Segundo dados da consultoria Euromonitor, a expectativa é de que, até 2025, o mercado pet tenha uma expansão de 42,7% no Brasil.
Para quem investiu no setor, as projeções são recebidas com entusiasmo. Priscila, que cresceu junto com a Special Dog Company, uma empresa familiar, orgulha-se da visão que seu pai e seus tios tiveram em 2001. “Naquela época eles já enxergavam que este era um segmento em ascensão. Como tinham a extrema urgência de sustentar a família, decidiram mergulhar no negócio”, conta a executiva. A decisão não foi sorte de principiante. Na realidade, a família já havia tentado empreender diversas vezes, sem sucesso.
“Meu avô, em 1967, criou o Grupo Manfrim, que atuava na produção de itens como café, arroz, cereais e farinha”, revela. “A tentativa não deu certo, mas a gota d’água foi o desenvolvimento de um xarope de arroz que seria matéria-prima para uma cervejaria. Na época, meu pai e meu tio já estavam na operação e contam o quanto o negócio foi frustrante.” Após 36 meses de tentativas, a família decidiu fechar as portas e tentar outro setor. Os empreendedores ouviram dizer que o mercado pet tinha grandes chances de crescer. Preocupados com o provimento dos filhos e sem mais nada a perder, decidiram seguir em frente.
Na infância e na adolescência, Priscila acompanhou o crescimento da marca, que finalmente levou a família ao sucesso nos negócios. “Faltava expertise e know-how na época, mas fomos crescendo com o mercado, num processo de tentativa e erro. Tentando acertar mais do que errar, claro”, diz, com bom humor. “Esse é um lema que a gente carrega até hoje, mesmo após 20 anos de história. Talvez seja o motivo do faturamento de R$ 1 bilhão ou, talvez, ele tenha acontecido graças ao equilíbrio dos nossos pilares principais – o relacionamento com parceiros, colaboradores e clientes.”
Fundada na cidade de Santa Cruz do Rio Pardo, no interior de São Paulo, a Special Dog Company começou com uma pequena planta para a fabricação de alimentos para cães e gatos. Com o crescimento da marca, a demanda de consumo começou a exigir uma produção maior e mais eficiente, o que fez com que os fundadores investissem em um espaço muito mais amplo. Atualmente, a sede da empresa conta com quatro fábricas de alimentos secos e uma de alimentos úmidos – essa última inaugurada apenas em 2019, após um investimento de R$ 80 milhões.
Como parte do plano de expansão, a empresa também investiu num centro de distribuição em Curitiba (PR), que ajuda no processo de entrega dos produtos no sul do país. “O Paraná é o nosso segundo principal mercado, atrás apenas de São Paulo. Investimos aproximadamente R$ 12 milhões no CD”, conta Priscila. Tudo isso para que a capacidade de armazenamento chegue a 1.500 toneladas.
O objetivo não é nenhum exagero. Embora a marca ainda não entregue no Brasil inteiro, atuando apenas em sete estados e no Distrito Federal, o potencial de exportação exige alta produção e armazenagem. “Desde 2015 vendemos nossos produtos secos para países como Estados Unidos, Cabo Verde, Serra Leoa, Bolívia e Chile. No último mês, iniciamos a exportação dos produtos úmidos, começando pela América Latina.” Os esforços da equipe, que já conta com 1.500 colaboradores, são notáveis, mas Priscila destaca a importância de uma boa liderança para alcançar resultados positivos.
RESPONSABILIDADE E PROPÓSITO
Segundo Priscila, o Brasil conta, atualmente, com 170 fabricantes de alimentos para pets em operação em seu território. Em meio a uma concorrência dessas proporções, principalmente em um ambiente de crescimento acelerado, o segredo para se sobressair, para ela, é nunca estar satisfeito. “Precisamos oferecer um bom serviço, produtos de qualidade e melhorias constantes. A preocupação com nossa cadeia produtiva, por exemplo, é um diferencial. É nossa equipe de logística que entrega os produtos, o que se reflete na qualidade da prestação do serviço”, conta.
Para a executiva, entregar em apenas sete estados com excelência é melhor do que atender ao Brasil inteiro de forma desorganizada. “Aos poucos, estamos evoluindo e automatizando os nossos processos.” Após duas décadas, a pressa não faz parte da essência da companhia. “Somos uma empresa familiar. Temos um sentimento extra ao querer fazer o negócio evoluir. É uma mescla de responsabilidade e propósito para que sejamos fiéis aos valores que tivemos desde o início.”
De certa forma, é mais fácil transmitir a essência em uma empresa pequena do interior, com apenas 50 colaboradores, do que em uma grande corporação, com extenso quadro de funcionários. E é por isso que Priscila diz que a paciência faz parte da sua forma de liderar. “Queremos que o nosso primeiro centro de distribuição seja uma extensão do nosso parque industrial, uma parte da nossa família”, destaca, revelando que a valorização dos funcionários é um dos principais pilares da companhia, responsável pelo prêmio Great Place to Work conquistado em 2019.
Priscila, que começou a trabalhar na empresa em 2017 como estagiária, enxerga com bons olhos sua primeira experiência profissional. “Eu era bem jovem, mas lembro da dificuldade dos meus familiares na criação da empresa. Agora eu sei que assistir a isso de perto foi uma experiência enriquecedora. Não é algo que deu certo durante duas décadas inteiras, mas é um negócio que se mantém”, finaliza.
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