A crescente influência da China no cenário mundial ao longo dos anos tem abalado a geopolítica. Um bilionário dos Estados Unidos diz, no entanto, que a generosa expansão econômica do país está criando novas oportunidades para os negócios.
“Economicamente, para nós, isso é realmente ótimo”, diz Mark Lasry, presidente do Avenue Capital Group, sobre a força crescente do país. “O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) deles foi às alturas. Tudo está crescendo lá fora”, diz Lasry.
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“Por causa do crescimento, acho que vamos acabar performando muito bem. Portanto, pelo que estamos observando, acho que agora é um ótimo momento para investir na China.”
Lasry, que possui uma fortuna de US$ 1,8 bilhão, segundo a lista dos bilionários em tempo real da Forbes, falou na última quarta-feira (12) em um painel de discussões sobre o “comércio transfronteiriço e tendências de investimento”, em um fórum online intitulado “Possibilidades: Relações EUA-China na Nova Era” da organização Comitê de 100. O Comitê, com sede nos EUA, tem como objetivo promover as relações entre os EUA e a Grande China (região que inclui Hong Kong, Macau e Taiwan), bem como a participação dos sino-americanos na sociedade norte-americana. O ex-secretário de Comércio dos EUA, Gary Locke, tornou-se recentemente o presidente da organização. Nem todos os participantes do painel foram tão otimistas quanto Lasry.
O sucesso relativo da China no combate à pandemia de Covid-19 impulsionou sua economia. Após contrair 6,8% no primeiro trimestre do ano passado, durante o pico de impacto da pandemia, o PIB do país foi um dos poucos a se expandir no ano de 2020, ganhando 2,3% no ano inteiro. Ele cresceu 18,3% em relação ao ano anterior, no primeiro trimestre de 2021, um dos melhores desempenhos de uma economia que agora é a segunda maior do mundo.
Essa recuperação contrasta com outras nações da Ásia. A Avenue Capital tem enfrentado dificuldades em países como “Índia e Austrália, porque eles estão fechados”, disse Lasry. “O país que não fechou é a China. Então, para nós, estamos colocando mais dinheiro lá porque estamos vendo mais oportunidades.”
A empresa visa se especializar em empréstimos na China. “Eu diria que é provavelmente uma das poucas vezes nos últimos anos em que a China está se tornando uma parte muito maior de nosso portfólio”, disse ele. “A razão para isso é todo o crescimento e todas as oportunidades que existem lá.”
“A Ásia costuma ser o lugar onde todos estão focados no que a China está fazendo, e você quer – mais ou menos – ter certeza de que, enquanto a China estivesse crescendo, todos ficariam bem. Mas ainda estava-se muito focado no que estava acontecendo nos EUA e o que o país estava fazendo. Hoje, isso é muito, muito menos ”, disse Lasry. “Antes era centrado nos EUA. Eu diria que quando se está na Ásia hoje, é muito centrado na China. ”
Acerca das áreas de negócios relacionadas ao meio ambiente, ele disse: “pensando bem, os EUA costumavam ter uma posição moral elevada. E não temos isso. Isso é o que, de fato, mudou. É fascinante quando se pensa que a China é um dos maiores poluidores do mundo por causa do carvão e de tudo o que eles estão fazendo, mas eles estão muito focados em carros elétricos e em fazer todas essas coisas que serão benéficas para o mundo. Era possível pensar que, se houvesse um líder nisso, seriam os EUA, mas não é. Isso é realmente triste, porque acho que estamos perdendo essa base moral e um pouco da corrida para os chineses. Mas acho que isso vai continuar.”
“O que você está vendo é que nossa disfunção nos EUA está tendo um enorme impacto sobre parte do que somos capazes de fazer no exterior”, disse Lasry. A China “está tirando grande vantagem disso”, afirmou.
Nascido no Marrocos, a família de Lasry mudou-se para os EUA quando ele tinha sete anos. Ele fundou a Avenue Capital Management com sua irmã Sonia em 1995. A empresa atualmente tem cerca de US$ 10 bilhões sob gestão. Lasry é co-proprietário do Milwaukee Bucks; seu filho Alex Lasry anunciou em fevereiro que concorreria ao Senado dos EUA como um democrata contra o republicano Ron Johnson.
A China não está isenta de riscos de queda, no entanto, acrescentou Lasry. “Uma coisa é preocupante, que é o sistema legal. O que nos preocupa é: vamos acabar tendo problemas e, de alguma forma, seremos pegos em alguma confusão política em que, para nosso fundo, teremos que tentar usar o sistema jurídico em nosso benefício, e descobriremos que vai ser difícil.”
Por fim, ele continuou, “chegamos à conclusão de que o risco é mínimo, então vamos correr esse risco”.
Entre outros palestrantes do painel “Comércio e investimento transfronteiriço”, Joyce Chang, presidente de pesquisa global do JP Morgan, também estava otimista com as perspectivas da China. “Nós realmente acreditamos que a China vai se igualar à economia dos EUA em tamanho antes do final desta década. O Covid provavelmente avançou essa linha do tempo entre três a cinco anos”, disse Chang, observando que a China está ganhando uma posição dominante em setores como energia solar e veículos elétricos.
Os investidores “estão sentindo que alguns dos piores cenários que poderiam ter ocorrido sob a administração Trump não devem avançar”, disse Joyce.
O cientista político Ian Bremmer, presidente e fundador do Eurasia Group, foi menos otimista quanto às perspectivas entre os EUA e a China. “Não sou otimista a curto e médio prazo quanto à trajetória geral da relação EUA-China”, disse Bremmer. “O ponto mais importante é o aspecto tecnológico. Isso porque, nos últimos 10 anos, a China passou de muito pouca capacidade para o status de superpotência mundial. Eles estão, em grande parte, imitando os Estados Unidos no desenvolvimento de tecnologias-chave”, como IA (Inteligência Artificial), reconhecimento facial e carros sem motorista. “Isso é extremamente importante.”
“Biden, no final de seus primeiros 100 dias, formulou os US$ 6 trilhões (plano de estímulo) como ‘temos que fazer isso para que os chineses não nos derrotem’. Mas a realidade é que esses US$ 6 trilhões em grande parte teriam sido investidos de qualquer maneira, mesmo que a China não existisse – era uma lista de desejos dos democratas. Não é como se Biden estivesse realmente investindo esse dinheiro em ‘vamos pensar em como garantir que realmente maximizemos nossa competitividade em relação à China’. Existem muitas outras questões políticas internas em andamento”, disse ele.
Bremmer continuou considerando que, se você olhar para o plano de cinco anos da China, é sobre o investimento na capacidade do mercado doméstico do país e em tecnologias críticas de cadeia de suprimentos. “Por que? Porque por 50 anos, a promessa dos Estados Unidos e de nossos aliados foi: ‘China, se você entrar em uma cadeia de abastecimento global integrada, todos ficaremos ricos’. E isso, em geral, funcionou para nós; funcionou para eles. Não funcionou para a classe média americana – é uma história diferente, mas é em grande parte uma falha política americana, não é uma falha chinesa. ”
“Agora… estamos dizendo, ‘Huawei, o campeão nacional de tecnologia para a China continental, na verdade, vamos colocar controles de exportação sobre você. Seu material é de uso duplo. Vamos tentar incapacitá-lo em termos de semicondutores e outros aspectos do seu negócio, porque não queremos que você se integre à economia global.’ E os chineses estão aprendendo lições muito importantes disso. Então, primeiramente, as partes mais inovadoras e avançadas da economia global são cada vez mais as partes que estão realmente se dividindo em duas – ‘a internet fragmentada das coisas’, como é chamada. Esse é o perigo imediato. ”
“O perigo de longo prazo”, afirmou o cientista político, “é que, se tivermos uma geração inteira de pessoas no Ocidente que estão em seus iPhones e seus ecossistemas de dados inteiros são apenas orientados para outros no Ocidente – e essa é a informação que eles digerem e os filtros que afetam suas informações enquanto consumidores e cidadãos, e os chineses estão em um ecossistema de dados completamente separado, é assim que vocês acabam se odiando. É assim que vocês acabam se desumanizando.”
“Já vemos isso acontecendo em certo grau nos Estados Unidos entre a direita e a esquerda, mas nessa situação ainda nos relacionamos individualmente”, disse Bremmer. “Com chineses e americanos enquanto cidadãos, isso está acontecendo cada vez menos”.
“Portanto, a longo prazo, acredito que estou, como cientista político, consideravelmente mais cético e preocupado do que a maioria dos economistas estaria.”
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